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COVID-19 no BR: efeitos colaterais interrompem parte de estudo sobre cloroquina

Por| 14 de Abril de 2020 às 18h15

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HeungSoon/Pixabay
HeungSoon/Pixabay

Na busca por confirmações sobre os efeitos da cloroquina no tratamento de pacientes com o novo coronavírus (SARS-CoV-2), muitos estudos estão em fase de desenvolvimento no Brasil e no mundo. Entre eles, está o CloroCovid-19, liderado pelo pesquisador Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda, do Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Amazônia) e médico infectologista da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD).

Uma etapa do estudo brasileiro sobre o medicamento, que contava com 81 pacientes sob o uso de cloroquina em altas e baixas dosagens, teve de ser interrompida por motivos de segurança. Segundo o preprintpublicado no medRxiv, após o uso de uma dosagem alta de cloroquina, conforme orientado por pesquisadores chineses, os pacientes diagnosticados com a COVID-19 desenvolverem batimentos cardíacos irregulares e apresentaram maior risco de apresentar arritmias cardíacas potencialmente fatais.

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Como foi o estudo?

Repeitando a posologia da China, esse estudo brasileiro predefiniu uma amostragem de 440 pacientes, sendo que nesta etapa englobou 81 deles, todos hospitalizados em decorrência da COVID-19 na cidade de Manaus, no estado do Amazonas, que foram tratados com a cloroquina em associação ao antibiótico azitromicina.

Mesmo com o baixo número de participantes desta etapa, o estudo forneceu evidências de que a cloroquina e a hidroxicloroquina — medicamentos usados no tratamento da malária — podem causar danos significativos e até irreversíveis a alguns pacientes, especialmente o risco de arritmia cardíaca fatal.

Do grupo, metade dos participantes (40) recebeu uma dose menor, de 450 miligramas de cloroquina, duas vezes ao dia no primeiro dia, e posteriormente uma vez por mais quatro dias. Já a outra metade (41) recebeu uma dose maior, de 600 miligramas, duas vezes por dia, por 10 dias. No terceiro dia, os médicos envolvidos notaram arritmias cardíacas em pacientes que tomavam a dose mais alta do medicamento.

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Já no sexto dia, 11 pacientes, do total, foram a óbito — e a partir de então o estudo teve de ser interrompido por questões de segurança. A partir desses resultados preliminares e com base em dados da literatura científica, os pesquisadores brasileiros concluem que dosagens mais altas de cloroquina não devem ser recomendadas para o tratamento com COVID-19. Os 12 gramas de cloroquina, divididos em duas ministrações por 10 dias, são fortemente contraindicados pelos autores da pesquisa, já que induziram à diminuição dos níveis de hemoglobina no sangue (25%), reações adversas cardíacas severas (25%) e taquicardia (7,1%).

"Os resultados preliminares sugerem que a dosagem mais alta de CQ [coloroquina] (regime de 10 dias) não deve ser recomendada para o tratamento da COVID-19, devido aos seus potenciais riscos à segurança. Tais resultados nos forçaram a interromper prematuramente o recrutamento de pacientes para este braço", diz o estudo.

Quanto aos possíveis benefícios de menores doses de cloroquina administradas a pacientes com a COVID-19, os pesquisadores explicam que o estudo não teve pacientes suficientes, na porção de dose mais baixa, para concluir se a cloroquina é eficaz em doentes com quadro grave. Para isso, mais estudos são necessários.

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Impactos

"A alta dosagem que os chineses estavam usando é muito tóxica e mata mais pacientes", afirma o Dr. Marcus Lacerda, um dos autores do estudo, para o jornal The New York Times. Lacerda ainda esclarece que "essa é a razão pela qual este ramo do estudo foi interrompido mais cedo".

Para o Canaltech, a pesquisadora Natalia Pasternak, PhD, com pós-doutorado em Microbiologia e criadora do Instituto Questão de Ciência (IQS), explica: "O que eles [os pesquisadores de Manaus] perceberam é que a dose maior, que é a dose recomendada pelos estudos franceses e chineses, é uma dose extremamente tóxica. Tão tóxica que eles tiveram que parar os testes antes da conclusão, porque eles perceberam o risco cardíaco grave e os efeitos adversos cardíacos que os pacientes estavam sofrendo".

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Fonte: The New York Times e DW