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DNA da herpes é encontrado em esqueletos medievais

Por| Editado por Luciana Zaramela | 28 de Julho de 2022 às 11h44

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CDC/Dr. Hermann
CDC/Dr. Hermann

Cientistas conseguiram coletar e analisar o DNA da herpes a partir de esqueletos centenários, determinando o surgimento e espalhamento da infecção na raça humana — e descobrindo coisas curiosas sobre ela. A herpes está presente em dois a cada três adultos com menos de 50 anos: é muito provável que você, leitor, a carregue, mesmo que nunca tenha manifestado sintomas.

Após a infecção por herpes, o vírus continua no corpo para o resto da vida. Assim como a catapora, da mesma família (ortopoxvírus), o HSV-1 (herpes simplex vírus 1) permanece dormente nas células nervosas e pode provocar sintomas, geralmente na forma de feridas ao redor da boca. Embora na maioria das pessoas não passe disso, imunocomprometidos podem ter complicações raras, como doenças oculares, encefalite e, muito excepcionalmente, ir a óbito.

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Em busca da herpes

Pouco se sabe sobre o genoma do HSV-1, ainda que esteja praticamente onipresente, ou sobre sua história — pelo menos até agora. Publicado na revista científica Science Advances, o novo estudo de cientistas de diversas universidades analisou restos humanos de toda a Europa em busca do vírus, o detectando em corpos tão antigos quanto o século III d.C. Antes disso, o genoma mais antigo era o de uma cepa isolada de um paciente nova-iorquino em 1925.

Com o DNA coletado, foi possível mapear o genoma de três espécimes diferentes do vírus, o que, segundo os cientistas, não foi fácil. Quatro pessoas infectadas de séculos diferentes foram hóspedes da herpes:

  • Um homem adulto da Rússia central, que faleceu entre 235 e 530 d.C.;
  • Uma mulher adulta enterrada em um cemitério anglo-saxão em Cambridge, Reino Unido, entre 500 e 650 d.C.;
  • Um jovem adulto que morreu entre 1350 e 1450 d.C. no Hospital de St. John em Cambridge;
  • Um adulto que morreu entre 1600 e 1700 d.C. nos Países Baixos.
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Deste último, apenas uma pequena parte do genoma pôde ser coletada. Com três genomas completos, foi possível triangular o momento em que a cepa específica de HSV-1 provavelmente se tornou comum no mundo: há mais de 5.000 anos, no início da Era do Bronze. Foi nessa época que muitos humanos migraram para o oeste, vindos do leste europeu, consolidando a presença do vírus junto ao crescimento da densidade populacional.

Uma das teorias para o espalhamento da herpes diz que ela teria acompanhando o surgimento do beijo romântico, que teoriza-se ter surgido justamente na Era do Bronze — e, no entanto, não é praticado por todas as culturas humanas. É claro, isso é apenas especulativo, já que toda espécie primata tem uma forma de herpes, e somos a única a praticar o beijo romântico.

Alguns cientistas acreditam que a herpes esteja conosco desde os primeiros humanos, que evoluíram na África. O HSV-1 se dividiu, então, em três grupos principais: um na Europa e Américas, outro na Europa, Ásia e Américas, e mais um na África. A análise sugere que as cepas vieram de um ancestral comum de 5.000 anos, então o HSV-1 se tornou presente há menos tempo do que acreditávamos, ou cepas mais antigas foram substituídas por esta, mais bem-sucedida.

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Importância e próximos passos

Será necessário coletar mais DNA viral de outros continentes para nos certificarmos dos resultados, o que pode mudar nosso entendimento do vírus. Embora isso não signifique que teremos um tratamento para as feridas causadas pela herpes, os cientistas reforçam a importância de conhecer os vírus que nos acompanham, podendo utilizar esses dados para combater infecções mais sérias no futuro.

O próximo passo, segundo alguns autores, é investigar exemplares mais antigos antigos da nossa evolução, detectando o vírus da herpes em neandertais de mais de 50.000 anos. Outros também investigam outros vírus, como o Epstein-Barr, uma cepa de herpes que pode causar mononucleose.

Fonte: Science Advances