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Beber energético faz bem ou mal? Entenda os efeitos e riscos do consumo

Por| Editado por Luciana Zaramela | 26 de Março de 2021 às 15h10

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Adriano Gadini/Pixabay
Adriano Gadini/Pixabay

As propagandas de energéticos estão por toda parte, assim como esses produtos estão sempre disponíveis em qualquer prateleira que faça a venda de bebidas em geral, desde mercados e postos de gasolina até farmácias. A promessa do produto é deixar a pessoa acordada e gerar energia para o corpo, o que faz com que muitas pessoas que têm uma vida agitada, ou que simplesmente não querem sentir sono quando não podem, consumam a bebida constantemente.

No entanto, pouco se fala sobre os problemas que o consumo excessivo de bebidas energéticas pode trazer ao organismo, envolvendo questões neurológicas, cardiológicas e psiquiátricas. Para tentar entender quais são os efeitos do consumo dos energéticos, seus benefícios e riscos, o Canaltech conversou com quatro profissionais com muito a dizer sobre o assunto, sendo eles uma cardiologista, dois neurologistas e uma nutricionista.

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A nutricionista clínica, funcional e esportiva Gabriela Cilla, que também é gastróloga, explica que a "mágica" das bebidas energéticas é a alta quantidade de cafeína, taurina e açúcar existente em cada dose de uma lata. A cafeína funciona por ter ação cognitiva, de relaxamento e de disposição, melhorando também a cognição mental, física e a percepção do esforço, além de diminuir a letargia. Já a taurina, que é produzida pelo próprio corpo, atua com ação detoxificante e antioxidante. "Todas as bebidas energéticas contém princípios ativos excitatórios para o sistema nervoso central (taurina, cafeína, açúcar). Tudo o que tem esse potencial pode provocar depressão e ansiedade, aumento de pressão, de percepção de esforço, fadiga, diminuição de sono, além de compulsão e fome excessiva. Tudo isso com o excesso de ingestão desses princípios ativos", explica a nutricionista.

Rosana Cardoso Alves, neurologista e especialista em Medicina do Sono do Fleury Medicina e Saúde, conta também que a cafeína e a taurina fazem com que os indivíduos fiquem ainda mais acelerados e excitados, até mesmo agindo de forma impulsiva. "Muitas pessoas tomam essas bebidas energéticas para ficarem acordadas ou porque têm sonolência, mas também existem os jovens que querem ficar a noite inteira acordados, tanto em jogos, vídeos e em redes sociais, e eles ingerem bebidas à base de cafeína e taurina justamente para ficarem mais acordados, o que pode ser perigoso", conta a profissional.

Alves explica que existem dois problemas significativos. O primeiro é a questão de os energéticos serem estimulantes, o que pode ser perigoso para quem já possui algum transtorno psicológico ou psiquiátrico, apresentando piora do quadro. "Um exemplo: se a pessoa tem um perfil ansioso, a tendência é ficar ainda mais acelerada e com mais ansiedade", conta. Já o segundo risco está relacionado à privação do sono. "O que nós vemos no dia a dia é que, às vezes, as pessoas ficam tomando energéticos para ficarem acordadas por mais tempo, mas a privação do sono pode trazer malefícios. Em longo prazo ela altera a memória, a atenção e o comportamento, e com o passar dos anos, aumentam os riscos cardiovasculares e de obesidade. Então, é assunto de saúde pública", completa.

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A cardiologista Paola Emanuela Poggio Smanio, do Grupo Fleury, também falou sobre os efeitos das bebidas energéticas, afirmando que, na verdade, elas não são energéticas, mas sim estimulantes do sistema nervoso central. "A maioria tem duas substâncias: a cafeína e a taurina, ambas em excesso. Os efeitos são o aumento da pressão arterial, aumento dos batimentos cardíacos e também da frequência respiratória, deixando a pessoa mais ofegante. O consumo com muito excesso, além de acelerar o batimento cardíaco, pode causar arritmias cardíacas", relata a médica.

Smanio também fala sobre as interferências das bebidas no sono, contando que a pessoa acaba entrando em um círculo vicioso para driblar a vontade natural de dormir. "A pessoa fica estimulada e não dorme, então fica muito mais tempo sem dormir e, no dia seguinte, ela está exausta e toma [o energético] de novo. Tem pessoas que já têm o distúrbio do sono e nem sabem, e o distúrbio do sono por si só, segundo estudos científicos, já levam ao aumento da pressão arterial", reforça.

O neurologista Fabio Porto, do Hospital das Clínicas de São Paulo, nos contou que a cafeína presente nos energéticos tem efeitos farmacológicos, inibindo uma substância chamada adenosina, que funciona como um marcador do cansaço. Então, ela estimula, ela aumenta a tensão, aumentando também os hormônios do estresse, como a adrenalina. O médico diz ainda que, às vezes a cafeína tem efeitos bons, como aumentar o metabolismo, mesmo que seja pouco.

Energéticos, drogas e bebidas alcoólicas

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As profissionais também alertam para o consumo de bebidas energéticas junto a bebidas alcoólicas e drogas ilícitas, contando que reações mais severas ao uso de energéticos sempre acabam sendo relacionadas a essa mistura. "A combinação de bebida energética, álcool e drogas pode ser explosiva para um organismo, por isso precisamos tomar muito cuidado", alerta a neurologista, dizendo que podem até trazer convulsões, principalmente provocadas por algum tipo de arritmia, mas que é raro que deixem sequelas. Além de convulsão, uma overdose pode provocar parada cardíaca ou até uma hipóxia cerebral, quando é reduzido o fornecimento de oxigênio para o cérebro.

Paola diz que também é importante pontuar que a associação do excesso de cafeína com taurina, que estimula o sistema nervoso central, vai mascarar o efeito do álcool. "Então, faz com que a pessoa consuma uma quantidade ainda maior de álcool, podendo chegar a uma intoxicação e coma alcoólico porque a pessoa não sabe quando parar. O álcool também leva a pessoa à euforia e a desinibição, então quanto maior a dose, maiores serão os efeitos, inclusive comportamentais", explica a médica cardiologista.

Quanto energético posso tomar?

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A fim de comparação, a cardiologista conta que uma lata de energético possui, em média, até 80 mg de cafeína, enquanto uma xícara de café de 30 ml tem 35 mg da substância, mais que o dobro. Ainda assim, não é possível generalizar e dizer o quanto de cafeína e taurina uma pessoa pode ingerir por dia, pois cada um tem um metabolismo ou reação diferente ao consumo. 

Dra. Rosana diz também que algumas pessoas são mais suscetíveis ao energético, enquanto outras são menos, e que isso vai depender dos receptores e neurotransmissores de cada indivíduo. "Tem as pessoas fazem aquele comentário clássico: 'eu posso tomar bastante café que o meu sono não vai ser afetado', e tem aquelas que vão dizer que tomam só um pouco de café e acabam dormindo muito mal", exemplifica.

A nutricionista também diz que a questão é muito individual, pois existem pessoas que absorvem a cafeína mais rápido e aquelas que absorvem a substância lentamente, e que mesmo apesar dessa individualidade, as bebidas não são recomendadas por causa da dosagem. "Se tem um paciente que, por exemplo, é diabético, a gente não recomendaria porque a quantidade de açúcar é extremamente elevada, assim como [não recomendaria a] pacientes com pressão alta e quem tem a ansiedade mais elevada", diz Cilla.

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Dra. Paola também diz que nunca é recomendado a um paciente a ingestão de bebidas energéticas, mas caso um paciente queira fazer, todas as profissionais deixaram claro que ele precisa verificar as condições da própria saúde. "Tem que verificar, primeiro, se ela não tem arritmia cardíaca, hipertensão ou algum problema cardiovascular, distúrbio do sono e até problemas gástricos, porque a cafeína também vai piorar esse problema, e o ideal é que a ingestão não passe de uma lata", complementa.

A cardiologista cita também que, de forma geral, quem for beber faça a ingestão de, no máximo, 2,5 mg de cafeína por peso de um adulto, então multiplicando pela quantidade de cafeína presente em uma lata de energético e quantas serão consumidas. A médica completa dizendo que entre os sintomas do uso exagerado das bebidas, além de arritmias, agravamento do quadro de ansiedade e crises convulsivas, também estão náuseas, dores de cabeça, irritabilidade e insônia.

A especialista diz ainda que se a pessoa venha a ter esses sintomas, é importante que ela se hidrate bastante, principalmente se fez o consumo com álcool, ingerindo bastante água. Em alguns casos, é preciso buscar hospitalização para receber a hidratação intravenosa, possivelmente administrada com glicose.