É possível medir a imunidade de uma pessoa contra a covid-19?
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
Depois de um caso confirmado da covid-19 ou de receber as duas doses de alguma vacina, medir a imunidade de uma pessoa contra o coronavírus SARS-CoV-2 pode ser uma tarefa bastante complexa. Inclusive, o grau deste desafio é consenso entre entidades médicas e de saúde pública. No atual cenário, um dos principais métodos adotados é a contagem de anticorpos no sangue, mas ainda sim é limitante.
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Especialistas apontam que medir apenas a quantidade de imunoglobulinas IgG e IgM do organismo — o mesmo que o número de anticorpos para a covid-19 — não dá conta da complexidade do sistema imune. Isso porque outras proteínas são ativadas durante a defesa do corpo em caso de infecção do coronavírus, desde que haja um contato anterior com o agente infeccioso.
Nesse sentido, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já afirmou que testes sorológicos não têm a finalidade de atestar imunidade. O mesmo posicionamento é compartilhado pela Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e pela Associação Médica Brasileira (AMB).
Como a vacina da covid-19 afeta o sistema imunológico?
“As vacinas não induzem um único tipo de resposta”, lembra a diretora do Centro de Desenvolvimento e Inovação do Butantan, Ana Marisa Chudzinski. Afinal, existem dois tipos de respostas imunológicas: a humoral e a celular.
Quando recebemos uma vacina ou quando entramos em contato com o agente infeccioso, os anticorpos humorais são a primeira resposta do corpo. Por exemplo, a concentração deles é elevada após a vacinação, já que o sistema imunológico foi acionado para produzir anticorpos capazes de combater a ameaça que entrou no organismo. Depois de algum tempo, é esperado que o número desses anticorpos caia e fique em um nível basal, porque a ameaça imediata não existe mais.
“É normal o IgG [anticorpo] baixar depois da vacina. Ela causa uma elevação na hora da imunização, pois está mimetizando uma infecção, e depois cai, porque não adianta ficar produzindo um monte de anticorpo se eu não tenho nenhuma infecção”, detalha a diretora do Laboratório de Biotecnologia Viral do Butantan, Soraia Attie Calil Jorge.
Vale lembrar que o mecanismo de resposta imunológica celular guarda na “memória” do sistema todos os vírus e bactérias com os quais o corpo já entrou em contato — incluindo, o contato induzido por vacinas. É a partir dessa “recordação” que o corpo consegue gerar anticorpos se o vírus ou bactéria aparecer novamente no futuro. “Se mais tarde você tiver contato com o organismo patogênico, o seu corpo vai responder e te defender”, complementa Ana Marisa.
Testes sorológicos têm um limite
Nesse sentido, apenas o teste sorológico não consegue revelar todas as capacidades de resposta do corpo para se defender da covid-19, apenas os anticorpos presentes no sangue. Por exemplo, as células de memória não são avaliadas nesses exames.
Além disso, no momento, ainda não se sabe como é a proteção das vacinas contra a covid-19 no longo prazo, ou seja, como a resposta celular atuará no futuro. "Dosar se eu tenho 1%, 10%, 50%, 100% de anticorpos não é conclusivo para dizer se uma pessoa está imunizada ou não. O número de anticorpos vai cair, mas é a memória que interessa”, destaca Ana Marisa. Dessa forma, apenas exames mais complexos poderiam relevar, de fato, o nível de proteção.
Fonte: Instituto Butantan