Isolamento social tem relação com o encolhimento do cérebro?
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
Não é segredo que ter relacionamentos sociais é um hábito saudável. Tanto é que o contato com amigos e familiares é um dos fatores associados com o menor risco de declínio cognitivo. Na contramão, pesquisadores japoneses identificaram uma possível relação entre o isolamento social (falta de contato social) e um menor tamanho do cérebro.
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Aqui, é preciso pontuar que, por enquanto, o estudo não provou que o isolamento social causa obrigatoriamente o encolhimento do cérebro, apenas demonstrou a associação. Só que esta pode pode ser desencadeada por fatores externos não incluídos na investigação.
Outro ponto é que toda a pesquisa foi desenvolvida com pessoas com mais de 70 anos e que moravam no Japão. Dessa forma, resultados diferentes podem ser observados em populações diferentes. Por isso, a atual pesquisa deve ser lida como uma possível porta de entrada para a discussão sobre a importância do contato social.
O impacto do isolamento cerebral no cérebro
Publicado na revista científica Neurology, o estudo envolveu 8,8 mil idosos com um idade média de 73 anos. Nenhum dos indivíduos recrutados tinha diagnóstico prévio para algum tipo de demência, como a doença de Alzheimer.
Pensando na pesquisa em si, os voluntários passaram por exames de ressonância magnética no cérebro. Além disso, eles precisaram responder um questionário sobre a frequência que mantinham interações sociais. Inclusive, responderam se esse contato era presencial ou falando por telefone, por exemplo.
Segundo os pesquisadores, as pessoas que tinham menos contato social e que passavam mais tempo isoladas tinham um volume cerebral significativamente menor do que aquelas mais ativas socialmente. A diferença era mais significativa em áreas do cérebro normalmente afetadas pela demência.
Para dimensionar, o volume cerebral total (a soma da substância branca e da massa cinzenta) era de 67,3% entre aqueles com pouco contato. Enquanto isso, para os mais sociáveis, o índice subia para 67,8%. Prováveis casos de depressão não explicam a diferença de volume.
Ter amigos e bons contatos sociais pode significar mais saúde
“Embora este estudo seja um instantâneo e não determine que o isolamento social cause atrofia cerebral, alguns estudos mostraram que expor pessoas mais velhas a grupos socialmente estimulantes interrompeu ou até reverteu declínios no volume cerebral e melhorou as habilidades de pensamento e memória”, explica Toshiharu Ninomiya, da Universidade de Kyushu, em nota.
Diante desse entendimento, “é possível que as intervenções para reduzir o nível de isolamento social das pessoas podem prevenir a perda de volume cerebral e a demência que muitas vezes se segue”, acrescenta Ninomiya. Entender melhor esse processo é fundamental em um mundo onde a população não para de envelhecer.