Estudo brasileiro descobre como o vírus da covid-19 usa células para se replicar
Por Augusto Dala Costa | Editado por Luciana Zaramela | 28 de Junho de 2022 às 12h10
Uma equipe de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade de São Paulo (USP) conseguiu descrever a interação de uma proteína humana com uma proteína do SARS-CoV-2, revelando uma das maneiras pela qual o vírus "recruta" as células do corpo para se replicar.
- Coronavírus muda sua estrutura para fugir do sistema imune no corpo, diz estudo
- Mutações da proteína spike ajudam Ômicron a escapar dos anticorpos
Com testes in vitro, eles ainda conseguiram inibir a interação entre as moléculas do vírus e as do corpo através do uso de um fármaco, reduzindo a replicação viral de 15% a 20%. O estudo em questão foi publicado da revista científica Frontiers in Cellular and Infection Microbiology.
Proteínas, vírus e DNA
A proteína estudada em questão é a PCNA — Proliferating Cell Nuclear Antigen, Antígeno Proliferante do Núcleo Celular —, que interage com a proteína M (matriz) do SARS-CoV-2, uma das moléculas da membrana viral e que dá sua forma. Estudar essa interação demonstra uma das formas com que o patógeno manipula funções da célula para se replicar em nosso corpo.
As pesquisas laboratoriais buscaram demonstrar como a presença da proteína M faz a PCNA — envolvida com o reparo de DNA — migrar do núcleo das células, onde deveria ficar, até o citoplasma, onde ficam as organelas, responsáveis por diversas funções celulares.
Uma das maneiras de verificar a interação foi usando um composto que inibe a migração de proteínas até o citoplasma: tanto compostos que inibem especificamente a PCNA quanto os mais gerais impediram a replicação do vírus de 15% a 20%, comparando com células intocadas.
Os cientistas afirmam que, sim, a redução pode não ser tão significativa se pensarmos no desenvolvimento de uma terapia contra a replicação do SARS-CoV-2, mas como a função primária do estudo fica em demonstrar a interação e apresentá-la como alternativa a futuros tratamentos, os achados foram considerados um sucesso.
Outra maneira de estudar o fenômeno foi pela análise de tecido pulmonar proveniente de autópsias de pacientes mortos pela covid-19. Nelas, se observou um aumento expressivo da proteína PCNA e da gamaH2AX, que mostra danos ao DNA — reforçando os outros resultados laboratoriais. Segundo os cientistas, é prova de mais uma consequência da infecção por covid.
Junto às proteínas E e S, a M é uma das que ficam presentes na membrana que envolve o SARS-CoV-2, também sendo a mais abundante e sendo uma das quatro estruturais, ou seja, que formam o vírus. Isso a coloca como alvo potencial para tratamentos, como vacinas e medicamentos. A proteína S (spike, ou espícula) é conhecida, por exemplo, por se ligar aos receptores humanos, e tem sido o alvo das vacinas principais da atualidade.
A PCNA costuma ser mais estudada em relação ao câncer, e pouco se sabe sobre seu papel na infecção por vírus: daí a importância do recente estudo brasileiro. Aponta-se que os próximos passos possam ser, por exemplo, confirmar o que se descobriu com testes em modelos animais.