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No centenário da insulina, pesquisa nacional testa aplicação única a cada 7 dias

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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Dennis Klicker/Unsplash
Dennis Klicker/Unsplash

Neste ano, a ciência e milhões de pessoas comemoram — ou deveriam comemorar — o centenário da descoberta da insulina, feita em 1921. Passados 100 anos, muitos pacientes com diabetes se beneficiaram do medicamento e puderam ter uma melhor qualidade de vida, além de maior expectativa de vida. Agora, novas pesquisas planejam revolucionar o uso do remédio com injeções semanais, e não mais diárias.

Desenvolvida pelo laboratório dinamarquês Novo Nordisk, a insulina de aplicação semanal Icodec pode chegar às farmácias em 2023, caso os estudos clínicos sejam concluídos com sucesso, demonstrando a segurança e a eficácia da nova terapia. Inclusive, instituições brasileiras de pesquisa — como o Centro de Diabetes de Curitiba, no Paraná — são parte deste estudo de Fase 3, desenhado para pacientes do diabetes tipo 2.

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Para entender sobre o funcionamento da potencial insulina de aplicação semanal e acompanhar os resultados preliminares do estudo que pode revolucionar o tratamento do diabetes, o Canaltech conversou com o médico endocrinologista e presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes do Paraná (SBDPR), André Vianna.

Números do diabetes estão em alta no mundo

Antes de voltarmos a falar sobre a insulina de aplicação semanal, é importante ressaltar o desafio que o diabetes ainda representa para a saúde pública mundial. No globo, o número de pessoas que vivem com a doença segue em movimento crescente, segundo dados levantados para a 10ª edição do Atlas de Diabetes da IDF (Federação Internacional de Diabetes).

Hoje, 10,5% dos adultos — cerca de 537 milhões de pessoas — vivem com o diabetes, independente do tipo. Cerca de 90% dos casos são do tipo 2, que está relacionado ao estilo de vida, sedentarismo, sobrepeso e obesidade. Nos últimos dois anos, o crescimento da incidência do diabetes, em geral, foi de 16%, o que representa mais de 74 milhões de novos casos.

Segundo as projeções da IDF, se o cenário do diabetes não for aletrado e novas políticas de saúde globais não forem implementadas, o crescimento da doença continuará. A previsão é que o número total aumente para 643 milhões (11,3%) até 2030 e para 783 milhões (12,2%) até 2045. Neste cenário, novas alternativas para o tratamento são necessárias.

"A quantidade de pessoas com diabetes tem aumentado e a quantidade de pessoas com complicações advindas do diabetes também é bastante grande", ressalta o endocrinologista Vianna. Nesse cenário, o médico destaca que a doença pode ter complicações graves, quando descontrolada. É o caso da cegueira, de problemas renais e do risco de amputação. “É um problema de saúde pública gravíssimo. As complicações do diabetes são consideradas uma das principais causas de morte no país", pontua.

Insulina aplicada uma única vez por semana pode se tornar realidade

"Os benefícios de uma insulina de aplicação semanal são muitos. Primeiro, o conforto que traz para os pacientes. Diabetes é uma doença que tem que ser monitorada e controlada por toda a vida, mas tem formas de amenizar e facilitar o dia a dia dessas pessoas. Aplicar insulina uma vez na semana ao invés de uma ou duas por dia já é um avanço enorme, sem falar que ajuda a controlar a glicemia de forma mais efetiva, [com o aparelho] podendo ser usado tanto por pacientes com diabetes tipo 1, como tipo 2", explica Vianna sobre a importância da iniciativa.

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Como prevê o estudo clínico em andamento no Centro de Diabetes de Curitiba, a insulina semanal Icodec é aplicada com a caneta, igual as outras disponíveis no mercado. A diferença é que "as insulinas mais modernas demandam essa aplicação uma vez por dia. Algumas vezes, são necessárias duas aplicações, quando [a fórmula] não é tão moderna", comenta Vianna.

Nesse cenário, o paciente com diabetes poderá trocar de 365 até 730 injeções por ano para apenas 52 injeções. "É uma troca bastante vantajosa", ressalta o endocrinologista. Além disso, a nova dinâmica poderá melhorar a qualidade de vida do indivíduo.

Como funciona a insulina de aplicação semanal?

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Antes da nova insulina chegar ao mercado, ela precisa concluir a terceira e última fase dos estudos clínicos. Responsável por coordenar o estudo em Curitiba — um dos quatro em operação no Brasil —, o endocrinologista explica que a pesquisa é multicêntrica e está em andamento em outros países, como Estados Unidos, China, Argentina, Chile e alguns países da União Europeia.

No caso curitibano, 20 voluntários com diabetes tipo 2 são avaliadas na pesquisa. Para ser selecionado, este paciente precisou apresentar um quadro que não estivesse controlado. Além disso, o indivíduo só poderia ter usado medicamentos orais e nunca a insulina. De acordo com o endocrinologista, "em estudos prévios, ela [a insulina semanal] se mostrou tão segura e tão eficaz quanto as melhores insulinas que já existiam".

No novo medicamento, “a molécula é modificada, justamente, para que ela dure uma semana na circulação sanguínea, sem causar efeitos colaterais. [A ideia é] que ela seja liberada lentamente para as células a utilizarem", comenta. Para isso, "há uma modificação na molécula dela, onde ela fica circulando ligada à nossa principal proteína, a albumina, e ao longo de uma semana vai sendo liberada aos poucos para que o organismo consiga utilizar", detalha o médico.

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Vale lembrar que a ideia é que o medicamento possa funcionar, no futuro, para os dois tipos do diabetes. No entanto, optou-se pela validação inicial contra o tipo 2. A estratégia de validação por etapas é comum na área farmacêutica, já que reduz os custos da operação e da burocracia.

Conheça a história da insulina

Voltando 100 anos na história, o diabetes já foi considerado ao equivalente a uma sentença de morte, principalmente para aqueles indivíduos que tinham o diabetes tipo 1. Naquele momento, "os médicos pouco podiam fazer pelos seus pacientes, que eram tratados à época, sem sucesso, com uma dieta controlada. O objetivo da dieta era impedir que a glicemia aumentasse, provocando o coma diabético, porém a maioria dos pacientes vinha a óbito", conta Angela Wyse, pesquisadora e professora de Bioquímica do Instituto de Ciências Básicas da Saúde (ICBS) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em artigo para o jornal da instituição.

Apenas, em 1921, o cirurgião Frederick Grant Banting e o estudante de medicina Charles Best, sob orientação do professor John James Rickard Macleod, extraíram a insulina bovina e a injetaram em cães com diabetes. No experimento da Universidade de Toronto, no Canadá, foi possível observar, pela primeira vez, a redução de glicemia e, consequentemente, estas eram as primeiras evidências do sucesso do tratamento no controle da doença.

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"O extrato se mostrou eficaz, mas apresentava impurezas. Em 1922, o cientista James Collip somou-se ao grupo, isolando uma insulina que era suficientemente pura para uso humano. O primeiro a receber esse tratamento foi Leonard Thompson, de 14 anos", detalha Wyse. Desde então, milhões de pessoas foram salvas pelo medicamento e outras tantas ainda serão beneficiadas.

Fonte: Com informações: UFRGS