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COVID-19: imunidade pode durar anos, segundo novo e complexo estudo

Por| 19 de Novembro de 2020 às 20h20

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Viktor Forgacs/Unsplash
Viktor Forgacs/Unsplash

Para os pesquisadores especializados em COVID-19, a imunidade ainda é uma das grandes questões que envolve o coronavírus SARS-CoV-2. Agora, o maior estudo já realizado sobre o tema aponta que as defesas do organismo contra o vírus da COVID-19 permanecem robustas por até oito meses depois da infecção. Somente em seguida é que essa proteção começa a declinar, mas de forma lenta, de acordo com análise feita por pesquisadores de diferentes institutos norte-americanos.

“Esta quantidade de memória [imunológica contra o coronavírus] provavelmente evitará, durante muitos anos, que a grande maioria das pessoas sofra um caso da COVID-19 grave que exija hospitalização”, afirma um dos principais autores da pesquisa, o médico e imunologista norte-americano Shane Crotty, para o jornal The New York Times.

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“As pessoas estavam começando a dizer que os anticorpos desapareciam, que as defesas não durariam tanto, que seria preciso revacinar. Pois parece que não. O lógico é que a resposta dure e proteja”, comenta Marcos López Hoyos, presidente da Sociedade Espanhola de Imunologia, para o jornal El País.

Embora animadores, os resultados sobre a imunidade de pacientes que se recuperaram da COVID-19 ainda são preliminares. O estudo foi publicado na plataforma bioRxiv, mas ainda aguarda revisão de outros pesquisadores.  

Estudo sobre imunidade da COVID-19

Até o momento, a maioria dos estudos sobre imunidade avaliavam a presença de anticorpos contra a COVID-19 e, de certa forma, era esperado que o número deles reduzissem ao longo das semanas de recuperação. De maneira inédita, o estudo avaliou os quatro principais componentes da memória imunológica contra o coronavírus: os anticorpos neutralizantes (proteínas que se unem ao coronavírus e o inutilizam); os linfócitos B (fábricas de anticorpos); e dois tipos linfócitos T (responsáveis por destruir as células já contaminadas).

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Para isso, foram investigadas amostras de 185 pacientes nos EUA, com idades entre 19 e 81 anos. Depois de cinco meses de acompanhamento, 90% dos pacientes ainda apresentavam pelo menos três componentes dessa memória imunológica contra o coronavírus. Com essa análise, é possível pressupor que a proteção pós-infecção “poderia durar anos”, aponta Hoyos.

Após infecções de outros coronavírus, os pesquisadores já observavam a capacidade do organismo em oferecer uma resposta imune duradoura. Entre eles, está o vírus da síndrome respiratória aguda grave (SARS), que surgiu na China em 2020.

Entretanto, a imunologista Carmen Cámara, do hospital La Paz, de Madri, pede cautela com os resultados, já que anida não é possível assegurar uma imunidade tão duradoura, apenas supor. “Passaram-se 11 meses e parece que a imunidade aguenta, porque as reinfecções que estão sendo comunicadas são absolutamente pontuais. Então sabemos que 11 meses ela dura. Quanto mais durará? Teremos que ver”, pondera Cámara. De maneira direta, a imunologista explica: "Para confirmar que a memória imunológica dure 10 anos, será preciso esperar 10 anos".

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Análise dos linfócitos B na imunidade

Outro destaque do novo estudo sobre a imunidade contra o coronavírus é que este é um dos poucos a analisar os linfócitos B de memória. Isso porque eles são, literalmente, as fábricas de anticorpos específicos do organismo e também possuem capacidade de lembrar da "receita" contra o invasor. Dessa forma, a queda do número de anticorpos contra o coronavírus, dificilmente, seria um problema, já que novos poderiam ser produzidos.

Por outro lado, a pesquisa norte-americana demonstra que os linfócitos B específicos contra o coronavírus aumentam ao longo do tempo. “Pode ser que estas células se autorregulem quando começa a haver menos anticorpos. Se você vir que as balas estão acabando, tem que começar a abrir as fábricas de armas”, reflete a imunologista. No caso da varíola, por exemplo, esses linfócitos podem durar por até 60 anos depois da vacinação, segundo estudos da área.

Dentro da pesquisa, os autores destacam que há uma enorme variabilidade entre as pessoas e, por isso, as respostas imunológicas são diferentes. Nesse sentido, é importante lembrar que há casos documentados de reinfecção pelo vírus da COVID-19, mas não são regra e, sim, exceção. Uma das explicações, segundo os cientistas, é que uma baixa carga viral no momento da infecção poderia ajudar a explicar este fenômeno de perda rápida de imunidade.

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Para acessar o preprint do estudo, publicado no bioRxiv, clique aqui.

Fonte: El País