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Como o Google Trends pode ajudar especialistas a prever focos de COVID-19?
Já imaginou o que seu histórico de buscas no Google pode dizer sobre você? Agora, pense no que uma ferramenta que analisa tendências dos buscadores, como o Google Trends, pode informar sobre um grupo de pessoas. A partir desses dados de pesquisa, estudo da Mayo Clinic — uma organização norte-americana sem fins lucrativos e de pesquisa na área da saúde — verificou a possibilidade de prever a disseminação da COVID-19 em regiões dos Estados Unidos. Dessa forma, esta seria mais uma ferramenta para a saúde pública.
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Segundo o estudo publicado na Mayo Clinic Proceedings, fortes correlações foram encontradas entre pesquisas por palavras-chave no Google Trends e os surtos de COVID-19 em partes dos EUA. O mais curioso é que essas correlações foram observadas até 16 dias antes dos primeiros casos relatados no novo coronavírus (SASR-CoV-2) em alguns estados, durante o início da epidemia entre os meses de janeiro e abril deste ano.

“O nosso estudo demonstra que há informações no Google Trends que precedem surtos, e, com as análises preditivas, esses dados podem ser usados para alocar melhor os recursos dedicados a testes, equipamentos de proteção individual, medicamentos e muito mais”, afirma o Dr. Mohamad Bydon, neurocirurgião da Mayo Clinic e envolvido no projeto de análise de tendências.
Google Trends e histórico de doenças
“A equipe de neuroinformática foca [em períodos "normais"] nas análises de doenças neurais e neurociência. Porém, quando o novo coronavírus surgiu, minha equipe e eu direcionamos os recursos visando entender melhor e monitorar a disseminação da pandemia”, comenta Bydon. “Ao analisar os dados do Google Trends, descobrimos que éramos capazes de identificar preditores de pontos de foco através de palavras-chave que apareciam no decorrer de um período de seis semanas”, explica o médico.
Além desse caso relacionado ao coronavírus, outros estudos já identificaram o papel da análise de buscas em navegadores para a previsão precoce de surtos. Análises como essa foram buscadas durante a pandemia da H1N1 e a epidemia da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (SARS). No entanto, sistemas públicos de saúde ainda não adotam essa forma de vigilância em massa, mesmo que possa salvar vidas.
Pesquisas sobre a COVID-19 no Google
Para entender como a COVID-19 chegava a regiões nos EUA, o grupo pesquisou 10 palavras-chave que foram escolhidas com base em sua frequência de uso e padrões emergentes tanto na Internet quanto no Google Notícias. Entre elas, estavam: sintomas da COVID-19; sintomas de coronavírus; Dor de garganta+falta de ar+fadiga+tosse; centro de testes de coronavírus; perda do olfato; Lysol (famosa marca de produtos de limpeza e desinfecção); anticorpo; máscara facial; vacina do coronavírus; e subsídio para COVID-19.

A maioria das palavras-chave apresentou correlações — no estudo de probabilidades, são entendidas como relações estatísticas — em níveis moderados ou fortes dias antes de os primeiros casos da COVID-19 serem relatados na região. Após o primeiro caso, foi observado uma redução nas correlações com estes termos. Isso só foi possível porque o estudo também analisou o número diário de novos casos e óbitos, durante o mesmo período.
“Cada uma dessas palavras-chave teve um nível diferente de correlação com o número de casos”, aponta Bydon. “Se tivéssemos analisado 100 palavras-chave, talvez teríamos encontrado correlações ainda mais fortes com os casos. À medida que a pandemia progride, as pessoas vão pesquisando informações novas e diferentes e, portanto, os termos de pesquisa também precisam evoluir”, completa.
De olho no histórico de buscas
De acordo com as evidências encontradas, a vigilância de pesquisas em buscadores pode ser uma importante ferramenta para as equipes de ciência dos dados que tentam prever surtos e novos pontos de foco durante uma pandemia. “Qualquer atraso das informações pode levar a uma perda de oportunidades de aprimorar o preparo para um surto em um certo local”, defende Bydon.
A aposta é que essa análise seja usada de forma complementar à vigilância tradicional, como testagem em massa e relatórios de saúde pública. Afinal, entender tendências é importante, mas elas precisam ser confirmadas com os testes, de forma rápida. Além disso, relatórios de saúde atrasados ou incompletos podem levar a resultados insatisfatórios no combate a uma doença, como a COVID-19.
“Se esperarmos os pontos de foco surgirem na cobertura da imprensa, será tarde demais para responder de maneira eficaz”, lembra Bydon. Nesse sentido, o caminho para o controle eficiente da COVID-19 é agrupar elementos que apontam para a necessidade de mais recursos de testagem, como o resultado de buscas. “Em termos de prontidão nacional, essa é uma ótima forma de ajudar a entender onde os futuros pontos de foco surgirão”, explica o médico sobre o uso do Google Trends.
Para além desta pesquisa inicial, também foi desenvolvido um mapa para o monitoramento da COVID-19 que mostra os últimos casos e óbitos de todos os municípios norte-americanos. “A adição de variáveis, como os dados do Google Trends da equipe do Dr. Bydon, bem como outros indicadores principais, aumentaram bastante a nossa capacidade de prever surtos, platôs e declínios dos casos nas diversas regiões do país”, afirma o Dr. Henry Ting, diretor de valor da Mayo Clinic.
Para acessar o estudo sobre correlações entre casos da COVID-19 e dados do Google Trends, clique aqui.
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