Diferente do que se pensava, insetos podem sentir "depressão" e "ansiedade"
Por Nathan Vieira • Editado por Luciana Zaramela | •
No último dia 24, o Reino Unido acendeu um alerta sobre a sensibilidade de lulas e caranguejos, capazes de passar por sentimentos de forma consciente. Com uma proposta semelhante, estudos vêm mostrando, ao longo dos últimos anos, que os insetos também são muito mais complexos do que se pensava, capazes de sentir alegria, dor, prazer, tristeza e até medo.
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Os insetos não têm exatamente as mesmas regiões cerebrais dos vertebrados, mas contam com algumas áreas que realizam funções semelhantes. A maior parte do aprendizado e da memória dos insetos depende de regiões cerebrais comparadas ao córtex, por exemplo, região responsável pela consciência nos seres humanos.
Um estudo de 2016 publicado na Science demonstrou que as abelhas exibem estados semelhantes a emoções positivas dependentes de dopamina (um neurotransmissor) em contextos comportamentais. Na ocasião, as abelhas que responderam de maneira positiva às recompensas que ganhavam.
Sentimentos complexos em insetos
Dois anos depois, uma análise publicada na National Library of Medicine trouxe a reação de moscas diante de eventos estressantes, algo parecido com a recaptação de serotonina em partes do cérebro, algo parecido com a depressão dos humanos.
O estudo provocou o estresse aquecendo a área em que a mosca se encontrava, para que ela se movesse, motivada a escapar do calor. Mas, submetida a um calor completo em que simplesmente não havia lugar para onde fugir, a mosca aprendeu que seu comportamento não tinha efeito e passou a não responder, entregando movimentos mais lentos e com maiores intervalos, como se estivesse "deprimida".
Já em 2019, a Science Advances publicou um estudo destinado a destacar que as moscas têm percepção da dor. Segundo a análise, a lesão do nervo pode levar o ser humano à dor neuropática (uma dor intensa que pode ser acompanhada por queimação, pontadas, choques e hipersensibilidade ao toque), e o inseto mostrou uma reação semelhante.
Na ocasião, o grupo de cientistas descobriu que moscas feridas podem sentir dor persistente, muito depois de seus ferimentos físicos terem cicatrizado, quase como um estado de ansiedade. Uma vez feridos, os insetos querem ter certeza de que nada de ruim vai acontecer.
Ainda há muito o que se compreender, mas esses estudos vêm proporcionando questões acerca do bem-estar animal, assim como fizeram recentemente com as lulas e os caranguejos.
Fonte: Science, National Library of Medicine, Caltech Library Service, Science Advances, Current Biology