Humanos 2.0 | 5 histórias de amputação com final feliz graças à tecnologia
Por Ares Saturno |
Evidências históricas sugerem que amputações de membros são tão antigas quanto a própria humanidade. Segundo pesquisadores ligados ao Instituto Smithsonian, sinais de amputação de membros superiores foram encontrados nos restos mortais de um humano que viveu há 45 mil anos.
O uso de próteses, nesses casos, também é muito antigo. A Rainha Vishpla, uma importante governante e guerreira da Índia antiga, foi ferida em batalha e teve uma de suas pernas amputada. Uma prótese de ferro foi confeccionada para que ela pudesse voltar a comandar seu exército na guerra. Sua história épica foi narrada no poema sagrado Rig-Veda, escrito em algum momento entre de 3.500 a.C e 1.800 a.C.
No mundo moderno, próteses são comumente utilizadas para dar aos pacientes que tiveram seus membros amputados uma melhor qualidade de vida. Entretanto, nos cinco casos que acompanharemos a seguir, as próteses não apenas amenizaram a falta dos membros, mas também fizeram com que seus portadores alcançassem a felicidade mesmo após as tragédias que resultaram nas amputações.
1. O Snake da vida real
Após um acidente de trem ocorrido em 2012, James Young teve seu braço esquerdo e parte da perna amputados. Apaixonado por videogames, ele desenvolveu estratégias para continuar jogando utilizando apenas o braço direito e a boca para operar os controles.
A vida de James Young mudou drasticamente mais uma vez após encontrar um anúncio da KONAMI que procurava especificamente por gamers com membros amputados para receber uma prótese inspirada no braço mecânico utilizado pelo personagem Snake, do jogo Metal Gear Solid V: The Phantom Pain. Young não pensou duas vezes e se inscreveu, sendo selecionado entre mais de 60 voluntários.
A prótese foi desenvolvida por Sophie De Oliveira, que diz que o valor do presente seria algo em torno dos US$ 70 mil a US$ 100 mil dólares, o que hoje sairia por meados de R$ 225 mil a 322 mil reais.
2. O Rei da Sucata
Criativo e apaixonado por construir brinquedos mecânicos desde criança, Ari Ribeiro fazia sua mãe perder a cabeça pegando as tampas de panela para montar robôs, carros e barquinhos. Surdo desde o nascimento, nunca desenvolveu a fala, mas tinha talento para lidar com eletrônica como ninguém.
Ao reparar uma antena no telhado da loja de consertos de aparelhos eletrônicos em que trabalhava, no Ceará, Ari acidentalmente encostou nos fios de alta tensão que estavam próximos e, eletrocutado, teve que amputar parte do braço direito.
Ari até chegou a procurar por próteses junto ao SUS, mas ficou insatisfeito com a solução apresentada, que não tinha a habilidade de movimento das mãos. Foi então que o gênio cearense decidiu construir, ele mesmo, uma prótese que se adequasse melhor à sua mente brilhante.
A prótese de Ari é construída inteiramente com sucata. O antebraço foi construído com panelas de alumínio velhas. Os dedos são feitos com canos e revestidos em borracha, para que os objetos não escorreguem da mão biônica quando forem segurados. Os tendões biônicos que articulam a prótese são pedaços do mecanismo de freio encontrado em bicicletas. O custo total da prótese de Ari é de cerca de R$ 400 reais. Com punhos flexíveis, Ari pode utilizar o braço mecânico para dirigir motos e carros, jogar Xbox e trabalhar com pequenas ferramentas em suas invenções geniais.
3. O olho que tudo vê (e grava)
Rob Spence tinha apenas nove anos de idade quando perdeu o globo ocular direito brincando com a espingarda de seu avô. Quando tinha 43 anos, decidiu trocar o olho de vidro por uma câmera, sendo conhecido como Eyeborg após a mudança.
Com o poder de captar em imagem tudo aquilo que ele enxerga, Spence se tornou um cineasta e faz parte do documentário Dark Net, produzido pela Showtime.
Devido ao superaquecimento, a câmera ocular de Spence só pode gravar cenas com três minutos de duração, no máximo. Mas a qualidade das imagens é ótima. Ele escreveu e dirigiu uma campanha feita em comemoração aos 150 anos do Canadá, a pedido da empresa Bullfrog Power, que atua na área da conservação ambiental. O resultado pode ser visto abaixo:
4. O tatuador biônico
J C Sheitan Tenet é um tatuador francês que perdeu seu braço direito quando tinha apenas 10 anos de idade. Destro, ele quis se tornar um tatuador, mas seu braço esquerdo não tinha habilidade suficiente.
Frustrado, pensou em desitir de tatuar, quando seu amigo, o artista biomecânico Jean-Louis Gonzal, o presenteou com uma prótese de antebraço modificada para receber uma máquina de tatuagem no lugar da mão.
A prótese deu a Sheitan habilidade e firmeza no traço suficientes para que ele pudesse desenvolver uma identidade artística própria. Otimista, ele costuma dizer que não perdeu um braço, mas sim ganhou um. Veja, abaixo, Sheitan tatuando um cliente em seu estúdio em Lyon, na França:
5. O baterista ciborgue
Jason Barnes é um baterista que vive em Georgia, nos EUA. Em 2012, ele teve um acidente com eletrocussão em seu local de trabalho, o que resultou na amputação de parte de seu braço direito.
Apaixonado por música desde a infância, ele enfrentou três meses de depressão após o acidente, pensando que não poderia mais tocar bateria. Foi então que ele descobriu que não estava disposto a desistir tão facilmente.
Ele começou amarrando as baquetas no que restou do braço direito. Apesar das dores terríveis, voltou a praticar bateria.
Em 2013, Barnes foi aceito como membro do Atlanta Institute of Music. Já em 2014, ele recebeu uma prótese adaptada para a prática de bateria feita pelo professor Gil Weinberg, do Instituto de Tecnologia da Universidade de Georgia.
Hoje, Barnes fica feliz em saber que ele é um exemplo para pessoas que sofreram amputações e se recusam a parar frente as limitações que o corpo orgânico impõe. Veja, abaixo, uma das práticas de bateria que o músico ciborgue publicou em seu canal no YouTube: