Hepatite misteriosa em crianças pode ser causada pela junção de dois vírus
Por Fidel Forato | Editado por Luciana Zaramela | 26 de Julho de 2022 às 11h24
Duas equipes de pesquisadores britânicos — uma da Escócia e outra da Inglaterra — chegaram a uma mesma conclusão sobre os casos misteriosos de hepatite aguda em crianças: a causa por de ser um quadro de coinfecção por um adenovírus comum e o vírus adeno-associado 2 (AAV2). Em alguns casos, a condição estava associada com o AAV2 e o herpesvírus humano 6 (HHV6).
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Os dois estudos sobre a origem do quadro que infectou mais de mil crianças, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), ainda não foram revisados por outros cientistas. Por isso, a pesquisa escocesa foi publicado como preprint na plataforma MedRxiv. Enquanto isso, a inglesa ainda deve ser disponibilizada em breve.
Até o momento, a OMS identifica que 46 crianças precisaram passar por um transplante de fígado, após o diagnóstico da hepatite misteriosa. Além disso, 22 mortes foram associadas com a condição. No Brasil, pelo menos 6 óbitos foram investigados pelo Ministério da Saúde.
Dois vírus podem ser responsáveis pela hepatite misteriosa
Anteriormente, a principal teoria era de que os adenovírus, que foram encontrados na maioria dos casos, eram os responsáveis pelo quadro de inflamação misteriosa nos fígados das crianças. No entanto, ao analisar os casos em profundidade, foi possível observar que um segundo vírus estava presente nos menores, o AAV2.
De forma geral, o AAV2 não é conhecido por causar doenças e nem por se replicar sem a presença de outro vírus "auxiliar". Para as equipe médicas, este agente infeccioso poderia usar tanto um adenovírus quanto o vírus HHV6 como ajudante. A partir desta combinação, o paciente desenvolveria uma doença hepática grave, como aconteceu.
"A presença do vírus AAV2 está associada a hepatite misteriosa em crianças", explicou Emma Thomson, professora de infectologia da Universidade de Glasgow, na Escócia, e uma das autoras do estudo, em comunicado.
Apesar das descobertas, os autores reforçam que mais estudos são necessários para confirmar a relação entre a coinfecção e a hepatite misteriosa. Isso porque ainda é possível que o AAV2 seja apenas um biomarcador da condição, ou seja, este agente infeccioso pode não ser a causa em si. Por outro lado, as investigações já descartam a possibilidade do quadro ter qualquer relação com o vírus da covid-19.