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Crianças com síndrome da bolha estão sendo tratadas com o vírus da AIDS; entenda

Por| Editado por Jones Oliveira | 14 de Maio de 2021 às 10h30

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Caleb Woods/Unsplash
Caleb Woods/Unsplash

Para tratar bebês e crianças com uma síndrome rara, um grupo de pesquisadores norte-americanos e britânicos desenvolveu uma terapia gênica experimental que, durante suas etapas, usa o HIV, o vírus da AIDS. Segundo os médicos do estudo, esse tratamento inédito baseado possibilitou que 48 crianças desenvolvessem um sistema imunológico saudável após nascerem sem essa capacidade de defesa do organismo.

Mesmo que o procedimento pareça inusitado, indivíduos que nascem com a "síndrome da bolha" têm alta probabilidade de óbito, segundo o médico Donald Kohn, do Ronald Reagan UCLA Medical Center, nos Estados Unidos, e um dos autores do estudo. Ainda não é possível afirmar que todos estão curados para sempre, mas por enquanto estão bem e saudáveis.

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Na pesquisa, apenas duas das 50 crianças que receberam a terapia experimental não obtiveram o resultado esperado — essas duas precisaram passar por um transplante de medula óssea para desenvolver o sistema imunológico. No entanto, de forma natural, todos os envolvidos no experimento dificilmente teriam uma vida saudável.

O que é a síndrome da bolha, que afeta crianças?

Oficialmente, a síndrome da bolha é conhecida pelo nome de imunodeficiência combinada grave (SCID). A condição é causada por uma falha genética hereditária e que impede que a medula óssea da pessoa produza versões saudáveis ​​das células que compõem sistema imunológico. Sem uma intervenção médica, as crianças têm uma baixa expectativa de vida. Em alguns casos, o indivíduo falece antes do primeiro ano, já que as proteções do seu organismo foram desativadas pelas mutações genéticas que carrega.

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O nome popular de bolha remete ao caso do "menino bolha” que foi muito famoso na imprensa americana durante a década de 1970. Na época, circularam relatos e fatos de um garoto do estado do Texas que viveu por 12 anos "dentro" de uma bolha de plástico para evitar infecções. A condição pode ser resolvida com um transplante de medula óssea, mas o procedimento é bastante complexo e, no pós-operatório, o menino texano faleceu.

Tratamento inovador com o vírus da AIDS

Atualmente, os pacientes da SCID são tratados com doses de antibióticos e anticorpos duas vezes por semana, mas os médicos sabem que o método não é o ideal. Frente a esse cenário, começaram os testes por uma nova terapia que resolvesse a doença de forma permanente, e a terapia gênica pode ser essa alternativa.

No novo tratamento, os médicos removem algumas das células do sangue do paciente e, em laboratório, usam o HIV inativado para inserir uma versão saudável do gene de que as crianças precisam. É como se o vírus da AIDS transportasse uma versão mais saudável dos genes necessários, substituindo os mutantes nas células. Depois, estas células são devolvidas para o organismo do paciente, de forma intravenosa.

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O método já foi testado em 27 crianças nos EUA e em outras 20 no Reino Unido, mas ainda é preciso aguardar possíveis reações no organismo dos voluntários tratados. Para acessar o artigo completo sobre o tratamento experimental com o HIV, publicado na revista científica New England Journal of Medicine, clique aqui.

Fonte: AP News