Dietas anti-inflamatórias bombam muito no TikTok — mas será que funcionam mesmo?
Por Nathan Vieira • Editado por Melissa Cruz Cossetti |

Nos últimos meses, vídeos sobre dietas anti-inflamatórias viralizaram no TikTok. As promessas parecem tentadoras: cortar laticínios, abandonar o glúten, nunca mais encostar em açúcar. Segundo os criadores de conteúdo, seguir essas regras ajudaria a emagrecer, acabar com o inchaço e transformar a saúde. Mas há um detalhe importante: grande parte dessas dicas vem de pessoas sem formação em nutrição ou medicina, que se baseiam em pesquisas isoladas ou “achismos”.
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Em artigo publicado no The Conversation, Lauren Ball, professora da University of Queensland, e Emily Burch, nutricionista e professora da Southern Cross University, revelam que a ciência por trás da alimentação anti-inflamatória é bem mais complexa e menos restritiva do que os vídeos fazem parecer.
O que é inflamação?
Primeiro, vale entender que a inflamação é um processo natural do corpo. Ela ajuda na recuperação de lesões, no combate a infecções e na defesa contra doenças. Esse processo pode ser agudo (curto e benéfico, como a vermelhidão de um corte cicatrizando) ou crônico (baixo nível e persistente, associado a doenças como diabetes tipo 2, câncer e problemas cardíacos).
O grande problema não está na inflamação passageira, mas sim naquela de longo prazo, silenciosa e prejudicial. E é justamente aí que a alimentação entra em cena.
O papel da alimentação
Segundo as especialistas, uma dieta rica em ultraprocessados, refrigerantes, carnes processadas, doces e pobre em frutas e vegetais está associada a maiores níveis de inflamação.
Por outro lado, padrões alimentares equilibrados são relacionados a níveis mais baixos de inflamação. Esse estilo de alimentação é baseado em frutas, verduras, legumes, grãos integrais, leguminosas, azeite de oliva, oleaginosas e consumo moderado de peixes, aves e laticínios. Açúcares adicionados e carnes processadas aparecem em quantidades mínimas.
Onde o TikTok acerta… e erra
Alguns pontos levantados nos vídeos fazem sentido. Por exemplo, há indícios de que probióticos (presentes em iogurte, kefir e alguns suplementos) ajudam a reduzir marcadores inflamatórios no sangue.
Mas os equívocos são muitos. As famosas listas de “proibições”, como excluir glúten e laticínios, não têm respaldo científico para a população em geral. Só pessoas com condições específicas, como doença celíaca ou alergias, precisam de restrições tão drásticas.
Laticínios fermentados podem até ter efeito protetor contra inflamação, e os grãos integrais são fonte de fibras que beneficiam o intestino e reduzem riscos de doenças crônicas.
Para pessoas saudáveis, não é preciso cortar grupos inteiros de alimentos. O foco deve estar em variedade, equilíbrio e comida de verdade: muitas cores no prato, fibras, azeite, oleaginosas e pouco ultraprocessado. Então as dietas anti-inflamatórias realmente têm base científica, mas não da forma simplificada (e muitas vezes alarmista) que circula no TikTok.
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Fonte: The Conversation