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Mutação genética que quebra a resistência do sistema imune a vírus é estudada

Por| Editado por Luciana Zaramela | 17 de Maio de 2022 às 17h39

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Warren Umoh/Unsplash
Warren Umoh/Unsplash

Cientistas tem descoberto, nos últimos anos, mutações genéticas que desabilitam as funções do sistema imune que combatem, entre outras coisas, vírus como o da covid-19 e do sarampo, especificamente em crianças de algumas minorias étnicas. Os genes em questão são os IFNAR 1 e 2, proteínas que se ligam em interferons, cuja função é impedir infecções virais no corpo humano.

O que desencadeou os achados foram alguns casos de crianças ficando muito doentes após receber a tríplice vacina, que protege contra os vírus do sarampo, caxumba e rubéola — a deficiência do sistema imune é tão severa que mesmo as versões enfraquecidas dos patógenos presentes nos imunizantes foram capazes de adoecer e até mesmo matar crianças com as mutações específicas.

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Mistério genético

O primeiro caso documentado da mutação genética foi um estudo do cientista e clínico Christopher Duncan, que se dedicava à imunidade viral e interferons na Newcastle University, e identificou uma variação genética em uma família irlandesa: era o caso de um bebê de 13 meses que sofreu de encefalite, uma inflamação no cérebro, após a tríplice vacina, e veio a óbito. A causa da falta de imunidade foi a mutação no gene IFNAR 2, como relatado na revista Science Translational Medicine, em 2015.

Crianças no Alaska, norte do Canadá e Groenlândia também tiveram problemas com vírus e tinham a mesma variação genética, chamando a atenção de pesquisadores, que começaram a contatar Duncan e seus colegas. Junto a Trine Mogensen, professor de imunologia na Aarhus University, a pesquisa começou a revelar um padrão: tanto o infante gronelandês quanto os do Alaska tinham origem inuíte ou nativo-americana do noroeste estadunidense.

Investigando os dados genéticos de 5.000 inuítes, os cientistas descobriram que a variante genética era muito comum: 1 em cada 1.500 pessoas nessa população a carregavam, o que foi surpreendente tanto pela prevalência quanto pelo tempo durante o qual a condição ficou "escondida". Entende-se que, nessas populações, as pessoas descendem de grupos relativamente pequenos, se isolando e não se misturando com populações estrangeiras, fazendo com que mutações como a estudada fiquem mais prevalentes.

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Os pesquisadores, então, teorizam que muitas crianças possam ter morrido antes da variação genética ser descoberta, já que faz pouco tempo que investigações vêm sendo feitas. A ideia, agora, é analisar mais amostras do passado para ter um panorama de quão comum a mutação é, e possivelmente incluir um exame para identificar variações genéticas em países com populações inuítes.

O caso mostra como proteínas do sistema imune, como os interferons, funcionam: muito do nosso conhecimento sobre imunologia vem de testes em modelos animais, que estão longe de ser réplicas perfeitas dos seres humanos. A busca por bases genéticas para deficiências no sistema imune é um campo em crescimento na imunologia, com cerca de 400 "erros imunes de nascença" já registrados.

Em polinésios ocidentais, por exemplo, que tem descendência samoana, o problema é no gene IFNAR 1, que também se liga em interferons, desta vez do tipo 1, e causa problemas imunes como os das crianças inuítes. O que não se sabe ainda, no entanto, é como essas populações puderam carregar esses genes por tanto tempo, sendo tão vulneráveis a vírus por conta da mutação.

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As teorias mais aceitas dizem que a resposta está em quão remotas e protegidas essas etnias são, evitando se expor aos vírus de populações europeias, por exemplo. Outros, como Mogensen, acreditam que possa haver alguma vantagem providenciada pela mutação, como imunidade a outras doenças, mas, até o momento, trata-se apenas de uma suposição. Esses estudos, segundo os cientistas, evidenciam a necessidade de catalogar o genoma de populações não-europeias.

Fonte: Inflammation and Regeneration, JEM 1, 2, Science Translational Medicine