Órgãos doados por pessoas que tiveram covid-19 são seguros, diz estudo
Por Lillian Sibila Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |

Um estudo da Duke University School of Medicine, iniciado em setembro de 2021, procurou descobrir se órgãos doados por pacientes que morreram enquanto tinham o vírus da covid-19 causavam ou não novas infecções em receptores e profissionais de saúde envolvidos nas operações.
- Homem se cura da covid-19 ao tomar vacina da Pfizer; vírus persistiu por 7 meses
- Equipe de hospital comemora primeiras 24h sem pacientes com covid; assista
Os resultados são ótimas notícias para quem está na fila do transplante de órgãos, já que ninguém foi infectado no processo, mas há de notar que a pesquisa ainda será apresentada e publicada — ou seja, é uma pré-publicação, ainda não revisada por pares, com conclusões consideradas preliminares. Além disso, a amostragem é limitada, com poucos casos estudados.
Casos avaliados
Os estudos envolveram os transplantes de dois fígados e duas combinações de rins e pâncreas vindo de quatro doadores com testes positivos para covid-19, órgãos que chegaram a quatro receptores diferentes. Um dos doadores morreu em decorrência de complicações severas de covid, incluindo embolia pulmonar, e outro de um abscesso cerebral provavelmente causado pelo vírus. Os outros dois tiveram covid moderada, morrendo de derrame e de overdose de drogas, respectivamente.
Os casos foram avaliados de acordo com o tipo de órgão, duração e severidade do adoecimento por covid e a partir dos sinais de coagulação potencialmente aumentada nos órgãos doados ou seus vasos. Ao avaliar o risco de infecção, a urgência dos transplantes também foi considerada pelos pesquisadores. Acompanhando os receptores e os profissionais de saúde por 46 dias, nenhuma infecção por covid-19 através dos transplantes foi notada.
O estudo será apresentado no Congresso Europeu de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas em Lisboa, Portugal, que acontecerá de 23 a 26 de abril. Emily Eichenberger, autora do estudo, afirmou que, apesar de limitada, a pesquisa sustenta o uso de órgãos abdominais doados por pacientes positivados com covid como seguros e efetivos, mesmo quando envolvem morte causada por doenças pulmonares decorrentes da infecção ou pacientes com infecção ativa. Ela ainda nota que um total de 20 transplantes bem-sucedidos desse tipo já foram feitos.
Eichenberger lembra que os quatro receptores envolvidos no estudo não estavam vacinados: ela encoraja fortemente a vacinação, especialmente para receptores futuros. Segundo ela, o risco de ter sintomas severos de covid aumenta muito em pacientes não vacinados devido ao uso de medicamentos imunossupressores pós-transplante. Não é obrigatório estar vacinado para estar na fila do transplante de órgãos, mas a pesquisadora reforça o apelo para a vacinação a quem está na lista de espera.
Apesar dos resultados preliminares terem sido promissores, mais estudos generalizados são necessários. A pandemia piorou a escassez de órgãos para doação justamente porque os cirurgiões expressam preocupação em relação ao uso de órgãos advindos de doadores infectados pela covid-19.
Fonte: ESCMID