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Como a medicina transforma o veneno mortal de animais em medicamentos

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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duallogic/envato
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O avanço da medicina tem permitido a descoberta de medicamentos a partir do veneno de cobras e aranhas. À medida que cientistas estudam a fundo essas toxinas naturais, o número de moléculas benéficas destacadas também cresce. Antes, pensava-se que um veneno poderia ter até quatro componentes, mas hoje em dia, a ciência já sabe que pode haver milhares.

O veneno mortal da australiana aranha-teia-de-funil, por exemplo, contém uma proteína chamada Hi1A, que passou a ser utilizada como uma forma de interromper a morte celular após um ataque cardíaco, já que o fluxo sanguíneo é reduzido e torna o ambiente celular mais ácido, o que leva a essa morte celular. A proteína bloqueia a capacidade de sentir o ácido, reduzindo tal efeito.

A composição ainda está em fase de testes, mas se tudo der certo, pode ser administrada por médicos de emergência e pode prevenir os danos que ocorrem após ataques cardíacos, melhorando até mesmo os resultados em transplantes de coração, mantendo o coração do doador mais saudável por mais tempo.

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De qualquer forma, a ciência comprova cada vez mais que o veneno é feito de uma mistura complexa de toxinas, compostas por proteínas com características únicas. Com a evolução biológica, as proteínas celulares específicas que as moléculas do veneno desenvolveram para atingir com precisão são o que tornam tão eficazes os medicamentos derivados delas.

Efeitos do veneno

Enquanto as neurotoxinas atacam o sistema nervoso, paralisando a vítima, as hemotoxinas atingem o sangue. Algumas toxinas também atacam a área ao redor do local de exposição ao veneno. Em paralelo, existem numerosos medicamentos derivados de veneno no mercado, feitos a partir de proteínas extraídas em laboratório.

O captopril, por exemplo, foi criado a partir do veneno de uma jararaca brasileira para tratar a pressão alta. A exenatida é derivada do veneno de uma espécie de lagarto chamado monstro-de-gila e é prescrita para diabetes tipo 2. Existe também um anticoagulante chamado draculina, desenvolvido a partir do veneno de um morcego vampiro, usado para tratar AVC e ataque cardíaco.

Há diversas proteínas de venenos de animais que foram sinalizadas como potenciais candidatas a novos medicamentos, mas os cientistas ainda precisam estudar a fundo essa questão tão delicada. No Brasil, temos o Instituto Butantan, que já desenvolve programas que atendem ao interesse da comunidade em relação a animais e microrganismos venenosos, além de aplicar cursos sobre veneno animal e primeiros socorros

Fonte: Nature (1, 2), GigaScience, Circulation via The New York Times; Fapesp