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Multitarefas | Fazer muita coisa de uma só vez pode prejudicar a saúde mental

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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wayhomestudio/Freepik
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Com a chegada da vida adulta, torna-se praticamente impossível realizar poucas atividades no dia a dia. Além de trabalho e estudo, é preciso cuidar da casa, cozinhar, fazer compras, realizar a higiene pessoal, criar filhos, animais de estimação, entre outras coisas, faltando tempo para cumprir tarefas para o prazer próprio, como encontrar amigos, assistir a um filme e diversas outras formas de lazer.

Algumas pessoas sentem uma certa facilidade em realizar várias tarefas ao mesmo tempo, sendo elas classificadas como multitarefas. Porém, mesmo que o termo possa aparentar ter um significado positivo, deixando a entender que a pessoa é capaz de realizar todas as atividades diárias sem deixar nada pendente, estar nessa situação diariamente pode ser um risco à saúde mental e física. Inclusive, algumas atividades, como dirigir e falar ao telefone, por exemplo, colocam outras vidas em risco.

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Para entender melhor o que se trata o termo multitarefa e quais são as suas consequências sociais e para a saúde, o Canaltech conversou com o psiquiatra Eduardo Perin, especialista em Terapia-Cognitivo-Comportamental (TCC), e com o psicólogo, mestre e doutor em neurociência, Yuri Busin, que também é diretor do Centro de Atenção à Saúde Mental - Equilíbrio (CASME).

Afinal, o que é ser multitarefas?

Busin diz que as pessoas classificam o ato de ser multitarefas como conseguir fazer várias coisas ao mesmo tempo e, de fato, conseguir prestar atenção em todas elas. No entanto, na realidade não é bem assim. "As pessoas tentam focar rapidamente em duas ou três coisas ao mesmo tempo, mas isso acaba gerando muito estresse, ansiedade e prejuízos", diz o profissional, afirmando que é possível apenas se concentrar em uma coisa. Então, o ideal seria escolher, desde o início, focar em uma atividade por vez e seguir com uma lista, caso contrário alguns detalhes podem ficar para trás, prejudicando diferentes questões da vida, não só a saúde.

Perin também comenta sobre a falácia de que existe a possibilidade de focar em duas ou mais atividades ao mesmo tempo, afirmando que é impossível."O que acontece quando estamos realizando várias tarefas é uma alternância de foco de atenção. Prestamos um pouco de atenção em uma coisa, desviamos o foco e prestamos atenção em outra, e assim por diante. Ninguém é capaz de realizar duas tarefas e focar a atenção em duas delas ao mesmo tempo", diz o médico.

O psiquiatra salienta ainda que as pessoas multitarefas costumam apresentar quadros de estresse, ansiedade, depressão e transtornos do humor, uma vez que estão gastando mais energia do que o habitual, e a partir do momento em que esses sintomas se tornam perceptíveis, é preciso começar a avaliar a possibilidade de realizar uma atividade de cada vez, partindo para a próxima apenas quando uma for terminada. Essa mudança, claro, precisa ser feita sempre que for possível, pois existem casos em que um indivíduo não tem outra opção a curto prazo, sem planejamento.

Síndrome de Burnout

Existe um outro termo relacionado ao ato de ser multitarefas, este envolvendo mais o quesito profissional: o Burnout. Quando se trabalha demais e não sobra tempo para descansar e realizar atividades para o relaxamento, um indivíduo pode começar a sofrer da Síndrome de Burnout. "Geralmente, atinge pessoas muito perfeccionistas, que querem entregar à empresa tudo o que ela pede, mas que acaba sofrendo uma pressão cada vez maior, já que ela percebe que o funcionário está trabalhando bastante. Vem uma pressão para que ela faça cada vez mais coisas", explica Eduardo Perin.

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O psiquiatra conta que esse excesso de trabalho gera consequências que prejudicam a atenção e o sono, aumentam a ansiedade e sintomas de depressão, como tristeza, desânimo e falta de prazer, fazendo ainda com que a pessoa passe a se isolar socialmente. O termo Burnout, segundo o médico, significa "queimar por completo", pois a pessoa "queima" todas as suas energias com o trabalho, até o momento em que não consegue fazer mais nada. A patologia é considerada tão grave que pode até resultar em agressividade e, em casos mais extremos, em tendências suicidas.

"Basicamente, a vida da pessoa se torna o trabalho. Ela perde o contato social, muitas vezes não dorme porque precisa trabalhar, se mostra muito ansiosa com o dia seguinte, o apetite cai, e a pessoa passa a ter sintomas de irritabilidade e sarcasmo em relação ao trabalho e as pessoas que trabalham com ela. A pessoa se torna distante afetivamente, parecendo um robô, até que ela acaba desenvolvendo um quadro de pânico ou ansiedade muito intensa, juntamente a outros sintomas, e precisa se afastar dessas atividades", detalha Perin.

Yuri Busin ressalta que nem todas as pessoas consideradas multitarefas podem sofrer da Síndrome de Burnout, visto que a condição é extremamente grave, "como se a pessoa estivesse em um abismo em relação ao trabalho". O psicólogo também reforça que o estresse excessivo é um sintoma que pode acender um alerta de que algo mais grave pode acontecer.

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Mulheres são mais multitarefas do que os homens?

Perguntamos a Eduardo Perin se existe algum dado que comprove que mulheres são mais multitarefas do que os homens, uma vez que a sociedade acaba cobrando ainda mais do gênero feminino. O psiquiatra diz que as mulheres realmente são mais multitarefas do que os homens, inclusive pela questão das diferenças cerebrais, e por conta da maternidade, do ponto de vista biológico e do histórico reprodutivo. “Então, o cérebro da mulher já comporta mais tarefas ao mesmo tempo do que o cérebro do homem”, conta o profissional.

Perin também reforça a questão revelando que os homens são mais prováveis a sofrerem de déficit de atenção, mas as mulheres são as que mais têm chances de desenvolver sintomas depressivos e de ansiedade.

Como ser multitarefas e manter uma vida saudável?

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Ambos os profissionais recomendam que as tarefas sejam realizadas uma de cada vez, começando uma nova apenas quando a outra estiver terminada. No entanto, sem o cuidado diário, as funções podem acabar se acumulando e a pessoa perde o controle das suas atividades diárias, começando a apresentar os sintomas de irritabilidade e depressão. É quando é preciso recorrer a um profissional para manter a mente estabilizada, como psicólogos e psiquiatras, que podem ajudar o paciente a ter um melhor controle da vida na medida do possível, seja com psicoterapia ou com medicação.

Mesmo com a realidade de que cada caso é diferente do outro, Busin diz que é importante cumprir intervalos ao longo do dia, parando o trabalho totalmente por cerca de cinco a 10 minutos, fazendo algo que traz prazer ao indivíduo. "Esse tipo de comportamento faz com que a pessoa consiga estabilizar um pouco o estresse, pois ela está 'injetando' em si um pouco de bem-estar, chegando ao final do dia muito menos desgastada", aconselha o psicólogo.

Busin conta ainda que é muito difícil se manter focado por mais de 50 minutos, pois nós acabamos nos distraindo com outros pensamentos, o que mostra ser ainda mais importante ter intervalos para não chegar a exaustão de uma tarefa e nunca conseguir finalizá-la. "Você tem que tirar o intervalo enquanto você ainda está se sentindo bem, e quando voltar vai continuar mantendo o bem-estar e a produtividade. Temos que evitar chegar à exaustão", completa.

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Eduardo Perin também reforça a necessidade de ter lazer todos os dias, além da dedicação ao trabalho. O profissional diz ainda que ter um pouco de ansiedade acaba sendo normal, pois assim as pessoas conseguem cumprir com as suas atividades, mas a partir do momento em que o nervosismo se torna extremo, é preciso relaxar. "Temos que colocar em nossos dias atividades que sejam para a gente, para nos beneficiar, nem que seja sair para tomar um café, respirar um ar puro, ouvir uma música ou assistir a um filme. São coisas pequenas que fazem muita diferença para manter a nossa saúde mental, o nosso humor e a nossa ansiedade dentro dos limites", diz o psiquiatra.