O que determina nossa inteligência?
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
Como medir a inteligência de uma pessoa? A pergunta até pode parecer simples, mas a ciência não chegou a um consenso sobre qual é a melhor resposta para definir o que é inteligência e nem como avaliá-la de forma adequada. Nem os testes de QI (Quociente de Inteligência) parecem alcançar aprovação popular para atestar o quão inteligente alguém pode ser.
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Tecnicamente, o QI é uma ferramenta para avaliar o nível das capacidades cognitivas de um indivíduo, através de questões que envolvem raciocínio, memória e capacidade de compreensão. No entanto, podem ser tendenciosos e, normalmente, favorecerem alguns públicos específicos, explica a psicóloga Donna Y. Ford, da Ohio State University.
Os testes de QI "são cultural, linguistica e economicamente tendenciosos contra estudantes minoritários, em particular negros, em primeiro lugar, e depois hispânicos”, defende Ford, para a Discover Magazine, sobre a medição, considerada falha.
Vale lembrar que, nos EUA, eles podem ser usados para a seleção de candidatos para programas educacionais, o que reforça a importância de discutir os resultados alcançados e, principalmente, o risco de compará-los.
São vários tipos de inteligência ou apenas uma?
No curso das pesquisas científicas sobre a inteligência humana, cientistas também debatem quantos tipos de inteligência alguém pode possuir. Por exemplo, há uma única inteligência geral — sendo esta usada para realizar diferentes tipos de tarefas — ou a inteligência pode ser dividida em diferentes caixinhas, como a inteligência espacial e a inteligência linguística?
"Ambos os modelos foram objeto de muitos estudos. Atualmente, as evidências se inclinam mais a favor de que tenhamos apenas uma inteligência geral, mas, como sempre, o quadro é mais complexo do que isso", explica o neurocientista Dean Burnett, em artigo para a revista Science Focus.
Inteligência fluida e cristalizada
De forma geral, pode-se considerar que os humanos tenham dois principais tipos de inteligência: a fluida e a cristalizada. "Esta última reflete a informação que você conhece e tem acesso, armazenada como memória em seu cérebro. A primeira é sua capacidade de usar e aplicar informações, sejam elas derivadas da memória ou do que você está percebendo no momento", detalha Burnett.
Até agora, evidências científicas sugerem que a inteligência cristalizada continua a se acumular enquanto o cérebro está em funcionamento. Por outro lado, a inteligência fluida diminui à medida que uma pessoa envelhece. Nesse sentido, a capacidade de aprendizado e de adquirir novas habilidades pode ser, consideravelmente, reduzida com o passar dos anos.
Fatores genéticos
"Embora ainda haja muito debate sobre o que realmente significa inteligência, poucos contestam que seus genes desempenham um papel importante. Isso não quer dizer que existe um gene de inteligência estabelecido, que determina diretamente o quão inteligente você vai ser. Nosso ambiente, educação, educação e experiências moldam nosso intelecto adulto", explica o neurocientista Burnett.
Só que, novamente, ainda é preciso entender qual papel os genes desempenham na capacidade intelectual de um indivíduo. Medir corretamente esse impacto é um grande desafio, já que os seres humanos crescem e aprendem em contato com o meio em que estão inseridos. Por exemplo, uma boa escola pode ser mais importante que uma genética favorável para a inteligência?
Em outras palavras, muitos estudos e novas descobertas ainda são necessárias para que a inteligência humana seja melhor compreendida e, consequentemente, estimulada. Além disso, a neuroplasticidade pode ser um desafio extra, já que nem o sistema nervoso é totalmente fixo durante a vida de uma pessoa, o que pode, talvez, desencadear diferentes níveis de inteligência ao longo da vida.
Fonte: Science Focus e Discover Magazine