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Manipulação de células-tronco faz camundongos nascerem de dois pais

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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Karsten Paulick/Pixabay
Karsten Paulick/Pixabay

Em feito histórico para a ciência, cientistas japoneses conseguiram que camundongos nascessem a partir de células provenientes de dois pais biológicos (machos). A geração de uma prole de roedores saudáveis só foi possível com a manipulação de células-tronco em laboratório e, no momento, a técnica não é segura para humanos. Apesar disso, o experimento bem-sucedido abre novos caminhos para pesquisas envolvendo a infertilidade.

Liderado por pesquisadores da Universidade de Kyushu, no Japão, o estudo envolvendo roedores nascidos a partir de dois pais foi publicado na revista científica Nature. No processo de desenvolvimento dos fetos, a equipe também recorreu a um ovário organoide — tecido criado artificialmente — e a uma fêmea para a etapa de crescimento do embrião.

Dois pais podem gerar filhos saudáveis de camundongos?

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Aqui, é importante explicar que tanto em humanos quanto em camundongos o sexo biológico é determinado pela existência de dois cromossomos sexuais. Por exemplo, as células biologicamente femininas têm duas cópias do cromossomo X (XX). Enquanto isso, as células masculinas têm um cromossomo X e um cromossomo Y (XY).

Para viabilizar o experimento, os cientistas recolheram células da pele dos roedores e, dentro do laboratório, foram convertidas novamente em células-tronco e manipuladas para terem os cromossomos XX — o "natural" seria elas terem os cromossomos XY, mas o Y foi deletado e substituído por um outro X idêntico ao já existente. Por fim, as células modificadas foram diferenciadas em óvulos (gameta "feminino").

A partir daí, o processo seguiu de forma mais conhecida. Durante um tempo, os óvulos foram cultivados em organoides até amadurecerem. Em seguida, eles foram fertilizados por espermatozoides (gameta masculino), vindos de um outro pai. Por fim, os embriões foram inseminados em uma fêmea saudável.

Dos 630 embriões fertilizados, apenas 1% — o que equivale a sete — culminou no nascimento de filhotes de camundongos saudáveis. Hoje, a baixa eficácia do método é uma das limitações da técnica, que ainda deve ser aperfeiçoada.

Riscos na manipulação de células-tronco

Enquanto a taxa de eficácia da técnica é baixa, os riscos envolvidos são significativos. Isso porque o tempo necessário de cultivo das células-tronco é relativamente longo e, quanto mais demorado, maiores são os riscos de problemas ocorrerem, como erros genéticos. Por exemplo, a síndrome de Down e a síndrome de Turner estão diretamente relacionadas com cromossomos extras ou deletados acidentalmente no código genético.

Por outro lado, a descoberta pode ampliar os estudos envolvendo a área da infertilidade. Em tese, o mesmo procedimento poderia ser feito com células provenientes de mulheres com dificuldades em ter filhos. Além disso, poderia permitir que casais homossexuais tenham filhos biológicos. No entanto, ambos os cenários não devem acontecer nos próximos anos e inúmeros estudos ainda são necessários antes de qualquer teste envolvendo gametas ou embriões humanos.

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Fonte: Nature (1) e (2)