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Pesquisa da Fiocruz mostra impactos da pandemia da COVID-19 no setor da saúde

Por| Editado por Luciana Zaramela | 24 de Março de 2021 às 14h00

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senivpetro/Freepik
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A chegada da pandemia da COVID-19, há mais de um ano, transformou a vida de 95% dos profissionais da área de saúde, de acordo com a pesquisa Condições de Trabalho dos Profissionais de Saúde no Contexto da COVID-19, realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em todo o Brasil. 

Maria Helena Machado, coordenadora do estudo, diz que a pesquisa mostra todo o sofrimento enfrentado por esses profissionais. "Trabalham em ambientes de forma extenuante, sobrecarregados para compensar o elevado absenteísmo. O medo da contaminação e da morte iminente acompanha seu dia a dia, em gestões marcadas pelo risco de confisco da cidadania do trabalhador, (risco de) perdas dos direitos trabalhistas, terceirizações, desemprego, perda de renda, salários baixos, gastos extras com compras de EPI (Equipamentos de Proteção Individual), transporte alternativo e alimentação", explica.

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Rotina

O estudo mostrou ainda que cerca de 50% dos profissionais relataram terem sofrido de excesso de trabalho, cumprindo jornadas que ultrapassam as 40 horas semanais. Além disso, 45% dos entrevistados afirmaram precisar ter mais de um emprego para conseguir se manter no cenário atual, e 14% das pessoas que trabalham na linha de frente declaram sentir exaustão. 

Os motivos para o cansaço extremo, segundo os profissionais de saúde entrevistados, se devem à quantidade alta de casos diários da doença, assim como o fato de presenciar muitas mortes não só de pacientes, como de colegas de trabalho, amigos e familiares. O resultado do estudo também mostra que 43,2% dos profissionais de saúde não se sentem protegidos no combate à doença, com 23% justificando com a escassez e inadequação do uso dos equipamentos de proteção. Inclusive, 64% dizem que acabam precisando improvisar esses equipamentos.

Cerca de 18% dos entrevistados também relataram sentir medo de se contaminar no ambiente de trabalho; 15% dizem não ter a estrutura adequada para trabalhar; e 12,3% afirmam que os fluxos de internação são ineficientes. A pesquisa conta também que 11,8% disseram ver despreparo técnico de profissionais que atuam na pandemia, e 10,4% denunciaram a falta de sensibilidade dos gestores em relação às necessidades profissionais.

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Saúde mental

A pesquisa da Fiocruz também fala sobre a saúde mental dos trabalhadores da linha de frente contra a COVID-19, com 15,8% dos entrevistados relatando sintomas de perturbação do sono. Além disso, 13,6% afirmaram sofrer de choro frequente, irritabilidade e outros distúrbios, 11,7% disseram ter estresse e dificuldade de relaxar, enquanto 9,2% relataram ter dificuldade na hora de se concentrar e ter o pensamento lento.

Mas os números continuam: aproximadamente 9,1% dos participantes do estudo disseram sofrer de perda de satisfação na carreira ou na vida, além de tristeza e apatia, 8,3% já relataram ter pensamento negativo e suicida, além de sensação negativa em relação ao futuro, e 8,1% disseram sentir alteração no peso e perda de apetite.

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Cerca de 22% dos entrevistados relataram a convivência com um trabalho cansativo, e 16% disseram observar alteração em relação aos aspectos de biossegurança, além de contradições na rotina de trabalho. Além disso, 16% afirmaram também terem percebido uma melhora no relacionamento entre os profissionais das equipes.

Ainda de acordo com a pesquisa da Fiocruz, as mudanças que apareceram nos últimos anos se devem a diferentes fatores, como a falta de apoio institucional (60%), desvalorização vinda da chefia (21%), diversos episódios de violência e discriminação (30,4%) e falta de reconhecimento dos pacientes, quesito no qual apenas 25% dos profissionais estão se sentindo mais valorizados.

O estudo falou ainda sofre a violência sofrida no trabalho, com 40% de relatos de denúncia vinda dos profissionais de saúde. Eles também dizem ter sofrido preconceito pela própria vizinhança, com 33,7% de relatos, e durante o caminho do trabalho até a casa, com 27,6%.

Maria Helena Machado diz que as pessoas consideram um trabalhador de saúde uma pessoa que transporta o vírus, sendo então um risco. "Se não bastasse esse cenário desolador, os profissionais de saúde experimentam ainda a privação do convívio social entre colegas de trabalho, a privação da liberdade de ir e vir, o convívio social e a privação do convívio familiar", conta.

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A pesquisa também trouxe dados sobre a propagação de notícias falsas, com mais de 90% dos entrevistados dizendo que essa disseminação é um obstáculo no combate à pandemia. Aproximadamente 76% dos profissionais de saúde entrevistados disseram que presenciaram pacientes acreditarem em notícias falsas, como o uso de medicamentos ineficazes para o tratamento e prevenção da COVID-19, e 70% dos trabalhadores dizem que as autoridades sanitárias do país não têm posicionamentos considerados "consistentes e esclarecedores".

Perfil dos profissionais de saúde

A pesquisa da Fiocruz conversou com profissionais de saúde de diversas categorias em mais de dois mil municípios, entre residentes e graduandos, como médicos, enfermeiros, odontólogos, farmacêuticos, fisioterapeutas, administradores de hospital, engenheiros de segurança e sanitaristas.

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O estudo acabou mostrando que a maioria dos profissionais são mulheres (77,6%), 44% dos entrevistados têm entre 36 a 50 anos de idade e 38,4% tem até 35 anos. Além disso, 57,7% deles dizem ser brancos, 33,9% pardos e 6% pretos.

A maior parte das equipes é composta por enfermeiros (58,8). Na sequência vem os médicos (22,6%), fisioterapeutas (5,7%), odontólogos (5,4%) e farmacêuticos (1,6%). Cerca de 34,5% dos profissionais atuam em hospitais públicos, 25,7% na atenção primária e 11,2% na rede privada de saúde, grande parte sendo de capitais e regiões metropolitanas.

Fonte: Agência Brasil