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Afinal, existe um soro da verdade?

Por| Editado por Luciana Zaramela | 09 de Outubro de 2021 às 19h00

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Rubenchase/Envato Elements
Rubenchase/Envato Elements

Evitar mentiras e ter a certeza absoluta que uma pessoa está falando apenas a verdade é possível? Por muitos anos, pessoas comuns, cientistas, iniciados nos saberes ocultos e até policiais tentaram encontrar uma fórmula "mágica", através da qual a pessoa não conseguisse mentir e revelasse os seus maiores segredos. No entanto, o desejado soro da verdade ainda não foi alcançado, mas isso nunca impediu diversas tentativas históricas de desenvolvê-lo. 

O consenso da ciência é que, até hoje, não existe uma droga que possa induzir, de forma consistente, um indivíduo a dizer apenas verdades. Só que inúmeras tentativas do tipo já foram realizadas, principalmente por pessoas dos séculos passados, e chegaram a levantar questões éticas e legais sobre o tópico. Em quais situações o tal soro (ou droga) poderia ser usado? É válido o seu uso para um depoimento no tribunal? A pessoa precisa saber que está sob efeito de tal substância?

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Para a maioria destas perguntas, nunca se chegou a um consenso. No entanto, isso não impediu experimentos — não autorizados e nem regulados — com o uso de psicoativos desde a Era Romana (entre os anos 27 a.C. e 395 d.C.).

Tentativas para encontrar um soro da verdade

Dos métodos que se têm notícia, a primeira técnica dependia apenas do uso do álcool, em quantidades e concentrações variadas. Por causa dessa fama da bebida alcoólica revelar as maiores verdades, há inclusive a popular frase, em latim, in vino veritas. Em português, a expressão poderia ser traduzida como: No vinho, está a verdade. A raiz da frase, muito provavelmente, está associada as verdades que são ditas sob os efeitos do álcool, sem que a pessoa possa medir ou raciocinar as consequências. 

No entanto, o fascínio moderno pelos soros da verdade começou no início do século XX. Naquele momento, a escopolamina — medicamento usado ainda hoje no tratamento de dores, cólicas e espasmos — era adotada como anestésico em partos e, curiosamente, ficou conhecida por apagar todas as memórias de quem a usasse, incluindo as lembranças de dor. 

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Em 1916, o obstetra norte-americano Robert House pediu, no pós-parto, a um marido uma balança para pesar o recém-nascido. No entanto, o homem não conseguia se lembrar onde estaria o equipamento. Inesperadamente, a mulher —  no momento, totalmente anestesiada após dar à luz — explicou, precisamente, onde estava a balança. Após este caso incomum, o médico ficou fascinado pelo tema e se convenceu de que a droga poderia trabalhar, de alguma forma, na recuperação de memórias. 

Embora essa ideia nunca tenha chegado ao consenso para a comunidade médica e científica da época, algumas pessoas tomaram o fato como verdade e chegaram a usar a escopolamina para extrair verdades em depoimentos. Nas décadas seguintes, a lista de supostos soros da verdade cresceu e foram incluídos alguns barbitúricos — outros tipos de sedativos —, como o pentotal sódico e o amital sódico. 

Mesmo com resultados questionáveis, essas drogas foram usadas para forçar inúmeras confissões ao longo da história. De forma geral, todos os supostos "soros da verdade" agem de forma que suprimem o sistema nervoso central e colocam os usuários em um estado relaxado e, em altas doses, hipnótico. Nesse ponto, prevalece o entendimento de que é a pessoa tem maior tendência para dizer a verdade do que a mentira. Afinal, mentir envolve elaboração de ideias e de concentração, enquanto a verdade é mais fluída.

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No entanto, como é possível saber se alguém está mentindo ou não? Este é um desafio que intriga as pessoas e, até o momento, não possui uma resposta absoluta, já que diferentes impulsos podem ser controlados, como o nervosismo. Inclusive, o efeito das atuais drogas ou soros da verdade pode ser o oposto: levar os indivíduos a misturarem memórias com um pouco de fantasia e situações sugestionadas pelos inquisidores. Isso porque o sistema nervoso estará sob o efeito de drogas psicoativas durante o depoimento, sendo muito mais influenciável e, portanto, menos confiável.

Fonte: Discover