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O caso da mãe que "deu à luz duas vezes" o mesmo filho, explicado

Por| Editado por Luciana Zaramela | 21 de Maio de 2022 às 18h30

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Mvaligursky/Envato Elements
Mvaligursky/Envato Elements

Nos Estados Unidos, viralizou nesta semana o relato sobre a gravidez da tiktoker Jaiden Ashlea. Isso porque a futura mãe descobriu que o seu bebê nasceu com espinha bífida, uma condição que pode causar problemas neurológicos e motores. Para tratar o quadro antes do parto oficial, a equipe médica optou por fazer uma cirurgia no bebê ainda dentro do útero.

A tiktoker descreveu o seu caso como se fosse dar à luz duas vezes, já que o útero seria aberto para a operação de correção da espinha bífida no bebê e, em seguida, seria novamente fechado. Agora, Jaiden aguarda 11 semanas para, de fato, realizar a sua cesárea. Até agora, a história já foi vista 3 milhões de vezes no TikTok.

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Para entender como é realmente feita a cirurgia de correção da espinha bífida e os riscos envolvidos no procedimento, o Canaltech conversou com o médico Marcelo Burlá, coordenador da medicina fetal do Complexo Hospitalar de Niterói (CHN), no Rio de Janeiro.

"Os benefícios para recém-nascidos são inegáveis. Muitas dessas crianças que teriam sequelas motoras e sequelas fisiológicas — como incontinência urinária ou fecal — podem ter uma vida praticamente normal", adianta o especialista. Afinal, o defeito é corrigido antes da estabilização ou da formação das sequelas.

O que é espinha bífida?

"A espinha bífida pode acontecer em qualquer lugar ao longo da coluna, se o tubo neural não fechar completamente. Quando o tubo neural não fecha completamente, a espinha dorsal, que protege a medula espinhal, não se forma e nem fecha como deveria. Isso geralmente resulta em danos à medula espinhal e aos nervos", define o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), nos Estados Unidos.

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Apesar da gravidade alguns casos, pacientes podem apresentar pouca ou nenhuma deficiência, dependendo do local em que a malformação ocorreu. Em casos graves, "algumas pessoas podem até ficar paralisadas ou incapazes de andar ou mover partes do corpo", explica o CDC.

Qual o tratamento padrão?

No caso de Jaiden, a situação do seu filho era grave. A equipe médica informou que ele nasceria com "morte cerebral" e que não teria uma boa qualidade de vida, segundo relatou o jornal New York Post. A partir de então, a mãe passou a buscar opções de tratamento.

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Se a família fosse seguir o procedimento tradicional, a equipe médica deveria esperar o nascimento da criança e, em seguida, seriam inciados os tratamentos de correção. "O problema é que quando essa abordagem ocorre, muitas vezes, já existem sequelas irreversíveis para a criança", afirma o médico Marcelo Burlá.

Operando o bebê no útero

"A abordagem mais moderna tenta fazer com que a correção ocorra o mais breve possível, antes de se instalarem lesões num quadro irreversível. Isso é feito abordando intraútero o concepto [o bebê], que pode ser a céu aberto ou por videolaparoscopia", acrescenta Brulá.

No caso que viralizou no TikTok, aparentemente a equipe médica norte-americana realizou a cirurgia a céu aberto, removendo temporariamente o filho do útero. Por isso, a mãe brincou que o filho nasceu uma vez e, daqui a algumas semanas, nascerá de novo.

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Para ser mais específico, a barriga da mãe e o útero foram abertos "antes da hora", quando a correção foi feita, ou seja, fecharam o pequeno espaço que estava aberto na coluna. Nesses casos, há aumento dos riscos, já que o feto é exposto.

Novidades brasileiras

Aqui, cabe abrir um importante parêntese: o Brasil é pioneiro em cirurgias do tipo. Além das duas opções, o médico conta que "existe também a técnica que é a colocação de uma membrana para ocluir aquele defeito. Esta técnica foi desenvolvida por uma brasileira, a Denise Pedreira". O diferencial é que se utiliza uma ultrassonografia para identificar a placenta, o que aumenta a segurança do procedimento.

Riscos da cirurgia

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Para Burlá, o grande risco dos procedimentos do tipo é que "um percentual considerável das gestantes acaba entrando em trabalho de parto de forma prematura". Por isso, esta possibilidade deve ser sempre considerada antes da cirurgia de correção da espinha bífida. Dependendo do mês da gestação, o bebê pode nascer com a formação incompleta do pulmão.

Além disso, "procura-se evitar a perfuração da placenta. É importante uma ultrassonografista e um fetólogo experiente para definir o melhor ponto de abordagem. A técnica é segura, mas com essa ressalva de que a possibilidade importante de um nascimento prematuro", completa.

Fonte: CDC, Jornal da USPNew York Post