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Proteína encontrada no veneno de peixe pode combater asma e esclerose

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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Imagem: Skitterphoto/Pixabay
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Não é segredo que a fauna e a flora brasileira são extremamente ricas e, em grande parte, pouco conhecidas, com raras exceções. Este é o caso do peixe niquim (Thalassophryne nattereri) e de uma proteína encontrada no seu veneno com potencial para tratar quadros de asma, esclerose múltipla e outras doenças. Há anos, pesquisadores do Instituto Butantan investigam seus possíveis usos.

Para ser mais preciso, desde 1996, os cientistas do Laboratório de Toxinologia Aplicada (LETA) do Butantan investigam a proteína do peixe venenoso, com propriedades anti-inflamatórias e diferentes áreas de aplicabilidade. Tanto é que a partir dela foram produzidos uma série de peptídeos sintéticos, já patenteados, como o TnP.

Mais recentemente, os pesquisadores descobriram que o peptídeo TnP é eficaz no tratamento de asma em modelos animais, como demonstra o estudo publicado na revista científica Cells.

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Conheça o peixe venenoso niquim

Antes de seguir, vale explicar que o peixe niquim é comum nas regiões Norte e Nordeste. Curiosamente, o animal peçonhento é capaz de sobreviver por até 18 horas fora d’água.

Entre os comportamentos da espécie, está o hábito de se esconder em buracos na areia, o que eventualmente provoca acidentes de envenenamento em humanos. A pessoa, sem ver o animal escondido, acaba pisando em seus espinhos, o que libera o perigoso veneno no organismo.

Além da dor aguda, inchaço e sensação de queimação, o local que entra em contato com o espinho apresenta dificuldade de cicatrização. Em alguns casos, há relatos de necrose, especialmente para a população pesqueira e ribeirinha.

A seguir, veja um registro do peixe em seu habitat natural:

Uso da proteína do peixe niquim contra asma

No último trabalho do grupo, os pesquisadores comparam os resultados de três cenários envolvendo camundongos com crise de asma: o uso do peptídeo TnP como forma de controle; o tratamento com o remédio dexametasona, tradicionalmente usado contra a doença; e não tratar o quadro.

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Segundo os autores, o TnP reduziu em mais de 60% o número de células totais que causam inflamação e dano tecidual no pulmão. A medicação também diminuiu em 100% os eosinófilos, ou seja, um tipo específico de célula inflamatória conectada com a asma. Além disso, o peptídeo baixou o nível de obstrução do fluxo aéreo e o muco presente no pulmão. Com isso, é possível dizer que ele é tão bom quanto a dexametasona.

Enquanto o potencial medicamento foi associado com altos índices de controle da doença, os autores afirmam que não foram identificados efeitos adversos. Com as atuais terapias, taquicardia, agitação, dor de cabeça e tremores musculares são alguns efeitos comumente relatados pelos pacientes.

Uso do veneno contra a esclerose múltipla

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Anteriormente, os pesquisadores descobriram em um ensaio pré-clínico que o peptídeo derivado do veneno do peixe niquim é também uma potencial aposta contra a esclerose múltipla. No estudo com camundongos, eles observaram que a molécula atrasa o aparecimento dos sintomas e reduz a gravidade da doença.

Agora, a equipe deve testar a eficácia do peptídeo no tratamento de doenças oculares, também com modelos animais. Até o momento, não há previsão para o início dos testes em humanos.

Fonte: Cells e Instituto Butantan