Crianças com síndrome da bolha estão sendo tratadas com o vírus da AIDS; entenda
Por Fidel Forato • Editado por Jones Oliveira |

Para tratar bebês e crianças com uma síndrome rara, um grupo de pesquisadores norte-americanos e britânicos desenvolveu uma terapia gênica experimental que, durante suas etapas, usa o HIV, o vírus da AIDS. Segundo os médicos do estudo, esse tratamento inédito baseado possibilitou que 48 crianças desenvolvessem um sistema imunológico saudável após nascerem sem essa capacidade de defesa do organismo.
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Mesmo que o procedimento pareça inusitado, indivíduos que nascem com a "síndrome da bolha" têm alta probabilidade de óbito, segundo o médico Donald Kohn, do Ronald Reagan UCLA Medical Center, nos Estados Unidos, e um dos autores do estudo. Ainda não é possível afirmar que todos estão curados para sempre, mas por enquanto estão bem e saudáveis.
Na pesquisa, apenas duas das 50 crianças que receberam a terapia experimental não obtiveram o resultado esperado — essas duas precisaram passar por um transplante de medula óssea para desenvolver o sistema imunológico. No entanto, de forma natural, todos os envolvidos no experimento dificilmente teriam uma vida saudável.
O que é a síndrome da bolha, que afeta crianças?
Oficialmente, a síndrome da bolha é conhecida pelo nome de imunodeficiência combinada grave (SCID). A condição é causada por uma falha genética hereditária e que impede que a medula óssea da pessoa produza versões saudáveis das células que compõem sistema imunológico. Sem uma intervenção médica, as crianças têm uma baixa expectativa de vida. Em alguns casos, o indivíduo falece antes do primeiro ano, já que as proteções do seu organismo foram desativadas pelas mutações genéticas que carrega.
O nome popular de bolha remete ao caso do "menino bolha” que foi muito famoso na imprensa americana durante a década de 1970. Na época, circularam relatos e fatos de um garoto do estado do Texas que viveu por 12 anos "dentro" de uma bolha de plástico para evitar infecções. A condição pode ser resolvida com um transplante de medula óssea, mas o procedimento é bastante complexo e, no pós-operatório, o menino texano faleceu.
Tratamento inovador com o vírus da AIDS
Atualmente, os pacientes da SCID são tratados com doses de antibióticos e anticorpos duas vezes por semana, mas os médicos sabem que o método não é o ideal. Frente a esse cenário, começaram os testes por uma nova terapia que resolvesse a doença de forma permanente, e a terapia gênica pode ser essa alternativa.
No novo tratamento, os médicos removem algumas das células do sangue do paciente e, em laboratório, usam o HIV inativado para inserir uma versão saudável do gene de que as crianças precisam. É como se o vírus da AIDS transportasse uma versão mais saudável dos genes necessários, substituindo os mutantes nas células. Depois, estas células são devolvidas para o organismo do paciente, de forma intravenosa.
O método já foi testado em 27 crianças nos EUA e em outras 20 no Reino Unido, mas ainda é preciso aguardar possíveis reações no organismo dos voluntários tratados. Para acessar o artigo completo sobre o tratamento experimental com o HIV, publicado na revista científica New England Journal of Medicine, clique aqui.
Fonte: AP News