Com biossensor e saliva, tecnologia brasileira identifica COVID em 15 segundos
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
No Brasil, o número de novos casos da infecção do coronavírus SARS-CoV-2 voltou a cair, o que não significa que a doença seja um problema controlado. Com a média de 44 mil casos diários da COVID-19, o país deve se manter alerta e investir mais na testagem em massa, controlando possíveis surtos. Nesse cenário, pesquisadores brasileiros avaliam um novo teste open source feito com um smartphone, a partir da saliva do paciente.
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O aperfeiçoamento e a validação do novo teste da COVID-19, de baixo custo, são feitos por uma equipe de pesquisadores do CTI-Renato Archer, vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), da empresa de biotecnologia brasileira Visto.Bio e da startup Crop, associada à UNESP de Botucatu.
Para entender os detalhes sobre a iniciativa que deve ser open source, o Canaltech conversou com Renan Serrano, CEO e fundador da Visto.Bio. Adiantamos que, para o pesquisador, a iniciativa surgiu para solucionar a questão da desigualdade no acesso ao diagnóstico da infecção por coronavírus. "É um problema de saúde pública, mas quem tem acesso é quem tem dinheiro para fazer um RT-PCR ou um teste de farmácia", explica.
Como funciona o teste?
Para analisar a presença (ou não) do coronavírus na saliva do paciente suspeito, o teste para a COVID-19 adota um leitor USB (hardware), que se conecta tanto em aparelhos Android quanto em iPhones, e um biossensor descartável (uma espécie de chip GSM). “Quando você coloca a amostra [da saliva no chip], ele [o leitor USB] processa o dado para o celular lê-lo e o aplicativo já compartilha o disgnóstico", comenta Serrano.
Isso acontece de forma simples e rápida, porque o chip é carregado com o anticorpo do coronavírus imobilizado. Dessa forma, quando esses anticorpos entram em contato com uma amostra da saliva infectada, eles se ligam imediatamente aos fragmentos do vírus da COVID-19, fornecendo o diagnóstico no celular a que o leitor USB está conectado.
Em detalhes do processo, o teste é preparado para detectar a proteína S (spike) do coronavírus, que está presente em sua membrana viral e é o principal alvo das vacinas disponíveis. Quando essa parte do agente infeccioso reage com o anticorpo nas nanoestruturas do sensor, isso fornece um sinal elétrico característico e que deve ser lido pelo dispositivo em 15 segundos.
Segundo os desenvolvedores, o teste tem uma precisão acima dos 80%, enquanto o RT-PCR — exame considerado padrão-ouro na pandemia do coronavírus — alcança 70%. "Testamos [a tecnologia] no Hospital das Clínicas [da Faculdade de Medicina de São Paulo] e o resultado foi tão preciso quanto um PCR, só que a diferença é que o resultado é dado em 15 segundos", afirma Serrano. Até o momento, estes resultados não foram detalhados e revisados por pares em publicação científica.
Chip universal
A vantagem da nova tecnologia brasileira é que ela poderá ser aplicada na identificação e diagnóstico de outras doenças, o que deve facilitar tratamentos, principalmente na rede pública, já que todo o seu processo envolve baixos custos. “Esse chip é uma base universal; posteriormente à COVID-19, conseguiremos adaptá-lo para outras doenças", aposta o CEO.
Inclusive, a origem dos estudos para o projeto com o biossensor não está ligada ao coronavírus, mas a doenças tropicais, como a dengue o zika vírus, ambas transmitidas pelo mosquito infectado do Aedes aegypti. Este estudo inicial já era desenvolvido pela equipe do CTI-Renato Archer, mas foi adaptado para atender as demandas da pandemia da COVID-19.
Tecnologia open source
Para Serrano, é possível fazer um paralelo sobre o futuro do novo teste da COVID-19 com os medidores de glicemia, disponíveis na farmácia. Nesses kits, há um hardware e algumas agulhas para a coleta da amostra. "Antigamente, era muito caro e, hoje, por R$ 100, você compra o dispositivo e é possível medir diariamente", comenta.
Com investimentos e produção em larga escala, os desenvolvedores apostam que o teste poderia alcançar um custo de R$ 100,00 para o leitor USB e de R$ 5,00 a R$ 10,00 para o chip descartável. Dessa forma, pode ser uma alternativa viável para o diagnóstico mais acessível da COVID-19.
"A ideia é que o produto se pareça com essa dinâmica de uso [do teste de glicemia], mas que a gente consiga abrir a plataforma dele para que seja open source", completa Serrano sobre o projeto que busca impulsionar a testagem em massa da COVID-19. Inclusive, até o momento, esta é uma prática pouco comum no combate à doença no Brasil — muito diferente de outros países, como a China, por exemplo, que chegou a testar milhões de pessoas em um intervalo de dias, como forma de conter surtos.
Quem se interessou pelo teste pode entrar em contato com os responsáveis e ajudar nesta fase final de validação, acessando aqui.