Pausar o envelhecimento dos ovários pode prolongar a vida das mulheres
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
Os ovários estão diretamente conectados com o processo de envelhecimento das mulheres e ao início da menopausa. Na verdade, as glândulas reprodutivas tendem a envelhecer mais rápido que as outras partes e tecidos do corpo, como se antecipassem o que irá ocorrer, em breve, ao indivíduo. Agora, cientistas testam formas de pausar esses processos, prolongando o tempo de atividade dos ovários.
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Aqui, cabe pontuar que os seres humanos representam uma das poucas espécies de mamíferos, além de algumas baleias, que entram naturalmente na menopausa, deixando de ser férteis entre os 40 e os 50 anos. Para além da questão da fertilidade, o período é marcado pelo declínio na produção de hormônios e o aparecimento de inúmeros problemas de saúde, como o maior risco de osteoporose e de doenças do coração.
A nova hipótese é que prolongar o tempo de atividade dos ovários pode impactar a longevidade, segundo Jennifer Garrison, cientista e professora do Buck Institute for Research on Aging, nos Estados Unidos. “Esse coquetel, essa orquestra de produtos químicos produzidos pelos ovários, é realmente importante para a saúde geral” da mulher, defende Garrison, para a revista Wired.
Menopausa e o tempo de vida da mulher
Considerando dados de saúde de mais de 16 mil mulheres norte-americanas, pesquisadores da San Diego State University descobriram que a menopausa tardia tornava mais provável que alguém vivesse até os 90 anos. Publicado na revista científica Menopause, o estudo associa tanto a menopausa quanto a menarca (primeira menstruação) tardias com a maior longevidade feminina.
No entanto, os autores pontuam que o estudo não é conclusivo e outras pesquisas são necessárias para entender como o estilo de vida e os fatores genéticos e ambientais impactam essa equação sobre o tempo de vida das mulheres.
O ovário envelhece mais rápido que o resto do corpo
Em parte desta linha de pensament, está o fato dos ovários envelhecerem mais rápido que o resto do corpo nos níveis molecular e celular. É o que defende um preprint — estudo que não passou por revisão dos pares — desenvolvido por pesquisadores da Columbia University Medical Center. O artigo completo foi publicado na plataforma bioRxiv.
Na pesquisa, os autores analisaram diferentes amostras de células retiradas dos ovários de mulheres que tinham entre 20 e 50 anos, sem que nenhuma tivesse entrado na menopausa. Nas voluntárias mais velhas, as células coletadas podiam se assemelhar a células de outros tecidos de pessoas com 70 anos (muito mais velhas).
De modo geral, o DNA estava danificado e as mitocôndrias apresentavam disfunção na produção de energia. Além disso, a proteína mTOR estava hiperativa, o que está associado ao maior risco de câncer e ao envelhecimento. Em modelos animais, o bloqueio dessa proteína demonstrou aumentar a expectativa de vida das cobaias.
Estudos em andamento para retardar o envelhecimento
Em mais um passo para compreender o envelhecimento dos ovários e o impacto na longevidade das mulheres, a mesma equipe de cientistas, incluindo Yousin Suh e Zev Williams, trabalha em um estudo clínico (com humanos) para entender se um medicamento que inibe a proteína mTOR, a rapamicina, consegue atrasar o envelhecimento dos ovários. Os testes de Fase 1 envolvem aproximadamente 50 mulheres com idades entre 30 e 40 anos e devem se estender ao longo deste ano.
Caso a medicação consiga prolongar a vida útil dos ovários em relação à fertilidade, é possível que a equipe tenha descoberto um novo caminho para pensar e ampliar a longevidade feminina, com melhor qualidade de vida. No futuro, esta poderá ser uma terapia para melhorar os indicadores de saúde das mulheres.