Risco de diabetes tipo 1 aumenta em crianças que tiveram covid, revelam estudos
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |

As sequelas da covid-19, também conhecidas como covid longa, ainda são, em partes, um mistério para a ciência. Isso porque a maioria dos estudos ainda está em andamento. Nessas circunstâncias, entram as evidências preliminares que associam a infecção pelo coronavírus SARS-CoV-2 com o maior risco de diabetes tipo 1 em crianças. Apesar da aparente relação, os cientistas recomendam cautela e avisam que mais investigações ainda são necessárias.
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Neste mês, um estudo dos Estados Unidos e outro da Noruega identificaram o risco aumentado para o diabetes tipo 1 após casos da covid-19 em crianças. Em julho, pesquisadores escoceses também encontraram esta mesma relação, mas o risco voltava a se igualar um mês depois. Por isso, ainda não se sabe o quão significativo pode ser esse desdobramento da covid longa.
Entenda o que é diabetes tipo 1
Vale explicar que o diabetes tipo 1 é considerado uma doença autoimune, segundo Pamela Davis, pesquisadora da Case Western Reserve University e uma das autoras do estudo norte-americano. "A doença ocorre, principalmente, porque as defesas imunológicas do corpo atacam as células que produzem insulina, interrompendo assim a produção de insulina e causando a doença", detalha em comunicado.
Agora, os recentes estudos indicam que a infecção pelo vírus da covid pode aumentar a intensidade das respostas imunes e, com isso, provoca o aumento de casos do diabetes tipo 1 em crianças.
Covid em crianças e maior risco para o diabetes tipo 1
Nos EUA, a pesquisa identificou que crianças e adolescentes que tiveram covid têm um risco relativo maior de desenvolver diabetes tipo 1 nos primeiros 6 meses após a infecção. No total, foram analisados prontuários médicos de mais de um milhão de voluntários com idades entre zero e 18 anos, sendo que 314 mil foram infectados pelo coronavírus. Além desses, outros 776 mil foram infectados por outros vírus respiratórios.
Publicado na revista científica JAMA Network Open, o estudo liderado por pesquisadores da Case Western Reserve University descobriu que o risco relativo do diabetes era 72% maior para pacientes que tiveram a covid-19. Para os que tinham até um ano, o risco médio foi um pouco maior.
"O aumento do risco de DM1 [diabetes tipo 1] de início recente, após a covid-19, adiciona um elemento importante para as discussões de risco-benefício para prevenção e tratamento da infecção por SARS-CoV-2 em populações pediátricas", explicam os autores do estudo.
Resultados da Noruega confirmam a relação com a infecção
Pesquisadores do Instituto Norueguês de Saúde Pública analisaram os efeitos dos dois primeiros anos da pandemia da covid (2020 e 2021) em crianças norueguesas. No total, 1,2 milhão de participantes com até 18 anos foram incluídos na pesquisa — que foi apresentada, na última semana, durante a Reunião Anual da Associação Europeia para o Estudo do Diabetes (Easd). Até o momento, o estudo não foi publicado em uma revista científica.
Ao analisar os dados, os cientistas observaram que, passado um mês do caso de covid-19, 0,13% das crianças desenvolveram o diabetes tipo 1. Em indivíduos infectados por outros vírus respiratórios, a incidência era de 0,08%. Em ambos os casos, a relação é baixa, mas os pesquisadores alertam para o risco relativo de 63% após infecções pelo coronavírus. Novamente, destacam que o tópico deve ser melhor acompanhado.
Contraponto das recentes descobertas sobre a covid longa em crianças
Para contrapor os dois estudos recentes, pesquisadores da Universidade de Edimburgo e da Saúde Pública da Escócia observaram, em suas análises, que o risco aumentado para o diabetes tipo 1 é momentâneo em crianças que tiveram a covid-19. Inclusive, ele poderia ser explicado por outras causas ainda desconhecidas.
Publicado na revista científica Diabetes Care, em julho, o estudo analisou os prontuários médicos de 365 mil crianças e adolescentes que testaram positivo para a covid-19. A infecção pelo coronavírus foi associada a uma taxa de diabetes 2,5 vezes maior que a de participantes não infectados e 3 vezes maior em crianças menores de 16 anos, mas esse risco aumentado se estabilizava após um mês. Dessa forma, mais estudos ainda são necessários.
Fonte: Cidrap, JAMA Network Open e Diabetes Care