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Nova complicação da COVID-19 estaria causando AVC em pessoas saudáveis

Por| 29 de Abril de 2020 às 18h25

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Mario Tama/Getty
Mario Tama/Getty

Depois das mais de 220 mil mortes causadas globalmente pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), pesquisadores e médicos já sabem que a COVID-19 ataca, principalmente, os pulmões dos pacientes, o que pode gerar (nos casos graves) uma severa inflamação. Inflamados, os pulmões não conseguem mais transferir oxigênio para a corrente sanguínea através dos glóbulos vermelhos. É quando a pessoa começa a ter sérios problemas respiratórios e a necessitar de um respirador mecânico na UTI.

Esse quadro respiratório acontece majoritariamente com pacientes acima de 60 anos, que fazem parte do grupo de risco e compõem a maioria dos óbitos por COVID no mundo. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, até dia 13 de maio, 74% das mortes por COVID-19 estavam relacionadas a pacientes com mais de 60 anos. No entanto, começam a chegar relatos de acidentes vasculares cerebrais em pessoas jovens e de meia-idade saudáveis, entre 30 e 50 anos, diagnosticadas com a COVID-19.

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Até recentemente, pesquisadores tinham poucos dados relacionando os derrames e a COVID-19. Lembrando que um AVC (acidente vascular cerebral) é marcado por uma interrupção súbita no fluxo de sangue no cérebro do paciente. Isso pode acontecer em decorrência de problemas cardíacos ou artérias obstruídas pelo colesterol, por exemplo.

Direto da China

Segundo um dos relatórios publicados a partir da experiência dos primeiros casos do novo coronavírus, em Wuhan, na China, pacientes já tinham sido hospitalizados após sofrerem um derrame, mas os AVCs estavam relacionados aos quadros mais graves e à idade avançada destes pacientes.

Agora, três importantes centros médicos americanos, incluindo o Sistema de Saúde Mount Sinai, em Nova Iorque, estão para publicar dados que associam os derrames à COVID-19 em gente mais nova. Até o momento, a pesquisa conta com poucos casos clínicos, mas traz uma nova perspectiva sore o que esse vírus pode causar no corpo humano.

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As primeiras análises indicam que pessoas diagnosticadas com esse coronavírus apresentaram, em geral, um tipo mais grave de AVC, conhecido como AVC hemorrágico. Eles podem comprometer importantes áreas do cérebro, como aquelas que são responsáveis pelo movimento e fala, já que são adjacentes às principais artérias que irrigam o órgão central do sistema neurológico.

A tese é que esses derrames sejam uma consequência direta dos problemas sanguíneos, encontrados em pacientes com a COVID-19, que produzem expressivos coágulos, que podem afetar desde o pulmão até o coração.

Coágulos que se formam na parede dos vasos sanguíneos da perna, por exemplo, podem chegar até o pulmão e causar uma embolia pulmonar. Isso prejudica a respiração e é uma conhecida causa de morte entre os doentes da COVID-19. Já os coágulos que se formam próximo ao coração podem levar a um ataque cardíaco. Além disso, é possível que coágulos cheguem ao cérebro e causem um derrame.

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Pacientes com coágulos

“Será que, quando o corpo tenta combater o vírus, o sistema imunológico acaba prejudicando o cérebro?", se pergunta Sherry H-Y Chou, neurologista da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos. No Mount Sinai, maior rede médica de Nova Iorque, o número casos de pacientes que chegam com coágulos no cérebro dobrou nas últimas semanas, superando 30 ocorrências. Mais da metade desses pacientes foram, posteriormente, diagnosticados com a COVID-19.

A Thomas Jefferson University Hospitals, na Filadélfia, e a NYU Langone, em Nova Iorque, já identificaram que 12 dos pacientes tratados após apresentarem coágulos, que bloqueavam o sangue no cérebro, durante um período de três semanas, estavam infectados pelo novo coronavírus. Desses pacientes, 40% tinham menos de 50 anos, e não apresentavam fatores de risco substanciais, como outros problemas de saúde. O que é uma faixa etária muito incomum para derrames hemorrágicos, segundo apontam os médicos responsáveis.

Uma das hipóteses é de que os pacientes mais jovens resistem melhor às dificuldades respiratórias causadas pela COVID-19 e são capazes de sobreviver ao problema pulmonar, diferente dos mais velhos (maior grupo de risco do coronavírus), mas com o tempo desenvolvem outros problemas resultantes da doença, ainda pouco conhecidos pela medicina, como os derrames.

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Segunda onda, novos sintomas?

A pesquisa norte-americana pode ter descoberto uma possível segunda onda da pandemia da COVID-19. Se na primeira onda os mais atingidos foram os mais velhos e os pacientes com comorbidades (doenças cardíacas, diabetes, obesidade e outras condições pré-existentes), a segunda onda pode afetar justamente os mais jovens e sem outros fatores de risco. Mas antes que afirmemos isso, mais estudos na área ainda são necessários.

Em carta que deve ser publicada nos próximos dias na New England Journal of Medicine, a equipe médica do Mount Sinai detalhará cinco estudos de caso feitos com pacientes jovens que tiveram derrames, entre 23 de março e 7 de abril, e testaram positivo para a COVID-19. As vítimas do AVC tinham 33, 37, 39, 44 e 49 anos e estavam em casa, quando começaram a sentir sintomas como dificuldade na fala, confusão mental e perda de movimentos em um lado do rosto.

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Médicos também têm se mostrado preocupados com o fato de que bombeiros, na cidade de Nova Iorque, estão sendo chamados quatro vezes mais para retirar corpos de pessoas que morreram em casa do que o normal. Uma possível hipótese é de que alguns desses mortos tenham sofrido derrames súbitos, uma provável (e nova) complicação da COVID-19.

Fonte: Forbes e Estadão