Pequenas pausas ajudam o cérebro a aprender coisas novas, dizem cientistas
Por Lillian Sibila Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |

Cientistas, nos últimos anos, vêm estudando as formas com que o cérebro aprende novas habilidades, e as conclusões apontam para a importância de pequenos descansos entre momentos de prática: ou seja, apesar de a repetição ser uma boa atividade para o aprendizado, ela não deve ser feita incessantemente. A prática — com pausas — leva à perfeição.
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Entre os estudos mais recentes na área, destaca-se o que fez a descoberta de que o cérebro faz uma recapitulação do que foi aprendido em alta velocidade, algo que deve reforçar o aprendizado recém-absorvido. Isso é parte das atividades necessárias para transformar a memória de curta duração em memória de longa duração, o que realmente consolida a nova habilidade.
O aumento da produtividade do aprendizado pelas pausas beneficia, em especial, quem está praticando movimentos repetitivos e minuciosos, como quem aprende a tocar um novo instrumento musical ou escrevendo, além de pacientes se recuperando de derrames. Durante as pausas, o cérebro repete o movimento aprendido cerca de 50 vezes mais rápido, várias vezes, reforçando as conexões neuronais das áreas associadas à memória nova.
Estudos e repetições
Um dos estudos sobre o assunto foi publicado em 2021 na revista científica Cell Reports, e teve até a participação de um cientista brasileiro, Leonardo Claudino. Ele e seus colegas monitoraram a atividade cerebral de 33 voluntários, todos destros, que aprendiam a digitar sequências numéricas no teclado com a mão esquerda. Em 10 segundos, eles deveriam digitar o máximo de sequências possível, fazendo um intervalo de também 10 segundos.
Já se sabia, por estudos anteriores, sobre os benefícios da pausa para a velocidade e precisão da atividade. Agora, o foco era saber o que o cérebro faz nesses momentos. Magnetoencefalografias ajudaram os pesquisadores a descobrir os tais replays, além de verificar que eles acontecem bem rápido: uma habilidade de 2 segundos é repetida no cérebro em questão de milissegundos, bem mais veloz do que se pensava.
Anteriormente, a ciência sabia que o descanso era necessário para consolidar memórias — transferindo-as do hipocampo, que guarda registros temporários, para o neocórtex, para memórias de longa duração —, mas se acreditava que isso só acontecia durante o sono. Agora, sabemos que as memórias são consolidadas em simultâneo à prática da nova atividade.
Aplicando a prática
Os cientistas acreditam que o benefício das pausas é mais direto na prática de esportes ou performances musicais, mas qualquer pode fazê-las quando estuda algo novo e desfrutar disso. O indicado é pausar antes de praticar até a exaustão ou a falha, dando tempo para o cérebro consolidar a habilidade.
O que não se sabe é a duração ideal das pausas: enquanto o estudo dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH), o mesmo de Claudino, observou que os ganhos no aprendizado eram maiores quando a pausa tinha duração parecida com a prática, é bom lembrar que ele foi feito em ambiente controlado — sem as variáveis do dia a dia. Isso também depende de variações individuais e da habilidade a ser aprendida.
Outra indicação é se dedicar a outra atividade ou até mesmo nenhuma durante a pausa: não é indicado parar de praticar uma música para tocar outra, já que as áreas cerebrais ativadas serão as mesmas. Segundo especialistas, para estudos, o cérebro tem o modo focado — quando se presta atenção em algo — e o modo difuso — quando está relaxado. A alternância entre eles é importante para um bom aprendizado.
Então, para aprender bem, é preciso fazer uma caminhada após a leitura ou prática, ou sair de um estudo de história para um de outra área completamente diferente, como matemática.
Recuperação de pacientes com derrame
Agora que há um marcador biológico para o aprendizado do cérebro, os cientistas também julgam que possa haver um benefício aos pacientes que tiveram derrame: um sistema de monitoramento pode ser desenvolvido para momentos de terapia ocupacional do paciente, além de técnicas de neuroestimulação ou neuromodulação, maximizando as repetições da habilidade a ser reaprendida.
Otimizando os intervalos de descanso e o seu timing, será possível fazer com que a reabilitação e rememoração de habilidades sejam mais rápidas nos pacientes. O princípio é o mesmo de um paciente comum aprendendo a tocar piano, por exemplo.
No futuro, a ideia é descobrir como o processo das pausas se diferencia do sono no que tange à consolidação de memórias e habilidades, por exemplo: não se sabe muito sobre isso, apesar de entendermos que são pausas fisiologicamente diferentes. Acredita-se que o sono codifique a memória como um todo, e a pausa rápida registre detalhes mais precisos, como movimento e sinergia entre os dedos — tudo, no entanto, ainda hipotético.
Fonte: Cell Reports, BBC