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Estudo investiga uso de ecstasy no tratamento de transtornos de ansiedade

Por| Editado por Luciana Zaramela | 04 de Maio de 2021 às 17h10

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microgen/envato
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Nos últimos anos, pesquisadores investigam os efeitos terapêuticos de inúmeras drogas consideradas ilegais e têm feito importantes descobertas, como é o caso da cannabis. Agora, uma equipe de cientistas norte-americanos apresentam os resultados de um experimento com MDMA — a substância psicoativa popularmente conhecida como ecstasy — de fase 3 no tratamento do estresse pós-traumático (TSPT). Este é um tipo de transtorno de ansiedade que afeta pessoas que vivenciaram um evento que causou um trauma significativo em suas vidas.

O estudo ainda não publicado investigou os efeitos do MDMA em um grupo de 90 voluntários, todos diagnosticados com TSPT. No grupo que recebeu o psicoativo e realizou as sessões de terapia, os pesquisadores observaram uma redução significativa na redução da gravidade de seus sintomas em comparação com aqueles que receberam apenas a terapia e um placebo. Dois meses após o início do tratamento experimental, 67% do grupo do psicoativo não se qualificou mais para o diagnóstico de TSPT. Enquanto isso, a porcentagem foi de 32% no grupo placebo.

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Mesmo que estes resultados iniciais sejam positivos, o MDMA deve percorrer um longo caminho até a aprovação do novo protocolo para o tratamento de pacientes com TSPT. Por exemplo, a entidade federal que regula o uso de medicamentos nos EUA, a Food and Drug Administration (FDA), espera o resultado de um segundo estudo positivo de fase 3, com a mesma substância, antes de uma eventual autorização. Inclusive, ele já está em andamento com 100 participantes.

Como o MDMA age no organismo? 

Até o momento, os pesquisadores não compreendem, de forma integral, os efeitos terapêuticos do MDMA e nem conhecem todo o seu potencial. O que se sabe é que a substância psicoativa se conecta com as proteínas que regulam a serotonina — um neurotransmissor que pode melhorar o humor, por exemplo. Na ciência, alguns antidepressivos já são usados por se ligarem a essas mesmas proteínas e bloquearem a reabsorção de serotonina.

No entanto, pesquisas sugerem que o MDMA também pode fazer com que as proteínas direcionem a serotonina para as sinapses, intensificando a relação. Além disso, o MDMA pode elevar os níveis de alguns hormônios, como a oxitocina, ou do neurotransmissor dopamina. Mesmo com esses aparentes benefícios, um dos autores do estudo e diretor da Associação Multidisciplinar de Estudos Psicodélicos (Maps), Rick Doblin, explica que o que está em análise “não é a droga — é a terapia aprimorada pela droga”.

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Como foi feito o estudo com ecstasy?

Entre os 90 participantes do estudo, participaram veteranos de guerra, socorristas e vítimas de agressão sexual, tiroteios, violência doméstica ou traumas infantis. Em comum, todos foram diagnosticados com TSPT, em média, há mais de 14 anos. Além disso, alguns voluntários ainda tinham histórico de uso de álcool excessivo ou de outras substâncias. Cerca de 90% das pessoas já tinham pensado em suicídio, antes de testarem o tratamento experimental.

No total, foram usados dados coletados por 80 terapeutas espalhados pelos EUA, Canadá e Israel. Pensando especificamente na dinâmica do tratamento, os voluntários realizaram, inicialmente, sessões preparatórias com dois terapeutas. Em seguida, passaram por três sessões de 8h cada, com intervalo de um mês, e recebiam um placebo ou MDMA. Além disso, era fundamental que os pacientes aceitassem mergulhar em seus traumas.

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Segundo os dados divulgados pelo Maps, "o MDMA não aumentou o risco de pensamentos ou comportamentos suicidas e não aumentou o risco cardiovascular ou o potencial de abuso em relação à terapia com placebo". Além disso, os efeitos adversos relatados foram leves e temporários, como aumento temporário da pressão arterial e no pulso, rigidez muscular, perda de apetite, náuseas, sudorese e sensação de frio.

Mais estudos sobre o ecstasy como terapia

Por mais otimistas que os resultados do estudo ainda não publicado sejam, especialistas em saúde mental recomendam cautela com a potencial terapia com o MDMA. Professor emérito da Duke University, Allen James Frances lembra que os novos tratamentos “nunca são tão maravilhosos quanto parecem”. Inclusive, os autores da pesquisa aguardam outros estudos sobre os efeitos da droga enquanto terapia.

Por outro lado, os resultados devem incentivar novos estudos sobre o potencial do MDMA para ajudar a resolver outras condições de saúde mental de difícil tratamento, como o abuso de substâncias, o transtorno obsessivo-compulsivo, transtornos alimentares e depressão, por exemplo.

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Fonte: NYT e Maps