Saúde mental: qual a diferença entre transtorno, doença, distúrbio e síndrome?
Por Natalie Rosa • Editado por Luciana Zaramela | •
Você já deve ter ouvido os termos transtorno, distúrbio e síndrome na hora de falar sobre uma doença, por exemplo, principalmente psiquiátrica. Porém, todas essas palavras têm significados diferentes que condizem com cada condição e como ela afeta o organismo, muitas delas se relacionando em um mesmo diagnóstico.
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São diversas as condições existentes que são classificadas dentro desses termos, mas antes de falar sobre elas, é preciso entender melhor essa questão. Por isso, o Canaltech conversou com a Dra. Luisa Polonio, psiquiatra, que nos explicou do que se tratam essas palavras no dia a dia e na sua rotina de trabalho.
Diferença entre doença, transtorno, distúrbio e síndrome
Doença - De acordo com a psiquiatra, o termo doença é aquele usado para condições que possuem uma causa definida. "Ou seja, é possível definir a origem daqueles sintomas por meio de exames. Um exemplo na área da psiquiatria é a Doença de Alzheimer", explica a médica. Essas anormalidades no organismo podem provocar sintomas físicos e psicológicos, como estresse, problemas sociais, dores e disfunções, e dependendo de cada risco podem levar à morte.
Síndrome - As síndromes, por sua vez, consistem em um conjunto de sinais e sintomas que definem um determinado estado clínico que esteja associado a problemas gerais de saúde, que nem sempre possuem a causa clara, podendo ela ser reconhecida pela ciência ou não, e ainda ter várias possíveis origens. Dois exemplos dentro da psiquiatria são a Síndrome de Down e a Síndrome do Pânico.
Distúrbio - Já os distúrbios são anormalidades funcionais de um órgão ou de um sistema, explica a médica, que não necessariamente fecham em algum diagnóstico. No caso das condições mentais, esses problemas acabam prejudicando as funções do sistema nervoso central e é preciso entender o que vem causando este desequilíbrio químico.
Transtorno - Por fim, "os transtornos mentais são uma síndrome caracterizada por perturbação clinicamente significativa na cognição, na regulação emocional ou no comportamento de um indivíduo que reflete uma disfunção nos processos psicológicos, biológicos ou de desenvolvimento do funcionamento mental. São associados a sofrimento e incapacidade significativa que afetam atividades sociais, profissionais e outras", completa.
A médica explica ainda que os transtornos mentais têm causas diversas, desde a predisposição genética, doenças clínicas associadas, uso de substâncias, múltiplos traumas durante a vida, até a privação de sono, pressão no trabalho, conflitos familiares, ou ainda cenários de incertezas, como a pandemia da COVID-19. Eles podem ser, por exemplo, ansiedade, depressão, TOC (transtorno obsessivo compulsivo), TAG (transtorno de ansiedade generalizada), entre outros.
Níveis de gravidade
Dra. Polonio explica que todos os transtornos psiquiátricos contam com especificadores que podem ser divididos nas categorias leve, grave ou moderado, e que isso faz com que o diagnóstico de pessoas diferentes gerem também diferentes graus de sofrimento e incapacidade.
"O desfecho mais grave, a que devemos sempre estar atentos, é quanto ao risco do paciente cometer suicídio, e sobre esse quadro, os principais transtornos sobre os quais precisamos nos atentar são os de humor, como depressão e transtorno bipolar, seguido de esquizofrenia, transtornos de personalidade e, por fim, usuários de drogas e álcool", alerta a profissional.
Felizmente, todos esses quadros contam com tratamentos bem estabelecidos, mas existem empecilhos que podem prejudicar esse processo, como a dificuldade de acesso a bons serviços de saúde, a falta de acompanhamento multidisciplinar e pouco apoio familiar e social durante os períodos mais críticos da doença. Segundo a médica, as síndromes mais raras se relacionam a sintomas que se encaixam na psicose (transtorno mental que altera a percepção das pessoas em relação às coisas, acontecimentos e pessoas que a cercam).
Cura e tratamento
Grande parte dos transtornos mentais são crônicos, como conta a psiquiatra. Por isso, os tratamentos, que têm duração mínima de um ano, devem fazer efeito sobre os sintomas que estão acontecendo no presente e também pensando em evitar recorrências futuras. Muitos desses tratamentos, no entanto, acabam durando a vida inteira.
A maioria dessas doenças apresenta uma boa resposta ao tratamento, que consiste em acompanhamento psiquiátrico e multidisciplinar com medicações. No entanto, há ainda a possibilidade de incrementar o processo com o acompanhamento psicológico, nutricional, com terapeutas ocupacionais e educadores físicos, por exemplo, que podem melhorar — e muito — a qualidade de vida do paciente junto aos sintomas. "Pois mais do que extinguir os sintomas, o objetivo do tratamento, sempre que possível, é retornar a funcionalidade anterior, ou seja, voltar ao trabalho, às atividades de lazer e a ter uma boa rede de relacionamentos saudáveis", complementa.
Existem alguns casos, como a esquizofrenia refratária (ou resistente) ao tratamento e depressões graves, em que psiquiatras podem recomendar ainda tratamentos específicos, como a neuromodulação magnética transcraniada e eletroconvulsoterapia, que é feita sob anestesia em centro cirúrgico, como conta a médica, revelando que até mesmo gestantes podem receber.
No Brasil, os tratamentos evoluíram com rapidez, segundo Polonio. Ela conta que houve uma grande mudança nos tratamentos no final da década de 1980 com a chegada de medicamentos de boa eficácia. Esses remédios trouxeram uma boa tolerância para o paciente, com poucos efeitos colaterais em comparação com os anteriores.
"Isso melhorou muito a adesão aos tratamentos. Após esse período, com frequência surgem novas opções de fármacos que possuem esse perfil de tolerabilidade. Nessa época também surgiram algumas psicoterapias que se propuseram a ter forte embasamento científico, como é o caso da TCC (Terapia Cognitiva Comportamental) e o EMDR (Dessensibilização e processamento por meio de movimentos oculares)", completa a médica.