Mosquito da dengue pode transmitir a febre oropouche?
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela | •
No Brasil, há um aumento de casos da febre oropouche, especialmente na região amazônica. Nos primeiros três meses do ano, foram registrados 3,5 mil casos desta doença transmitida por mosquitos. Embora diferentes espécies estejam envolvidas na proliferação do vírus, o mosquito da dengue (Aedes aegypti) não transmite a infecção hoje. O problema é que isso pode mudar no futuro, segundo especialistas.
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O principal vetor da febre oropouche é o maruim (Culicoides paraenses), também conhecido como mosquito-pólvora. No entanto, conforme o vírus oropouche avança pelo país — casos importados já foram detectados em São Paulo, no Paraná e em Santa Catarina —, o contato com outras espécies cresce. Aí, é onde está o risco dele ser eventualmente transmitido pelo mosquito da dengue.
Mosquito da dengue transmite febre oropouche?
"Hoje, sabemos que o vírus oropouche consegue se multiplicar no A. aegypti quando inoculado experimentalmente no inseto”, afirma Flávio Guimarães da Fonseca, cientista e professor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (Ufmg), em artigo para a plataforma The Conversation.
Esta capacidade do vírus oropouche ser transmitida pelo mosquito da dengue foi validada em um estudo brasileiro, publicado na revista científica Viruses. O ponto é que aparentemente o patógeno não consegue ser transmitido para outras pessoas.
“O vírus [oropouche] não consegue transpor barreiras teciduais e invadir a glândula salivar do mosquito. Assim, ele não consegue ser transmitido pela picada do A. aegypti, e é através da invasão da glândula salivar do vetor que outros vírus como dengue, zika e chikungunya, por exemplo, conseguem infectar seres humanos”, pontua o pesquisador.
Mutações no vírus oropouche
Como os vírus são extremamente adaptáveis, é possível que, através de novas mutações e do rearranjo genético, o agente infeccioso da febre oropouche, um dia, consiga ser transmitido pelo mosquito da dengue. Este risco hipotético aumenta, conforme a doença se espalha do Norte para o resto do país.
"O aumento do encontro entre o vírus oropouche e o mosquito A. aegypti é um coquetel potencialmente explosivo, possibilitando a adaptação do vírus a um mosquito amplamente distribuído no Brasil e no mundo”, destaca o cientista Fonseca.
Diante dessa possibilidade, é preciso desenvolver melhores formas de enfrentar a febre oropouche, o que envolve a criação de testes rápidos e de medicamentos antivirais específicos. Em paralelo, é preciso investir em estratégias para conter a disseminação dos mosquitos, vetores de inúmeras doenças, que devem se tornar ainda mais comuns com o Aquecimento Global.
Fonte: The Conversation e Viruses