Informado via rádio amador, povo indígena Zoé é 100% vacinado contra covid-19

Envoltos pela vasta vegetação da floresta amazônica vivem os 300 indígenas da etnia Zoé, divididos em 50 aldeias. O acesso a essa população não é fácil, já que exige pelo menos duas horas de voo e um longo passeio de canoa. Por causa disso, a Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) recorreu a um método para se comunicar com eles a fim de garantir sua saúde: um rádio amador.

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A população Zoé mora na calha norte do Rio Amazonas, entre os rios Cuminapanema e Erepecuru, norte do Pará. Frente aos perigos da pandemia, a reação desse povo foi se isolar e evitar não apenas o contato com os não-indígenas, mas também estabelecer uma divisão de grupos na própria população, sem que um grupo cruzasse o caminho do outro.

Em setembro de 2020, a Unidade Básica de Saúde Indígena (UBSI) da Terra Indígena Zoé passou a contar com uma UTI para atendimentos de emergência, enquanto a Unidade de Atenção Primária Indígena (UAPI) foi responsável pelo tratamento de casos leves de covid-19.

O Distrito Sanitário Especial Indígena Guamá Tocantins (DSEI GUATOC) abrange uma área territorial de 325.754,25 hectares, distribuídos em 225 aldeias localizadas em 23 municípios no estado do Pará e uma no estado do Maranhão. Atualmente, o Distrito consta com 476 profissionais de saúde que atuam em nove Polos Bases e cinco Casas de Saúde Indígena - CASAI.

Os profissionais que atuam junto aos Zoé trabalham sob um "Protocolo de Acesso à Terra Indígena Zoé". O documento compõe o “Plano de Contingência para Prevenção e Combate à covid-19 na Terra Zoé”, que determina o estabelecimento de barreiras sanitárias no entorno e no interior da terra indígena em questão. O plano também determina a realização de exames PCR, monitoramento clínico e observação de estrito isolamento antes de cada acesso e nos primeiros dias após a chegada na base, além da desinfecção de aeronaves e insumos levados para lá.

A comunicação via rádio amador com as aldeias já acontecia antes mesmo da pandemia, mas foi essencial para garantir a cobertura vacinal entre o povo Zoé, que chegou a 100% de vacinados. A população também foi completamente imunizada contra a influenza.

Rádio amador leva informação ao povo indígena

Em entrevista ao Canaltech, o Coordenador do DSEI Guamá-Tocantins, Stanney Nunes, conta que quem recebe as chamadas são as equipes multidisciplinares de saúde indígena que estão na base. “A equipe procura um indígena que entenda melhor e repassa as orientações para a base e para as aldeias. Todas as aldeias têm rádio amador e se comunicam com a base, principalmente nos momentos de emergência”, relata.

Um ponto interessante é que toda essa comunicação é feita na língua nativa, uma vez que a população Zoé não fala português. “A adaptação dos colaboradores ocorre por meio de gravações, áudios e anotações, ouvindo os Povos Indígenas Zoé. Com a chegada da composição da Equipe Multidisciplinar, enfermeiros e demais colaboradores foram aprendendo com os técnicos que se encontravam ali, que já sabiam um pouco da língua e foram transmitindo para a equipe”, explica.

Segundo Nunes, o Ministério da Saúde elaborou um Plano de Contingência e estratégias de vacinação através do diálogo sobre a importância da vacinação contra a covid-19. “A população indígena Zoé é conhecedora dos benefícios da imunização. Para eles, o dia da vacina é um evento em que toda a comunidade se mobiliza”, observa o coordenador.

No que diz respeito à vacinação infantil, as expectativas são as mesmas do início da vacinação: que toda essa população seja vacinada. “A expectativa é vacinar 59 crianças de 5 a 11 anos, e como estratégia, serão usados três pontos ao redor da base para facilitar o acesso deles à vacina”, finaliza o coordenador. A população jovem de 12 a 17 anos também chegou a ser 100% vacinada com as duas doses da vacina contra a covid-19.

A seguir, veja como se dá a comunicação do SESAI com o povo Zoé via rádio: