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Quais danos a COVID-19 pode causar em assintomáticos?

Por| 24 de Julho de 2020 às 17h30

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Tumisu/Pixabay
Tumisu/Pixabay

Desde que a pandemia de COVID-19 passou a preocupar toda a população, os casos assintomáticos têm sido uma pulga atrás da orelha. No entanto, tendo isso em mente, um estudo de Wuhan, na China, descreveu mudanças patológicas nos pulmões em tomografias computadorizadas feitas em pacientes completamente assintomáticos.

A falta de sintomas não é incomum em outras infecções, mas a diferença com o Sars-CoV-2 é que esse quadro pode ser acompanhado de um dano aos órgãos subjacentes. O que acontece é que esses pesquisadores descobriram lesões com inflamação do tecido pulmonar (opacidade em vidro fosco e consolidação, no jargão médico), que não são específicas da infecção por Sars-CoV-2 e podem ser vistas em muitas outras formas de doença pulmonar, então isso só faz intensificar o mistério.

Quase um quarto dos pacientes no estudo desenvolveu febre, tosse e falta de ar, mas a grande maioria, não. O estudo reforça que a ausência de sintomas não implica a ausência de danos, e a falta de sintomas em uma patologia ativa acarreta riscos tanto para os indivíduos infectados quanto para o restante da população. As recomendações atuais incentivam os pacientes a ficar em casa se forem assintomáticos, ampliando o risco de chegada tardia ao hospital e de morte súbita.

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O problema é que a estimativa é que cerca de 40% a 45% dos pacientes infectados com Sars-CoV-2 são assintomáticos, com carga viral tão alta quanto aqueles que desenvolvem a doença. Enquanto isso, estima-se falsos negativos de até 20% em exames de imagem. Isso leva a um questionamentos sobre a eficácia da estratégia de testes ou o uso de exames como medição de temperatura. Tudo ficará mais claro à medida que a qualidade e a quantidade de evidências se expandirem e refinarem nossa compreensão do Sars-CoV-2.

Assintomáticos: a pulga atrás da orelha

Os pacientes assintomáticos de COVID-19 ainda são responsáveis por questionamentos em especialistas da área da saúde e organizações. Em junho, por exemplo, durante uma entrevista na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), a chefe da unidade de doenças emergentes da Organização Mundial da Saúde (OMS), Maria Van Kerkhove, declarou que pacientes assintomáticos não estão impulsionando a disseminação da COVID-19.

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No entanto, pouco tempo depois, Van Kerkhove negou que haja uma mudança de recomendação e explicou que a OMS não sabe dizer qual é a proporção de pessoas transmitindo o vírus. Ela reconheceu que alguns estudos indicaram disseminação assintomática ou pré-sintomática em casas de repouso e em ambientes domésticos, mas que é necessário fazer mais pesquisas e obter mais dados para responder verdadeiramente à questão. Na ocasião, Michael Ryan, diretor de operações da OMS, também negou que se saiba se pessoas assintomáticas podem não transmitir.

Segundo dra. Maura Salaroli de Oliveira, gerente da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Sírio-Libanês, define-se como pessoa assintomática com COVID-19, o indivíduo que não apresenta sintomas ou sinais clínicos sugestivos de COVID -19, mas que apresenta o teste positivo para detecção do material genético do novo coronarívus (SARS-CoV-2).

"É importante citar a diferença entre assintomáticos e pré-sintomaticos. Os primeiros (assintomáticos) nunca desenvolvem sintomas. Já os pré-sintomáticos são indivíduos que no momento da coleta do exame de PCR não apresentavam sintomas, mas depois de alguns dias os desenvolvem, podendo evoluir para casos leves, moderados ou graves. Em outras palavras, nos pré-sintomáticos a detecção do vírus ocorre no período de incubação, quando o paciente estava prestes a desenvolver os sintomas", explica a especialista. "Assim, no momento em que o teste é positivo em pessoa assintomática ainda não é possível dizer se haverá ou não alguma consequência, sendo necessário observar por alguns dias. A média do período de incubação é de cinco dias e no máximo quatorze dias", completa.

Questionada sobre quais são os tipos de consequências da COVID-19 mais conhecidos até hoje, Maura diz o seguinte: "Nos casos com mais graves, os pulmões são o órgão mais frequentemente acometido. Há casos em que mais de 50% dos pulmões são a afetados o que pode ocasionar insuficiência respiratória com necessidade de oxigenação por método não invasivo e nos casos mais graves é necessário o uso de ventilação mecânica (respirador)".

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A especialista completa que também há casos de acometimento do sistema nervoso central ou periférico, sendo as manifestações mais frequentes a dor de cabeça, tontura, alteração de nível de consciência, anosmia, hipogeusia e ageusia, e que já foram descritos casos com acometimento do coração – provocando arritmias e miocardite, lesões de pele, rins e alterações na coagulação. "Por ser uma doença nova, ainda não há muitos estudos sobre as consequências a médio e longo prazo. Já foi descrito que os casos mais graves, especialmente os pacientes que ficam internados por muitos dias em unidade de terapia intensiva, podem deixar sequelas nos pulmões (fibrose pulmonar), fadiga, e perda muscular, mas ainda não se sabe se estas sequelas serão irreversíveis ou não", conclui.

Fonte: The Conversation