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É ciência! Mamíferos podem respirar pelo ânus (e isso será avaliado na COVID)

Por| Editado por Claudio Yuge | 14 de Maio de 2021 às 20h30

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Twenty20photos/Envato Elements
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Semelhante a alguns seres aquáticos, roedores e porcos podem usar o intestino para respirar em casos extremos, segundo um estudo recém-publicado por pesquisadores japoneses. No experimento com modelos animais, foi possível usar o ânus como porta de entrada para o fornecimento de oxigênio ou ainda de oxigênio na forma líquida em mamíferos com insuficiência respiratória.

A partir da descoberta inicial, pesquisadores pensam que seria possível utilizar o ânus para o fornecimento de oxigênio, quando não houver outras alternativas para pacientes humanos gravemente enfermos. "O suporte respiratório artificial desempenha um papel vital no tratamento clínico da insuficiência respiratória devido a doenças graves, como pneumonia ou síndrome da angústia respiratória aguda", explicou o principal autor do estudo, Takanori Takebe, da Universidade de Medicina e Odontologia de Tóquio e do Centro Médico do Hospital Infantil de Cincinnati (CCHMC). 

"Embora os efeitos colaterais e a segurança [da descoberta] precisem ser avaliados minuciosamente em humanos, nossa abordagem pode oferecer um novo paradigma para apoiar pacientes criticamente enfermos com insuficiência respiratória", apontou Takebe. Inclusive, a estratégia poderia auxiliar pacientes internados em decorrência do coronavírus SARS-CoV-2, casos os estudos estivessem mais avançados.

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Por que alguns animais podem respirar pelo intestino?

No mundo, alguns seres aquáticos desenvolveram mecanismos únicos de respiração intestinal para sobreviver em condições de baixo oxigênio. Neste cenário extremo, os organismos usam outros órgãos além dos pulmões ou das guelras para absorver o máximo de oxigênio possível. É a estratégia adotada pelo pepino-do-mar (da classe holothuroidea), o peixe botia palhaço (Chromobotia macracanthus) ou ainda o bagre (da ordem Siluriformes).

No entanto, pesquisadores discutiam se os mamíferos também teriam essa capacidade. No novo estudo japonês publicado na revista científica Med, a equipe de pesquisadores encontrou evidências de respiração intestinal em ratos, camundongos e porcos, ou seja, todos os mamíferos testados até agora.

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Como descobriram que os mamíferos poderiam respirar pelo ânus?

Para o estudo, o grupo projetou um sistema de ventilação para administrar oxigênio puro pelo ânus de camundongos. Em condições com pouco oxigênio no ar, nenhum roedor conseguiu resistir por mais de 11 minutos sem o apoio do novo sistema. Com a ventilação intestinal, mais oxigênio atingiu o coração dos animais e 75% dos ratos sobreviveram por 50 minutos de condições normalmente letais de baixo oxigênio no ar.

No entanto, um sistema de ventilação intestinal degasta e fricciona a muscosa do intestino, por isso não deve ser clinicamente viável, especialmente em pacientes com quadros graves de alguma doença respiratória. Dessa forma, os pesquisadores desenvolveram um sistema que introduzisse o oxigênio, em forma líquida, pelo local. Este sistema de ventilação líquida intestinal proporcionou benefícios terapêuticos tanto aos roedores quanto aos porcos expostos a condições não letais de baixo teor de oxigênio. 

Por exemplo, os ratos que receberam ventilação intestinal conseguiram andar mais e foi possível observar que mais oxigênio chegava ao coração em comparação com os ratos que não receberam a intervenção. O mesmo cenário foi observado nos porcos, sem produzir efeitos colaterais óbvios. Assim, os pesquisadores concluíram que a estratégia pode ser eficaz no fornecimento de oxigênio e que pode aliviar os sintomas de insuficiência respiratória.

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Descoberta ainda pode ajudar pacientes graves da COVID-19

Agora, os cientistas esperam expandir os estudos pré-clínicos e, dessa forma, planejam iniciar experimentos em humanos que comprovem a respiração intestinal. Inclusive, a equipe trabalha com apoio da Agência Japonesa de Pesquisa e Desenvolvimento Médico para planejar novos protocolos para o controle de casos da COVID-19, já que muitos pacientes necessitam de equipamento para ventilação mecânica.

"A recente pandemia de SARS-CoV-2 está superando a necessidade clínica de ventiladores e pulmões artificiais, resultando em uma escassez crítica de dispositivos disponíveis e colocando em risco a vida dos pacientes em todo o mundo", comentou Takebe. "O nível de oxigenação arterial fornecido por nosso sistema de ventilação [testado em modelos animais], se dimensionado para aplicação em humanos, é provavelmente suficiente para tratar pacientes com insuficiência respiratória grave, potencialmente fornecendo oxigenação que salvará vidas", completa.

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Para acessar o estudo completo sobre a respiração em mamíferos através do ânus, publicado na revista científica Med, clique aqui.

Fonte: Phys