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Genoma sequenciado dos dentes de vítima da Peste Negra revela origem da doença

Por| Editado por Luciana Zaramela | 17 de Junho de 2022 às 18h23

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S. Tzortzis/CDC/Domínio Público
S. Tzortzis/CDC/Domínio Público

Entre os anos de 1338 e 1339, uma mulher chamada Bačaq, de 40 anos de idade e apenas 1,42 de altura, faleceu e foi enterrada no cemitério de Kara-Djigach, a 11 km de Bishkek, capital do Quirguistão. Ela é uma das 114 pessoas enterradas no local num espaço de dois anos — e provavelmente morreu em decorrência da Peste Negra, podendo ser uma das precursoras de sua transmissão.

O epitáfio dela, que dizia "uma mulher fiel", estava escrito em siríaco, um dialeto aramaico. A lápide de Bačaq não fala a causa mortis, mas outros túmulos de 1338 e 1339 incluem essa informação, descrita como mawtānā — pestilência, peste ou praga. Os 114 mortos representam um quarto de todos os enterros do cemitério, que operou de 1245 a 1345.

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Sequenciando a Peste

Os dentes de Bačaq, junto aos de uma mulher enterrada próxima, trazem evidências genômicas do que pesquisadores acreditam ser uma cepa ancestral da bactéria Yersinia pestis, a responsável pela pandemia de Peste Negra do século XIV, e mais: o artigo sobre o caso sugere que a região seja a fonte da praga, que matou o que estima estar entre 30% e 60% de toda a população europeia ao longo dos anos.

Muitas regiões da Ásia estão entre as propostas como origem da segunda praga pandêmica — a primeira é a Praga de Justiniano, no século VI, também de responsabilidade da peste bubônica. Até o momento, praticamente todos os dados genéticos e históricos advinham da Europa, dando uma visão eurocêntrica dos eventos. O novo estudo examina a única evidência arqueológica fora do oeste da Eurásia e da Europa.

Os corpos de cinco mulheres e dois homens dos cemitérios de Kara-Djigach e de Burana, vila próxima, haviam sido exumados no final do século XIX pelo arqueólogo Nikolay Pantusov, e os crânios dos mortos guardados no Museu Pedro, o Grande de Antropologia e Etnografia (Kunstkamera, o primeiro museu da Rússia), em São Petersburgo.

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Os genomas do Y. pestis retirado dos ossos de duas das mulheres estudadas foram sequenciados e considerados idênticos, e então comparados com 203 cepas modernas e 47 genomas históricos da espécie. A cepa encontrada parece ser a ancestral da que evolui na época da Peste Negra, ligada ao início dessa segunda pandemia. As mesmas cepas são encontradas nos restos de vítimas europeias da peste e até mesmo atualmente, em formas menos virulentas.

Origens da praga

A cepa retirada dos corpos se parece com as modernas presentes em animais da região, levando os cientistas a sugerir que ela se originou na região montanhosa próxima chamada Tian Shan, na fronteira entre o Quirguistão e a China, quando a bactéria pulou de hospedeiros roedores (provavelmente marmotas) para humanos.

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A análise do genoma de sete pessoas do cemitério mostrou serem similares a populações da Eurásia moderna, mas a variedade de itens de diferentes locais presentes nos túmulos indica uma grande diversidade geográfica, com origens da China, Mongólia e Armênia. Isso mostra como as rotas de comércio conectavam a região, que, na época, era controlada por mongóis.

Balasagun, a vila mais próxima ao cemitério de Burana, era um centro de vida econômica, política e cultura na Ásia Central, ficando ao longo da Rota da Seda. O comércio intercontinental teve um grande papel na disseminação da praga durante a Peste Negra, evidenciado pela posição do cemitério, mas a conclusão do estudo levanta a questão do porquê a doença não se espalhou, também, para o leste da Ásia.

O estudo foi publicado nesta quarta-feira (15) na revista científica Nature.

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Fonte: Nature