Priapismo, a condição que provoca ereções involuntárias em homens
Por Fidel Forato | Editado por Luciana Zaramela | 23 de Outubro de 2022 às 19h00
Manter ereções prolongadas é uma habilidade muito desejada pelos homens e pode ser encarada como um marcador da masculinidade, mas tudo tem um limite: a saúde do pênis. No extremo, existe uma condição conhecida pelo nome de priapismo, onde os pacientes relatam, na maioria das vezes, dores associadas com o fato do pênis permanecer ereto por pelo menos 4 horas. Isso pode ocorrer sem nenhum desejo sexual envolvido e, quando não tratado, pode provocar a necrose do tecido.
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A questão do priapismo começa a ser discutida na novela Todas as Flores, que estreou na quarta-feira (19) na plataforma Globlopay. Na trama, o personagem Oberdan, interpretado pelo ator Douglas Silva, sofre com uma versão moderada e frequente da condição que provoca ereções prolongadas.
Para entender o que é priapismo, quais são as causas e os possíveis tratamentos, o Canaltech entrevistou o médico Alex Meller, urologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e do Hospital Israelita Albert Einstein. O especialista adianta que, geralmente, "é necessário buscar atendimento médico de urgência", a fim de controlar casos graves.
O que é priapismo?
“O priapismo é uma condição patológica. É uma doença que pode ser desencadeada pelo uso de algumas medicações específicas ou por alguma outra doença subjacente", explica Meller, focando na forma mais grave, o priapismo isquêmico. Nestes casos, o sangue — responsável por fazer o pênis entumescer — fica retido na região, provocando ereções prolongadas e acompanhadas de dor.
Além disso, existe o priapismo não-isquêmico, onde o retorno venoso está normal, ou seja, o sangue não fica retido e tende a ser indolor. Nestes casos, a ereção é mantida pela entrada e saída constante de sangue na região, associada a uma lesão no pênis ou no períneo. A resolução pode ser espontânea, mas é sempre indicada a consulta com um especialista.
Este é o principal sintoma do priapismo
Quando pensamos no priapismo, o médico explica que o principal sintoma é uma "ereção longa, duradoura e dolorosa, em que o paciente costuma sentir um incômodo grande, porque o pênis não baixa". Para ser considerado um caso clássico da condição, não existe um tempo específico. No entanto, "sabemos que se a ereção durar mais que 4 horas, isso pode prejudicar o pênis e a irrigação dele", detalha Meller.
Quais são as causas do priapismo?
No caso do priapismo isquêmico, as principais causas são:
- Medicações para estimular a ereção, como viagra e outras fórmulas semelhantes;
- Uso de anfetamina;
- Uso de drogas ilícitas, como cocaína;
- Alguns tipos de antidepressivos;
- Consequência de injeções intravenosas que induzem a ereção;
- Anemia falciforme;
- Leucemia e outros tipos de câncer.
“Na verdade, qualquer doença que dê alguma alteração de coagulação no sangue pode causar esse tipo de alteração" no pênis, explica o urologista.
Ereção prolongada e duradoura tem cura?
“Não existe medicamento para resolver o quadro e o tratamento [adequado] é feito por um urologista", adianta o médico. Isso porque, após uma ereção de 4 horas ou mais, é necessário fazer uma punção no pênis. Basicamente, o profissional insere uma agulha no órgão e, com isso, aspira o sangue preso nos corpos cavernosos — local do membro genital onde circula o sangue. Em seguida, é feita uma lavagem para higienizar.
“Se isso [a primeira punção] não resolver, fazemos uma segunda lavagem com uma substância chamada adrenalina ou noradrenalina", detalha Meller. A substância faz com que os vasos sanguíneos se contraiam, facilitando e induzindo a perda da ereção. “Se ainda não resolver, o próximo passo é um procedimento cirúrgico, onde é feita a drenagem", completa.
O quão comum é o priapismo na população masculina?
O priapismo não está associado a uma faixa etária, já que a maior parte dos casos depende de fatores específicos — como doenças ou uso de algumas substâncias farmacológicas. Também pode ser encarado como uma condição rara na população masculina.
Publicado na revista científica Urology, um estudo buscou estimar a incidência do priapismo na população mundial nos anos 2000. "A incidência de priapismo é baixa, mas parece maior do que se supunha anteriormente", afirmam os pesquisadores do Centro Médico da Universidade Erasmus, na Holanda.
Por ano, é estimado 1,5 caso a cada 100 mil pessoas. Em homens com 40 anos ou mais, a incidência quase dobra. São registrados 2,9 casos a cada 100 mil pessoas.
Deus grego Priapo e a origem mitológica da condição
Fato curioso é que o nome da condição é inspirado na mitologia grega, segundo a Associação Americana de Urologia (AUA). Mais especificamente, a origem do priapismo está no deus Priapo, que representava a fertilidade. Nas artes da época, era representado com um pênis longo e ereto.
Filho de Afrodite e Dionísio — algumas histórias o taxam como filho de Hermes —, Priapo nasceu com traços considerados brutos e genitais gigantes, por "castigo" de Hera. No entanto, a ereção permanente somente veio a se desenvolver mais tarde, como outro castigo. Esta foi a penalidade imposta por tentar violentar a ninfa Lotis, que deu origem à planta lótus.
Na história da medicina, os primeiros relatos da condição que provocava uma ereção duradoura e involuntária foram feitos pelos médicos gregos Galeno e Sorano de Éfeso.
Fonte: Com informações: Urology, AUA e Cleveland Clinic