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Não, aparelhos celulares não aumentam risco de tumor no cérebro, mostra estudo

Por| Editado por Luciana Zaramela | 31 de Março de 2022 às 08h30

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Rawpixel/Envato
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Pesquisadores da Oxford Population Health e da Organização Mundial da Saúde (OMS), através da International Agency for Research on Cancer (IARC), realizaram um estudo prospectivo — quando o participante entra na pesquisa antes de desenvolver a doença estudada — para investigar a relação entre o uso de telefones celulares e o risco de tumor cerebral associado a isso. O estudo foi publicado na revista científica Journal of the National Cancer Institute.

Como aparelhos móveis como os celulares emitem ondas de radiofrequência e são mantidos próximos à cabeça durante o uso (em ligações, mais especificamente), preocupações acerca da exposição dos lobos temporal e parietal do cérebro surgiram junto à popularização deles, especialmente após organizações como a IARC terem classificado as ondas em questão como "possivelmente carcinogênicas".

O problema da maior parte dos estudos feitos até o momento é que eles foram feitos em retrospectiva, ou seja, em pessoas que reportaram uso de celular após seu diagnóstico de câncer. Isto, é claro, torna os estudos enviesados.

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Celular e tumores: qual a metodologia?

Os dados da pesquisa foram retirados do UK Million Women Study, um estudo em andamento que abarca uma em cada quatro mulheres no Reino Unido nascidas entre 1935 e 1950. As 776.000 participantes responderam questionários acerca de seu uso de telefones celulares em 2001, e metade delas ainda foi questionada novamente em 2011. Através do National Health Service (NHS, programa de saúde pública que inspirou o SUS brasileiro), essas mulheres foram acompanhadas por cerca de 14 anos, avaliando seu estado de saúde.

Alguns tipos específicos de tumor cerebral foram examinados em relação a seu risco pelo uso de aparelhos móveis. São eles:

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  • Glioma, tumor no sistema nervoso;
  • Neuroma do acústico, tumor no nervo que conecta o cérebro e o ouvido interno;
  • Meningioma, tumor na membrana que circunda o cérebro;
  • Tumores na glândula pituitária.

O estudo também investigou uma possível relação entre o uso de celulares e o risco de tumor nos olhos. Segundo o estudo, 75% das mulheres entre 60 e 64 anos utilizava algum aparelho celular móvel, metade delas entre 75 e 79 anos. Nos 14 anos de acompanhamento seguintes, 3.268 das mulheres desenvolveram tumores cerebrais (0,42%).

Entre as que utilizaram telefones celulares e as que nunca o fizeram, não houve diferença significativa no risco de desenvolver os tumores em questão, incluindo as áreas mais expostas, como os lobos temporal e parietal, segundo o estudo.

O risco de desenvolver os tipos de tumor presentes na lista acima também não aumentou nas usuárias de celular, e o lado em que os tumores aparecem é similar entre elas e o grupo de não-usuárias, mesmo que se costume utilizar o celular no lado direito da cabeça.

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Uma das co-autoras do estudo, Kirstin Pirie, comenta que os resultados corroboram evidências crescentes de que o uso de celular — sob condições normais — não aumenta o risco de tumores na população.

Problemas do estudo

Apesar dos resultados animadores, é importante notar que não há estudos abarcando o uso de aparelhos móveis em usuários mais frequentes do que as mulheres britânicas estudadas. Apenas 18% das participantes relataram falar no celular por 30 minutos ou mais por semana. O estudo também não incluiu crianças ou adolescentes, embora outras pesquisas já tenham considerado essa faixa etária e igualmente não encontrado relações entre a prática comunicativa e a incidência de tumores benignos ou malignos.

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O autor principal do IARC, Joachim Shüz, comentou que a tecnologia vem sendo modernizada o tempo todo, então gerações de celulares mais novas vêm emitindo menos ondas de radiofrequência. Apesar disso, ele lembra que há falta de dados acerca de usuários mais assíduos, e recomenda reduzir exposição desnecessária aos aparelhos, ao menos preventivamente. Uma dica é utilizar o viva-voz, fones de ouvido ou outros dispositivos que permitam falar longe do celular caso o uso prolongado seja necessário.

O estudo foi financiado pelo UK Medical Research Council e a Cancer Research UK.

Fonte: Journal of the National Cancer Institute, OMS