Publicidade

Feita no Brasil, vacina nasal contra COVID deve ser testada este ano em humanos

Por| Editado por Jones Oliveira | 09 de Março de 2021 às 18h40

Link copiado!

Fidel Forato/ Canaltech
Fidel Forato/ Canaltech

Para controlar o novo coronavírus (SARS-CoV-2), pesquisadores brasileiros trabalham no desenvolvimento de uma vacina nacional, aplicada diretamente na mucosa do nariz. A expectativa é que a fórmula nasal contra a COVID-19, criada por professores da USP e da UFMG, entre em fase de testes clínicos em humanos ainda no segundo semestre deste ano.

Com apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), o estudo para uma vacina nasal contra a COVID-19 é coordenado por dois grupos paralelos de pesquisa: uma frente é liderada pelo pesquisador Jorge Kalil, professor de imunologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e diretor do laboratório de Imunologia do Incor; a outra está sob direção de Ricardo Gazinelli, diretor do Centro de Tecnologia de Vacinas, professor de imunologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Continua após a publicidade

Como funciona a vacina nasal contra a COVID-19?

De forma paralela, a frente de pesquisa liderada por Kalil desenvolve uma vacina contra o coronavírus a partir de nanopartículas deste agente infeccioso. Na fórmula, as nanopartículas contém epítopos T — a menor parte do antígeno capaz de gerar alguma resposta imune — e o domínio de ligação ao receptor (RBD) — constitui o alvo mais promissor para a eficácia da produção de vacinas — da proteína spike.

“Essa vacina deve induzir uma resposta de anticorpos neutralizantes contra o SARS-CoV-2, enquanto também induz forte imunidade celular, incluindo linfócitos T CD8+ citotóxicos, que matam células infectadas, e T CD4+, que fornecem ajuda para a produção de anticorpos e respostas citotóxicas”, explica Kalil sobre as células do sistema imunológico que a vacina deve estimular a produção.

Enquanto isso, a pesquisa de Gazinelli propõe o desenvolvimento de vacina bivalente, baseada na plataforma da genética reversa do vírus influenza. Em outras palavras o imunizante adota um vírus não replicante — gerado em laboratório e editado geneticamente — que age infectando as células da mucosa nasal, onde expressa as proteínas do próprio influenza e a proteína spike do coronavírus. É o mesmo processo usado por outras vacinas, como a Covishield (vacina de Oxford/ AstraZeneca).

Continua após a publicidade

Testes da vacina contra o coronavírus

As duas potenciais abordagens já concluíram os testes iniciais, de forma promissora, em animais de laboratório. Agora, as respostas do experimento estão em fase de análise e devem ser concluídas até o final do primeiro semestre ou início do segundo semestre. Simultaneamente, também são pensados os primeiros testes em humanos das fórmulas contra a COVID-19.  

A previsão é a de que, no estudo clínico de Fase 1, sejam testadas a segurança e a toxidade em 140 pacientes voluntários. Na Fase 2, os cientistas avaliarão a quantidade de vacina e doses, além da melhor combinação que deve ser realizada. É nessa etapa, por exemplo, que o grupo definirá se a vacina será combinada, com uma primeira imunização, seguida de reforço. Inclusive, a possível junção das abordagens. No total da segunda fase, participarão da pesquisa inicial 500 voluntários saudáveis, entre 18 e 59 anos, que preencham todos os critérios de inclusão solicitados pelos pesquisadores.

Continua após a publicidade

Por que uma vacina nasal?

As vacinas serão desenvolvidas para aplicação nasal, porque, de acordo com os pesquisadores, há uma resposta imunológica significativa no trato respiratório, considerado o principal alvo do vírus da COVID-19. Além disso, esta imunização é uma das mais promissoras entre as imunizações de mucosas, devido à grande área de superfície, à rica vascularização, à elevada permeabilidade e à reduzida atividade enzimática, em comparação com a via oral.

Na última década, os estudos sobre imunologia de mucosa constituíram uma das áreas de maior interesse no campo da imunologia, o que levou médicos e pesquisadores a investigarem os mecanismos imunorregulatórios. Entre 2010 e 2020, foram publicados mais de quatro mil artigos científicos sobre o tema, por exemplo. Entre os imunizantes, já há uma opção contra a influenza aplicada pela mucosa do nariz, a FluMist.

Fonte: MCTI