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COVID-19 | Tudo o que você precisa saber sobre as variantes do coronavírus

Por| 22 de Fevereiro de 2021 às 15h00

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outsideclick/Pixabay
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Como todo organismo, os vírus buscam se proliferar e, nesse processo, se modificam geneticamente. Fora da vida microscópica, a "evolução" também é vivenciada pelos animais e pelas plantas. A diferença é que, em organismos menos complexos e com um tempo de vida mais curto, as mudanças tendem a ser mais rápidas, como é o caso do novo coronavírus (SARS-CoV-2). Para descrever essas variações, inúmeros termos são usados —  como variante, cepa, mutação e linhagem — e podem gerar confusão sobre o que, de fato, significam. 

Com a pandemia da COVID-19, é provável que nunca tantos pesquisadores tenham se debruçado com tanto esmero sobre um tema específico e nem tanto dinheiro tenha sido investido em um único propósito: compreender e controlar a transmissão do novo coronavírus. Nesse ponto, mutações (as mudanças) do agente infeccioso são acompanhadas, de perto, junto à formação de novas linhagens. Nos últimos dias, por exemplo, um pesquisador norte-americano identificou uma nova variante, na Califórnia, formada a partir da fusão de duas anteriores.  

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Para entender o que significam novas mutações, variantes e linhagens do coronavírus, o Canaltech conversou o Dr. Josélio de Araújo, microbiologista e professor de virologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Além disso, o pesquisador traçou um panorama sobre o status brasileiro no combate à COVID-19. 

Na trilha do coronavírus

Entender o surgimento de mutações e variações do coronavírus só é possível através de pesquisas genéticas, feitas a partir de amostras coletadas de pacientes diagnosticados com a COVID-19. Em outras palavras, pesquisadores coletam o coronavírus, que circula no corpo de alguns pacientes, e investigam como ele é e o que eventuais mudanças na sua estrutura viral podem representar.    

“O que chama a atenção na pandemia da COVID-19 é a quantidade de genomas virais que foram sequenciados. Isso é sem precedentes. Nunca se sequenciou tanto um vírus, como estamos sequenciando atualmente", afirma Josélio de Araújo.  "Talvez, seja 10 vezes mais do que o número que se tem para o HIV e outros vírus", comenta.

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"Nós conhecemos o vírus há pouco tempo e centenas de variantes já foram identificadas", explica Araújo sobre o mecanismo que permitiu a melhor compreensão do coronavírus. No caso brasileiro, um levantamento organizado pela Rede Genômica Fiocruz, liderado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), aponta que mais de 3,6 mil genomas do coronavírus foram sequenciados no país até a última sexta-feira (19). 

O que são mutações do coronavírus? 

“As mutações fazem parte do processo natural de evolução viral. Todos os organismos, microorganismos e vírus estão em constante mutação. No caso dos vírus, essas mutações ocorrem dentro das células, durante o processo de replicação", define o professor Araújo. Nesse aspecto, se as mutações ocorrem durante a reprodução do agente infeccioso, quanto mais ele se espalha, maiores são as chances delas acontecerem. No entanto, as mutações podem ser tanto vantajosas quanto desvantajosas.

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"Quando ocorrem mutações em genes que codificam proteínas, como a da espícula viral [o spike do coronavírus], algumas podem alterar a estrutura dessa glicoproteína [a espícula]. Como essa glicoproteína interage com o receptor celular, a mutação pode favorecer a ligação do vírus na célula e, assim, favorecer a transmissibilidade", explica o pesquisador sobre o caso de uma mutação positiva do coronavírus. Afinal, neste caso, o vírus poderá contaminar células saudáveis com maior eficácia, como se suspeita da mutação N501Y.

Variantes, cepas e linhagens

Para entender, a mutação é uma mudança que ocorre, de forma aleatória, no material genético de um vírus. Já uma variante surge quando essa mutação se fixa neste agente infeccioso, ou seja, começa a se espalhar e se torna, literalmente, uma variante do original.

Agora, a linhagem é um conjunto de variantes que descendem do vírus original (em biologia, o ancestral comum), em que as mutações podem se acumular. Por exemplo, a primeira variante tinha mutação X, depois, uma segunda variante com o X ganhou o Y, por exemplo. 

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Além disso, a cepa é uma variante ou um grupo de variantes de uma linhagem diferente da identificada originalmente. No entanto, o termo cepa vale tanto para vírus mutados de linhagens diferentes quanto da mesma. A questão que o define é a variabilidade genética.

Questão das variantes

“Devido à quantidade de informação sobre genomas do coronavírus, estamos enxergando melhor a variabilidade genética, que chamamos de linhagens e, até mesmo nessas diferentes linhagens, existem algumas variantes. Foi o que ocorreu na linhagem B.1.1.28 [originada na Europa] que evoluiu e gerou diferentes variantes, como a P.1 [variante identificada pela primeira vez no Amazonas]", ilustra o professor Araújo.

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Quanto a essa variante do estado do Amazonas, ela "esteve associada ao aumento de casos em Manaus. Claro, sabemos que ocorreu, na capital, não é consequência somente da evolução viral. Existem outros fatores que contribuíram para a gravidade da situação na capital, como as aglomerações, enfim, o comportamento social", explica. No entanto, "existe uma hipótese de que essa linhagem esteja associada a uma maior transmissibilidade. Ainda é necessário sequenciar mais vírus e acompanhar essa variante ao longo do tempo, porque estamos falando de poucos meses", comenta Araújo sobre a hipótese.

“Outra variante que está chamando a atenção é a P.2, do Rio de Janeiro. Essa variante já está circulando em vários outros estados, inclusive no Nordeste, como na Paraíba, em Alagoas, na Bahia", ressalta Araújo sobre a variante com a mesma linhagem da de Manaus. "Precisamos entender muito bem o papel dessas linhagens em relação ao aumento da gravidade da COVID-19, se essas linhagens estão realmente associadas a uma maior transmissibilidade e se essas variantes vão interferir na eficácia da vacina", aponta o pesquisador. 

“Precisamos investir cada vez mais no sequenciamento no Brasil. Precisamos fazer essa vigilância epidemiológica mais forte e, somente, com isso, vamos achar as variantes que ainda estão ocultas", defende o virologista Araújo. “Certamente, temos variantes não identificadas no país. Existe uma quantidade de variantes desconhecidas devido a nossa limitação de sequenciar. Sequenciamos e monitoramos, mas precisamos fortalecer essas pesquisas. Investir mais nos laboratórios de virologia, de referência e das universidades", aponta o professor.

Onde acompanhar a circulação nacional?

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Para agrupar as análises brasileiras sobre os genomas do coronavírus, a Rede Genômica Fiocruz compartilha de forma colaborativa levantamentos sobre as descobertas e gráficos (como os adotados ao longo do texto), detalhando a variabilidade genética do coronavírus dentro do território nacional. Nesta iniciativa, colaboram pesquisadores de diversos institutos da Fiocruz, como o Instituto Carlos Chagas e o Instituto Aggeu Magalhães.

Para acessar os levantamentos elaborados pela Fiocruz sobre as diferentes variantes do coronavírus e já encontradas no país e em cada estado, clique aqui.