Corações "reanimados" podem ajudar a reduzir fila de transplantes
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
No Brasil, há mais de 39 mil brasileiros aguardando por um transplante de órgão, segundo o Sistema Nacional de Transplantes (SNT), coordenado pelo Ministério da Saúde. Desse total, são 369 pessoas na lista de espera por um coração, órgão considerado de difícil obtenção. Para reverter a dificuldade, cientistas e médicos norte-americanos atestam a eficácia de uma nova técnica que deve facilitar o tratamento de pacientes cardíacos em todo o mundo, sem envolver o uso de animais de criação, como porcos.
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A estratégia para recuperar corações que não estariam aptos para doação e nem para transplantes foi descrita na revista científica New England Journal of Medicine (NEJM). Segundo os autores, a abordagem pode aumentar o número de doadores em pelo menos 30%, salvando centenas de vidas.
Como é feita a doação de coração?
No Brasil e no mundo, a maioria dos transplantes de coração são feitos a partir de pacientes que sofreram uma morte cerebral. Em outras palavras, o indivíduo é declarado morto antes do coração parar de pulsar. Com isso, o órgão tende ser removido, sem qualquer dano provocado pela falta de oxigênio.
A questão é que esse tipo de doação é bastante específico e desconsidera outros grupos potenciais de pacientes, como aqueles que sofreram morte circulatória (DMC). Nesses casos, o coração precisa ser reanimado, já que parou de bater no momento do óbito.
Para órgãos menos complexos, como rins, é mais recorrente o reaproveitamento em casos de DMC, mas está longe de ser uma regra para o coração, considerado mais frágil. Aqui, o problema recorrente é que as lesões causadas pela falta de oxigênio podem ser irreversíveis, deixando o coração irrecuperável.
Nova técnica pode ampliar doações de coração
A proposta dos médicos é obter os corações de pacientes que sofreram uma morte circulatória e, imediatamente, colocá-los em uma máquina capaz de reanimar o órgão. Trata-se de uma máquina de perfusão extracorpórea, desenvolvida pela empresa TransMedics.
O equipamento, que tem um alto custo de aquisição, é responsável por bombear sangue rico em oxigênio e muitos nutrientes para o coração da pessoa falecida. Durante todo o processo, o órgão é mantido aquecido. Nos testes iniciais, a estratégia demonstrou ser bastante eficaz na recuperação.
No atual estudo, os pesquisadores compararam a taxa de sobrevivência entre os indivíduos que receberam um coração obtido após a morte encefálica e os que foram transplantados com o órgão proveniente de um caso de morte circulatória.
Entre os 166 recrutados nos EUA, os autores descobriram que a taxa de sobrevivência após seis meses do transplante era equivalente. No grupo que recebeu um coração proveniente da morte cerebral (86 pessoas), esta taxa foi estimada em 90%. Agora, no grupo da morte circulatória, a porcentagem chegou a 94% dos 80 participantes.
A pesquisa é bastante promissora e, com mais estudos validando o seu método de recuperação dos órgãos, poderá se tornar amplamente popular, reduzindo as filas de transplantes em todo o mundo e salvando muitas vidas.
Em paralelo, outros pesquisadores buscam zerar a lista de espera através de outras técnicas, como os xenotransplantes — é o transplante entre as espécies. No Brasil, a expectativa é que isso ocorra até 2025, usando órgãos de porcos, mas ainda existem inúmeras questões científicas e éticas a serem debatidas.
Fonte: Ministério da Saúde, NEJM e AP News