Coronavírus: estudo polêmico com hidroxicloroquina é retirado do ar
Por Fidel Forato |
Como anunciamos nesta semana, o estudo que desencoraja uso de hidroxicloroquina para o tratamento de infecções do novo coronavírus (SARS-CoV-2) estava na mira de investigações por conta de supostas irregularidades. A controvérsia estava ligada a confiabilidade da bases de dados utilizada pelos cientistas, que alegavam investigar mais de 96 mil pacientes. Hoje, o estudo publicado na revista britânica The Lancet foi removido do ar, por iniciativa de três dos seus quatro autores.
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O estudo publicado em 22 de maio na revista havia concluído que o uso da cloroquina ou da hidroxicloroquina em pacientes com a COVID-19, mesmo quando associados a macrolídeos (antibióticos), aumentava os riscos de óbito e de arritmia cardíaca nos infectados.
Entenda o problema
Os três autores do estudo, Mandeep Mehra, Frank Ruschitza e Amit Patel, afirmam que não conseguiram concluir uma auditoria independente dos dados que sustentam sua análise publicada na revista. E como resposta a essa impossibilidade de verificação, concluíram que "não podem mais garantir a veracidade das fontes de dados primárias". Em outras palavras, os resultados são questionáveis, se não se garante a que seus dados são confiáveis.
"Sempre desejamos realizar nossa pesquisa de acordo com as mais altas diretrizes éticas e profissionais. Nunca podemos nos esquecer da responsabilidade que temos, como pesquisadores, de garantir escrupulosamente que nós nos calçamos em bases de dados que aderem aos nossos altos padrões. Com base nesse desenvolvimento, não podemos mais garantir a veracidade das fontes de dados primárias. Devido a esse desenvolvimento infeliz, os autores solicitam a retirada do artigo", escreveram os três, em nota de retratação publicada pela própria revista.
"Todos nós entramos nessa colaboração para contribuir de boa-fé e em um momento de grande necessidade durante a pandemia de COVID-19. Lamentamos profundamente a vocês, editores e leitores da revista por qualquer constrangimento ou inconveniência que isso possa ter causado", concluem.
Ainda no texto, a revista científica esclareceu que "leva a sério as questões de integridade científica, e há muitas questões pendentes sobre a Surgisphere [empresa por trás dos dados cedidos aos pesquisadores] e os dados que supostamente foram incluídos neste estudo. Seguindo as diretrizes do Comitê de Ética em Publicações (COPE) e do Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas (ICMJE), análises institucionais das colaborações de pesquisa da Surgisphere são urgentemente necessárias".
Fonte: The Lancet via Estadão