Fungo raro pode "mutilar" pacientes da COVID-19 na Índia; entenda
Por Fidel Forato | Editado por Luciana Zaramela | 11 de Maio de 2021 às 11h00
Até o momento, a Índia registrou mais de 22,6 milhões de infecções do coronavírus SARS-CoV-2 e mais de 246,1 mil óbitos em decorrência da COVID-19, segundo dados da plataforma da Universidade Johns Hopkins. Além disso, o país enfrenta um aumento descontrolado de casos e possuí uma variante de preocupação global do vírus, a B.1.617, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Agora, um fungo raro parece afetar pacientes acometidos pela doença.
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Médicos do país relatam uma série de casos envolvendo uma doença rara conhecida pelo nome popular de "fungo negro", a mucormicose. Esse fungo tem acometido, de forma grave, tanto pacientes em recuperação quanto aqueles recuperados da COVID-19. Em alguns casos, é preciso remover, de forma cirúrgica, um dos olhos ou outras partes do paciente para impedir a evolução da doença.
Fungo e a COVID-19 na Índia
Causada por fungos da ordem Mucorales, a mucormicose é uma infecção rara e que afeta, principalmente, pacientes imunossuprimidos (pacientes com câncer ou pessoas com HIV) ou diabéticos, e pode causar necroses e afetar seios da face, pulmões e cérebro. Mesmo que este tipo de fungo esteja presente em todos os continentes e que seja muito fácil inalar seus esporos, a doença não se manifesta em pessoas saudáveis.
Cirurgião de olhos de Mumbai, na Índia, o médico Akshay Nair acredita que o aumento de casos da doença fúngica relacionados a COVID-19 pode ter relação com o uso de esteroides durante o tratamento do coronavírus. Isso porque medicamentos como dexametasona são adotados na recuperação de pacientes com quadros graves da doença, já que reduzem a inflamação nos pulmões e podem aliviar as consequências da tempestade de citocinas — quando o sistema imunológico ataca as próprias células saudáveis do paciente.
Os esteroides podem reduzir a imunidade do indivíduo e aumentam os níveis de açúcar no sangue em pacientes diabéticos e não diabéticos com COVID-19 em alguns casos específicos. Para Nair, este quadro seria um dos responsáveis pelo aumento de casos mucormicose nos pacientes. "O diabetes diminui as defesas imunológicas do corpo, o coronavírus o agrava e, em seguida, os esteroides que ajudam a combater a COVID-19 agem como se estivéssemos jogando gasolina no fogo", ilustra Nair para a BBC.
Somente, em abril, Nair atendeu 40 pacientes com infecção fúngica, sendo que a maioria tinha diabetes e 11 deles tiveram um olho removido por causa da doença. Para comparar, entre 2019 e 2020, o mesmo médico relata ter atendido apenas 10 casos de mucormicose. Relatos semelhantes são feitos por outros profissionais de saúde do país, em diferentes regiões. No entanto, o governo indiano ainda não confirmou oficialmente o surto.
Perda da visão em decorrência do fungo
Nos primeiros dias, os portadores da infecção fúngica costumam relatar nariz entupido e sangramentos, além de outros sintomas, como: inchaço e dor nos olhos; pálpebras caídas; visão turva; e perda de visão. O problema é que a maioria dos pacientes só procura ajuda médica no último estágio, quando nem sempre é possível reverter o quadro. Dessa forma, os médicos precisam remover cirurgicamente o olho em uma tentativa de impedir que a infecção alcance o cérebro, onde pode ser mais grave e até fatal.
Para reduzir as possibilidades de infecção fúngica, os pacientes da COVID-19 devem receber esteroides na dose certa e pelo tempo mínimo necessário, afirma Rahul Baxi, diabetologista de Mumbai. "Os médicos devem cuidar dos níveis de açúcar após a alta dos pacientes", defende Baxi.
Fonte: BBC