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Não somos programados para nos exercitarmos, segundo paleoantropólogo de Harvard

Por| Editado por Luciana Zaramela | 12 de Outubro de 2022 às 11h22

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Graham Mansfield/Unsplash
Graham Mansfield/Unsplash

O ser humano não é programado para fazer exercícios, segundo o paleoantropólogo Daniel Lieberman, da Universidade de Harvard — ao menos, não por obrigação, e não em excesso. Não é todo dia que você encontra alguém super disposto a sair de casa cedo para fazer uma corrida ou malhar, e o cientista diz que isso é perfeitamente normal e até esperado.

Somos, na verdade, feitos para querer o contrário: nosso corpo busca evitar esforços desnecessários o tempo todo, buscando economizar energia para quando eventualmente for necessário. Fazer exercícios não é normal — isso é um mito. Cientificamente, atividades físicas são estranhas, e nunca evoluímos para isso. Mas há um porém.

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Obrigatório, mas não programado

Evoluímos, sim, para nos movermos e ser fisicamente ativos. A questão é que os exercícios são um tipo incomum de atividade, ou seja, voluntária e em prol da saúde e boa forma. Acima de tudo, é uma invenção moderna: isto é, segundo Lieberman, que vem da Idade da Pedra, considerada recente em termos históricos.

Caçadores ou agricultores da pré-história nunca se levantariam para correr 8 km nas primeiras horas da manhã. Isso só gastaria energia preciosa, necessária para atividades prioritárias, como o trabalho na terra e a caça. Nosso instinto para evitar atividades desnecessárias é muito forte. Atualmente, rotulamos quem não quer se exercitar de preguiçoso. Mas isso é falacioso, já que o comportamento é normal.

Exercícios, é claro, são benéficos, mas para grande parte das pessoas, é difícil fazer o suficiente. Segundo o paleoantropólogo, a "comercialização" dos exercícios não parece estar dando conta, então talvez pensar cientificamente possa ajudar. Ele, portanto, dá algumas dicas científicas para dar um incentivo a quem está "se comportando normalmente".

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Recomendações para os exercícios

Primeiramente, não é preciso se sentir mal por não querer se exercitar, já que o comportamento é instintivo. Somos, no entanto, racionais, e sabemos que o mundo moderno nos beneficia e requer pouca atividade para cumprir com as tarefas diárias. Como isso não faz bem à saúde, precisamos fazer mais do que o necessário — é importante, então, reconhecer os instintos e entender que até os maiores entusiastas dos exercícios lutam contra eles. Precisamos superar isso.

A segunda dica é lembrar que há duas razões para termos evoluído para sermos fisicamente ativos: precisamos suprir necessidades e ter gratificação social. Enquanto nossos ancestrais saíam para caçar ou coletar todos os dias, para não morrer de fome, eles também se exercitavam em atividades de socialização, como danças e jogos.

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A diversão trazia benefício social, então talvez possamos tornar o exercício divertido, mas também necessário. Nos juntar a um grupo de corrida pode ser uma boa ideia, já que se tornará um tipo de obrigação, mas divertida, social e necessária. Em terceiro lugar, Lieberman diz que não precisamos nos preocupar tanto. Para uma vida saudável, não precisamos nos exercitar tanto.

Nossos antepassados não eram tão fortes e ativos quanto imaginamos. Eles eram razoavelmente ativos e fortes, sim, mas não em excesso, e não corriam todos os dias: provavelmente, em torno de uma vez por semana, segundo o cientista. Estudando caçadores e coletores atuais (afinal, há tribos deles ainda vivas por aí), notamos que eles fazem atividades vigorosas por apenas cerca de 2 ¼ de hora por dia. Também não são extremamente musculosos e passam tanto tempo sentados quanto nós — cerca de 10 horas por dia.

Há um mínimo de exercício recomendado para ter uma vida saudável, sim, mas é bom ter em mente que um pouco de exercício é melhor que nenhum. Ninguém precisa malhar por horas a fio todo dia para se sentir bem e ficar saudável. 150 minutos de exercício por semana, o equivalente a 21 minutos por dia, já reduz as taxas de mortalidade em 50%, segundo estudos.

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Por fim, é importante não parar de fazer exercícios. No mundo ocidental, quando nos aposentamos, temos a noção de que é normal levar a vida com calma. Isso fica em torno dos 65 anos. Mas nosso corpo evoluiu para ser fisicamente ativo por toda a vida: continuar ativos nos ajuda a viver mais e continuar saudáveis. Exercícios ativam mecanismos de reparação e manutenção que neutralizam os efeitos do envelhecimento.

Caçadores-coletores atuais, por exemplo, vivem quase tanto quanto quem está na sociedade industrializada ocidental, mas com a diferença de que sua expectativa de vida é bem próxima da sua expectativa de saúde. Na sociedade industrializada, no entanto, é comum termos medo de passar anos incapacitados antes de morrer.

Perdemos força e as tarefas básicas ficam difíceis, ficamos menos ativos ainda e menos aptos, entrando num ciclo de enfraquecimento terrível. Para evitar isso, é melhor começar a evitar os instintos desde já — e continuar se movendo por toda a vida, mesmo sem necessidade. Na pior das hipóteses, podemos imitar os homens pré-históricos e dançar, não é mesmo?

Fonte: BBC