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O que é fibrose pulmonar e como ela está associada aos casos graves de COVID-19

Por| 20 de Dezembro de 2020 às 13h00

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Anna Shvets / Pexels
Anna Shvets / Pexels

Mesmo depois de vários meses de pandemia, a COVID-19 continua sendo uma doença verdadeiramente misteriosa, alvo de inúmeros estudos que visam compreender suas dimensões e associações com outras doenças. Com esse último objetivo, incluisve, um estudo desenvolvido por pesquisadores da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) apontou uma tendência de formação de fibrose nos pulmões de pacientes que morreram em decorrência do coronavírus.

Basicamente, a fibrose torna os tecidos espessos e rígidos, limitando a capacidade respiratória dos pulmões, considerando que a condição dificulta a absorção e transferência de oxigênio para a corrente sanguínea. No estudo, que foi publicado na revista Scientific Report, do grupo Nature, os pesquisadores compararam seis amostras pulmonares post mortem de pacientes que contraíram a COVID-19 com 10 fragmentos de pulmões de indivíduos infectados pelo vírus H1N1pdm09, responsável pela pandemia de gripe suína de 2009.

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Os pesquisadores perceberam que 11 amostras eram de pacientes que morreram por problemas cardíacos ou oncológicos, ou seja, não tiveram uma lesão pulmonar como causa da morte.  “Observamos uma tendência de formação de fibrose nos pulmões dos pacientes que foram a óbito por COVID-19, em decorrência de um aumento significativo do marcador Interleucina-4 [citocina anti-inflamatória], além de um número aumentado de macrófagos [células presentes nos tecidos] envolvidos na formação de fibrose nesses pacientes em comparação com os pacientes sem lesão pulmonar”, afirma Lucia de Noronha, professora da PUCPR que participou do projeto.

De acordo com a pesquisadora, ao comparar as amostras dos pacientes infectados pelo coronavírus e pelo H1N1, foi notável que a infecção por SARS-CoV-2 pareceu promover danos teciduais nos pulmões a partir de mecanismos diferentes do que é verificado nas lesões causadas pelo vírus da gripe suína.

O grupo visualizou, também, um edema considerável nos pacientes que morreram por conta da COVID-19. “Observamos uma presença maciça de neutrófilos [células de defesa], bem como de bactérias nos tecidos pulmonares dos pacientes acometidos por H1N1. Em relação aos pacientes de COVID-19, notamos uma escassez de neutrófilos e também de linfócitos, células responsáveis pela resposta imune e pela defesa do corpo”, conta a pesquisadora. 

Fibrose pulmonar x COVID-19

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Os especialistas contam que a formação de fibrose pulmonar compromete a troca gasosa, dificultando a respiração e, consequentemente, afetando severamente a qualidade de vida do paciente que desenvolve a condição, e que dependendo da extensão da lesão, o quadro pode se tornar irreversível e levar à morte. No entanto, eles trazem uma boa notícia. Acontece que a conclusão do estudo é de que um tratamento com medicamentos que tenham como papel inibir a Interleucina-4 possa atenuar os quadros de fibrose pulmonar severa nos pacientes com COVID-19. 

Vale ressaltar que essa pesquisa está inserida em um projeto maior do Hospital Marcelino Champagnat, do Grupo Marista, sobre o novo coronavírus. Há estudos envolvendo tanto análises de amostras post mortem como pesquisas com pacientes que sobreviveram, bem como estudos de imagem e dados clínicos.  A ideia é que haja um aprofundamento cada vez maior a respeito da doença que infectou mais de 4 milhões de brasileiros para que, num futuro próximo, seu tratamento possa ser mais eficaz. 

Questionada pela equipe do Canaltech se a relação entre a COVID-19 e a fibrose já tinha sido analisada antes, Lucia afirma que existem alguns artigos sugerindo fibrose pós-COVID-19, mas vários baseados em opinião e comparação com outras doenças.

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A pesquisadora conta qual era a expectativa do grupo quando deu início ao estudo: "Queríamos entender quais são as citocinas envolvidas na fibrose pulmonar pós-COVID, que é a molécula mais encontrada, e descobrir 'quem é o vilão', para poder bloqueá-lo, se for possível", diz. "Este estudo ajudou a entender o papel da IL-4 e do TGF beta na fibrose pulmonar pós-COVID. Foi como já sabíamos, através de outros estudos do grupo em que a IL-4 estava alta desde o início da doença nos pacientes, e a IL-4 é uma citocina que pode promover fibrose. Fizemos um estudo para relacioná-la com este tipo de sequela", acrescenta.

A pesquisadora ainda revela quais foram os principais desafios que encontraram durante o estudo. "Este é um estudo com biópsias post-mortem, portanto, só temos pacientes com a forma grave da COVID-19 no nosso estudo. O maior desafio é saber como estão os pacientes leves e moderados", afirma.

A pesquisadora conta que os próximos passos serão estudar a IL-4 no soro de pacientes com a forma leve e moderada da COVID-19 e estudar mais citocinas/proteínas envolvidas na fibrose pulmonar como caveolina, colágenos, metaloproteases, entre outras. Questionada se pacientes não-graves também podem apresentar quadros de fibrose pulmonar, Lucia conta que isto ainda está em estudo. "Mas, em tese, poderiam sim, porém as consequências clínicas não seriam muito sérias porque seria uma fibrose leve", finaliza.