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Como um peixe de aquário pode ajudar na luta contra a COVID-19?

Por| 30 de Novembro de 2020 às 14h20

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Petr Kuznetsov/ Pixabay
Petr Kuznetsov/ Pixabay

Pode parecer curioso, mas pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) investigam as possibilidades do zebrafish, também conhecido como peixe paulistinha, ajudar no estudo de vacinas contra a COVID-19. Por trás da iniciativa, a ideia é que o peixe seja uma cobaia para se verificar a segurança de imunizantes contra o novo coronavírus (SARS-CoV-2). Inclusive, está no radar de testes com a vacina de Oxford.

Segundo o preprint — estudo ainda não revisado — publicado na plataforma BioRxiv, a alternativa desta cobaia é viável, já que o peixe paulistinha pode produzir anticorpos após receber a dose de uma vacina. Para comprovar o palpite, os próprios pesquisadores desenvolveram um imunizante específico para a testagem, que continha a proteína espinhosa (ou espícula) da membrana do coronavírus.

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Vale ressaltar que o uso da proteína para desencadear a imunidade é a mesma estratégia adotada pela maioria das vacinas em testes contra a COVID-19. Outra curiosidade do estudo é que o peixe apresentou reações semelhantes aos casos graves da doença em humanos, quando se avaliou a resposta imune contra o vírus.

Peixe paulistinha contra a COVID-19

A iniciativa é liderada pelo pesquisador Ives Charlie Silva, do Departamento de Farmacologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, e começou muito antes do aparecimento da COVID-19. Isso porque Silva trabalhava com o peixe paulistinha em estudos sobre a toxicidade de drogas anticâncer. “Aproveitamos nossa expertise com o zebrafish para tentar desenvolver algo para a população. Então, o laboratório mudou um pouco o foco para estudar a COVID-19”, comenta o pós-doutorando ao Jornal da USP. 

Agora, o objetivo principal foi avaliar a segurança de testes com vacinas contra a COVID-19, a partir de análises do sistema imunológico do peixe. “O objetivo é fazer testes no zebrafish para tentar produzir uma vacina que não seja prejudicial para o ser humano e que não vá causar uma resposta indesejada”, explica o pesquisador. Em outras palavras, a ideia é adotar o peixe como modelo para a previsão de reações adversas de eventuais imunizantes.

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De acordo com o pesquisador, dessa forma, é possível melhorar o desenvolvimento de vacinas para que cheguem, em um estágio mais seguro, até o ser humano — com algumas validações iniciais. No entanto, não é novidade que esses testes pré-clínicos aconteçam em animais. Nesse sentido, camundongos e primatas são bastante usados em pesquisas.

Só que o pesquisador ressalta a importância que a eventual adoção do paulistinha nos testes de vacinas representaria. “Por ter apenas 5 centímetros, o peixe paulistinha diminui os custos, além de apresentar respostas mais rápidas e mais próximas ao ser humano”, exemplifica.

Peixes vacinados contra o coronavírus

Após a vacinação dos peixes paulistinhas, os pesquisadores observaram que o animal desenvolveu imunidade humoral, ou seja, produziu anticorpos em um período que variou de sete até 14 dias. Além da produção de anticorpos — um importante indicador de imunidade —, foram observadas reações adversas, sendo que algumas foram bastante parecidas com sintomas apresentados por pessoas que tiveram casos graves da COVID-19.

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“Observamos trombose, lesão renal, e até alguns animais morreram. Além disso, houve aumento das células inflamatórias e efeitos neurológicos”, detalha o pesquisador da USP. Para analisar os efeitos adversos, foram observados os órgãos do peixinho através de análises histológicas, ou seja, dos tecidos, em microscópio. 

Agora, o grupo de cientistas testará a vacina de Oxford, desenvolvida em parceria com a farmacêutica AstraZeneca, em modelos de peixe paulistinha a partir de uma parceria colaborativa com o Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro.

Para acessar o preprint, disponibilizado na plataforma BioRxiv, clique aqui.

Fonte: Jornal da USP