Por que a Ômicron tende a causar quadros mais leves da covid?
Por Fidel Forato | Editado por Luciana Zaramela | 26 de Janeiro de 2022 às 09h45
Pesquisadores da Alemanha investigaram o porquê de a maioria dos quadros da covid-19, desencadeados pela variante Ômicron (B.1.1.529) do coronavírus SARS-CoV-2, ser mais leve do que os casos da Delta (B.1.671.2). A principal justificativa é que a nova cepa parece ser menos capaz de desativar os mecanismos de defesa do organismo, mais especificamente a resposta ao interferon.
- Pfizer começa estudo de vacina contra Ômicron em humanos
- Por que a Ômicron aumenta o número de internações de crianças no hospital?
Além disso, a equipe de cientistas avaliou a eficácia dos remédios já existentes contra a covid-19 para o combate da Ômicron in vitro, como o remdesivir e o molnupiravir. Publicado na revista científica Cell Research, o estudo foi desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Kent e da Universidade Goethe de Frankfurt.
Casos mais leves da covid
A nova variante causa formas menos graves da covid-19 do que a Delta. Para os pesquisadores, isso ocorre porque a "Ômicron parece ser menos eficaz em antagonizar a sinalização celular do interferon do que a Delta".
Vale explicar que os interferons são um tipo de proteína do sistema imune. Eles induzem tanto a célula infectada quanto as células próximas a produzirem outras proteínas que impedem a replicação viral. A atividade que desempenham é fundamental para combater infecções nos primeiros estágios.
Através das análises, os pesquisadores observaram que a Ômicron é particularmente sensível à inibição pela chamada resposta do interferon, o que não ocorria com as outras variantes e pode explicar a menor propensão dos infectados a desenvolver formas graves da doença.
O professor Martin Michaelis, da Escola de Biociência da Universidade de Kent, disse, em comunicado: "Nosso estudo fornece, pela primeira vez, uma explicação sobre o porquê das infecções por Ômicron serem menos propensas a causar doenças graves ao inibir a resposta imune do interferon da célula hospedeira".
Se o mecanismo dos interferons parece funcionar melhor contra a Ômicron, os pesquisadores ainda não sabem por que a variante é melhor em escapar da proteção imunológica produzida por vacinas ou infecções anteriores.
Remédios contra a Ômicron
"A proteção fornecida pelas vacinas atuais é substancialmente reduzida contra a Ômicron. Além disso, muitos indivíduos imunocomprometidos não podem ser efetivamente protegidos por vacinas", afirmam os autores do estudo. Nesse cenário, "as terapias antivirais serão essenciais para proteger os indivíduos mais vulneráveis da covid-19 grave", pontuam.
Para verificar a eficácia dos remédios contra a nova variante, a equipe testou, em laboratório, a resposta de oito importantes medicamentos ou candidatos a medicamentos contra a covid-19. A conclusão é que permanecem eficazes.
A seguir, confira os principais remédios que neutralizaram a Ômicron:
- EIDD-1931 (composto presente no remédio molnupiravir);
- Ribavirina;
- Remdesivir;
- Favipravir;
- PF-07321332 (composto presente no paxlovid);
- Nafamostat;
- Camostat;
- Aprotinina.
"Embora os experimentos de cultura de células não reflitam exatamente a situação mais complexa de um paciente, nossos dados fornecem evidências encorajadoras de que os medicamentos antivirais contra a covid-19 disponíveis também são eficazes contra a Ômicron", explicou Jindrich Cinatl, professor da Universidade Goethe.
Fonte: Cell Research