COVID-19: com mutação, médicos relatam casos mais graves em jovens no Amazonas
Por Nathan Vieira | 19 de Janeiro de 2021 às 17h00
A COVID-19 tem sido um verdadeiro enigma a ser decifrado dia após dia pela medicina. E quando se menos espera, informações novas surgem com mutações e novos desdobramentos relacionados ao coronavírus. Foi o que aconteceu no Amazonas, nos últimos dias. Médicos relataram uma nova variedade do SARS-CoV-2, causador da COVID-19, com maior transmissibilidade causada por mutações no vírus, o que vem levando mais jovens à morte.
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"Algo de muito diferente está ocorrendo em Manaus. Não sei informar se é uma cepa nova ou se é algo diferente. Mas quem está na linha de frente está vendo um aumento da gravidade dos casos", declarou o infectologista e pesquisador Noaldo Lucena em entrevista ao UOL. Ele relata que em exames mais recentes de pacientes há lesões mais graves nos pulmões, e que neste ano, já viu mais 150 pessoas na clínica onde trabalha e mais 300 no serviço público, sendo que 2% deles tinham comprometimento leve e os demais eram comprometidos acima de 50%. O médico relembra que alguns tinham comprometimento de 70%, 80% e até mesmo 90%, com necessidade de internação imediata e suporte ventilatório.
A nova forma da doença ainda traz sintomas mais imperceptíveis para exame clínico e mortalidade de pessoas mais jovens. Dentre 710 óbitos registrados no Amazonas, 285 eram de pessoas com menos de 60 anos, o equivalente a 40,1%, sendo que antes o percentual era de 36,5% nesta faixa. Para a infectologista Silvia Leopoldina, isso está em todas as faixas etárias, atingindo bebês, crianças, adolescentes mesmo sem comorbidade. Ela também relatou mudanças no comportamento da doença.
No início do mês, pesquisas em andamento na Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) Amazônia apontaram a nova variante. Os dados mostram que a linhagem B.1.1.28, que está presente em todo o país e que é a mais frequente no Amazonas, sofreu uma série de mudanças.
Segundo um artigo ainda não revisado por outros pesquisadores e publicado no site Virological.Org, os pesquisadores também verificaram que essa cepa estava presente em 42% dos pacientes contaminados com o coronavírus e testados na capital amazonense. “A nova linhagem, denominada P.1, foi identificada em 13 das 31 das amostras positivas para o teste de RT-PCR coletadas entre 15 e 23 de dezembro de 2020, ou seja, em 42% dos pacientes testados”, explicou na ocasião Ingra Morales Claro, pesquisadora do IMT e da FMUSP, uma das autoras do artigo.