Genes de vermes que controlam cérebro de hospedeiros intrigam cientistas
Por Nathan Vieira • Editado por Luciana Zaramela |

Por si só, os vermes que controlam o cérebro de seus hospedeiros (Nematomorpha, também conhecidos como vermes-crina-de-cavalo ou hairworms) já são intrigantes e misteriosos. No entanto, um artigo publicado na revista científica Current Biology lançou luz sobre uma característica que torna esses seres vivos um enigma ainda mais indecifrável: eles têm 30% menos genes do que os pesquisadores esperavam que tivessem.
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Conforme apontam os autores, esses genes ausentes são responsáveis pelo desenvolvimento de cílios, pequenas estruturas no nível celular, que estão presentes basicamente em todos os animais, em protistas e algumas plantas e fungos. Para se ter uma noção, estão em muitas das células do corpo humano, como nas caudas dos espermatozoides ou nas células da retina.
Esses vermes seguem um estilo de vida parasitário: não têm sistema excretor, respiratório ou circulatório e passam quase toda a vida dentro dos corpos de outros animais. Mas a característica mais marcante é que podem afetar o comportamento de seus hospedeiros e levá-los a fazer coisas que não fariam.
Na prática, os ovos eclodem na água, as larvas são comidas por minúsculos predadores aquáticos, que por sua vez são comidos por predadores terrestres maiores, como grilos.
Depois de crescerem até a idade adulta dentro dos corpos de seus hospedeiros, os vermes manipulam o comportamento dos hospedeiros para que eles pulem na água. Lá, os vermes nadam para fora do intestino de seus hospedeiros e procuram parceiros, amarrando-se uns aos outros, para recomeçar o ciclo.
Genes de vermes surpreendem cientistas
“Nós nos propusemos a sequenciar seus genomas, porque nada como eles jamais foi sequenciado antes nesse nível. O objetivo era produzir esses genomas e, eventualmente, usá-los para entender as relações evolutivas entre vermes e outros tipos de animais. O que descobrimos foi que nos dois genomas faltavam cerca de 30% de um conjunto de genes que se espera que estejam presentes em basicamente todos os grupos de animais”, afirma a equipe, em entrevista à Phys.org.
O fato de que tanto as espécies de lagartas de água doce quanto as marinhas perderam os genes dos cílios indica que essa mudança evolutiva aconteceu no passado distante do ancestral comum das duas espécies.
A descoberta abre as portas para várias novas questões. Não está claro como a falta de cílios afetou os vermes, ou se o comportamento parasitário dos vermes pode estar relacionado aos cílios ausentes. É uma informação a ser encontrada em futuros estudos.
Curiosidades científicas sobre os vermes
Em 2021, cientistas descobriram que vermes sacrificam a própria vida para alimentar os filhos. O que acontece é que os vermes produzem uma gosma quando morrem. Essa secreção é uma espécie de leite, que eles deixam para seus filhos, numa espécie de sacrifício. Esse leite é o próprio intestino do verme.
Em outro estudo, vermes surpreenderam cientistas pela inteligência. Os Pristionchus pacificus, que contam com apenas 300 neurônios, mostraram capacidade de tomar decisões complexas, em comparação com vermes de outras espécies. Para chegar a essas descobertas, os cientistas colocaram o Pristionchus pacificus no mesmo ambiente que outro verme predador, e viram que o P. pacificus escolhe bem as suas lutas.
Fonte: Current Biology, Phys.org