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Receber um órgão transplantado pode mudar sua personalidade?

Por| Editado por Luciana Zaramela | 15 de Fevereiro de 2022 às 13h06

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 LightFieldStudios/envato
LightFieldStudios/envato

Após serem transplantados, algumas pessoas relatam mudanças de personalidade, mas o quão verdadeira pode ser essa alteração? Não há consenso para a ciência, e ainda faltam evidências científicas que comprovem esses relatos de casos, como grandes estudos clínicos. No entanto, alguns pesquisadores questionam o fato de que tecidos também podem preservar algum comportamento e este poderia ser compartilhado durante um transplante.

"Por mais anedóticos que possam ser, existem inúmeros relatos em livros e revistas de receptores de transplante de coração experimentando mudanças distintas na personalidade e no comportamento após a cirurgia de transplante", explica o psiquiatra e pesquisador Thomas Verny, em artigo para o Psychology Today.

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Caso de mudança de personalidade após transplante

Entre os relatos mias famosos de mudança de personalidade, está o da dançarina profissional Claire Sylvia. A paciente recebeu o coração de um garoto de 18 anos que morreu em um acidente de moto e, após o procedimento, mudou hábitos alimentares e o comportamento. Segundo a mulher, os alimentos que passou a consumir, como frango frito e cerveja, eram os favoritos do seu doador. A história virou livro.

Um ponto curioso nessa questão bastante complexa é que o DNA de órgão transplantado permanece o mesmo após uma doação. Por causa disso, um órgão doado, como um coração, é sempre visto como um “invasor” pelo sistema imunológico de combate a doenças do receptor. Esta é uma das explicações para que pessoas transplantadas tenham que usar remédios contra a rejeição para o resto da vida.

Buscando exemplos no mundo animal, um estudo, publicado na revista científica Journal of Experimental Biology, observou que traços de memória do comportamento podem ser retidos fora do cérebro nas planárias — um tipo de verme. Para os pesquisadores da Tufts University, isso ocorre por uma série de mecanismos que incluem o citoesqueleto, circuitos de sinalização metabólica e redes reguladoras de genes. Em alguma escala, as descobertas podem ser sugeridas para os humanos.

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Existe transferência de memória?

De acordo com Verny, a suposta mudança de personalidade do receptor, a partir de um órgão doado, somente é possível porque, em tese, a memória também poderia ser transferida e não estaria centralizada exclusivamente no cérebro. "Quando consideramos a possibilidade de tais mudanças de personalidade, o que estamos investigando é a transferência de memória", explica o psiquiatra.

Para o pesquisador, uma cirurgia de transplante do coração não implica em substituir apenas um órgão doente por um saudável, como uma operação mecânica. Na verdade, o especialista defende que existem desdobramentos, a partir de alguns relatos de caso, como o de Sylvia, já que a memória celular, armazenada nos tecidos, também é transplantada.

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"Essas mudanças de personalidade, pelo menos em algumas pessoas, seriam esperadas à luz de nossa descoberta de que a informação ou a memória são armazenadas nas células e tecidos do corpo. As células cardíacas não seriam exceções a isso e, no mínimo, são mais propensas a transportarem dados pessoais", pontua Verny.

No entanto, mais estudos são necessários para avaliar a relação entre os transplantes e as mudanças de personalidade, já que as evidências descobertas até agora são inconclusivas para confirmar essa hipótese.

Fonte: Psychology TodayScience Focus e Journal of Experimental Biology