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Pequenas pausas ajudam o cérebro a aprender coisas novas, dizem cientistas

Por| Editado por Luciana Zaramela | 02 de Junho de 2022 às 13h05

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twenty20photos/envato
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Cientistas, nos últimos anos, vêm estudando as formas com que o cérebro aprende novas habilidades, e as conclusões apontam para a importância de pequenos descansos entre momentos de prática: ou seja, apesar de a repetição ser uma boa atividade para o aprendizado, ela não deve ser feita incessantemente. A prática — com pausas — leva à perfeição.

Entre os estudos mais recentes na área, destaca-se o que fez a descoberta de que o cérebro faz uma recapitulação do que foi aprendido em alta velocidade, algo que deve reforçar o aprendizado recém-absorvido. Isso é parte das atividades necessárias para transformar a memória de curta duração em memória de longa duração, o que realmente consolida a nova habilidade.

O aumento da produtividade do aprendizado pelas pausas beneficia, em especial, quem está praticando movimentos repetitivos e minuciosos, como quem aprende a tocar um novo instrumento musical ou escrevendo, além de pacientes se recuperando de derrames. Durante as pausas, o cérebro repete o movimento aprendido cerca de 50 vezes mais rápido, várias vezes, reforçando as conexões neuronais das áreas associadas à memória nova.

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Estudos e repetições

Um dos estudos sobre o assunto foi publicado em 2021 na revista científica Cell Reports, e teve até a participação de um cientista brasileiro, Leonardo Claudino. Ele e seus colegas monitoraram a atividade cerebral de 33 voluntários, todos destros, que aprendiam a digitar sequências numéricas no teclado com a mão esquerda. Em 10 segundos, eles deveriam digitar o máximo de sequências possível, fazendo um intervalo de também 10 segundos.

Já se sabia, por estudos anteriores, sobre os benefícios da pausa para a velocidade e precisão da atividade. Agora, o foco era saber o que o cérebro faz nesses momentos. Magnetoencefalografias ajudaram os pesquisadores a descobrir os tais replays, além de verificar que eles acontecem bem rápido: uma habilidade de 2 segundos é repetida no cérebro em questão de milissegundos, bem mais veloz do que se pensava.

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Anteriormente, a ciência sabia que o descanso era necessário para consolidar memórias — transferindo-as do hipocampo, que guarda registros temporários, para o neocórtex, para memórias de longa duração —, mas se acreditava que isso só acontecia durante o sono. Agora, sabemos que as memórias são consolidadas em simultâneo à prática da nova atividade.

Aplicando a prática

Os cientistas acreditam que o benefício das pausas é mais direto na prática de esportes ou performances musicais, mas qualquer pode fazê-las quando estuda algo novo e desfrutar disso. O indicado é pausar antes de praticar até a exaustão ou a falha, dando tempo para o cérebro consolidar a habilidade.

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O que não se sabe é a duração ideal das pausas: enquanto o estudo dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH), o mesmo de Claudino, observou que os ganhos no aprendizado eram maiores quando a pausa tinha duração parecida com a prática, é bom lembrar que ele foi feito em ambiente controlado — sem as variáveis do dia a dia. Isso também depende de variações individuais e da habilidade a ser aprendida.

Outra indicação é se dedicar a outra atividade ou até mesmo nenhuma durante a pausa: não é indicado parar de praticar uma música para tocar outra, já que as áreas cerebrais ativadas serão as mesmas. Segundo especialistas, para estudos, o cérebro tem o modo focado — quando se presta atenção em algo — e o modo difuso — quando está relaxado. A alternância entre eles é importante para um bom aprendizado.

Então, para aprender bem, é preciso fazer uma caminhada após a leitura ou prática, ou sair de um estudo de história para um de outra área completamente diferente, como matemática.

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Recuperação de pacientes com derrame

Agora que há um marcador biológico para o aprendizado do cérebro, os cientistas também julgam que possa haver um benefício aos pacientes que tiveram derrame: um sistema de monitoramento pode ser desenvolvido para momentos de terapia ocupacional do paciente, além de técnicas de neuroestimulação ou neuromodulação, maximizando as repetições da habilidade a ser reaprendida.

Otimizando os intervalos de descanso e o seu timing, será possível fazer com que a reabilitação e rememoração de habilidades sejam mais rápidas nos pacientes. O princípio é o mesmo de um paciente comum aprendendo a tocar piano, por exemplo.

No futuro, a ideia é descobrir como o processo das pausas se diferencia do sono no que tange à consolidação de memórias e habilidades, por exemplo: não se sabe muito sobre isso, apesar de entendermos que são pausas fisiologicamente diferentes. Acredita-se que o sono codifique a memória como um todo, e a pausa rápida registre detalhes mais precisos, como movimento e sinergia entre os dedos — tudo, no entanto, ainda hipotético.

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Fonte: Cell Reports, BBC